
Turismo ajuda a inverter domínio dos centros comerciais no comércio retalhista
Cerca de 71% das novas aberturas em Portugal têm origem no mercado de rua nomeadamente High Street. A Avenida da Liberdade e Santa Catarina continuam a ser as principais artérias comerciais do país.
Dados recentes de um relatório desenvolvido pelas consultoras aRetail, empresa de consultoria imobiliária especializada na venda e arrendamento de espaços comerciais, e pela Gesvalt, empresa no sector da consultoria, avaliação e serviços técnicos, revelam que o aumento do turismo em Portugal pode ajudar a inverter a tendência de domínio dos centros comerciais no comércio retalhista.
O Relatório de Retalho do ano 2024, sector que registou um crescimento excepcional, com investimentos que ultrapassaram os 1.200 milhões de euros, o dobro do valor registado em 2023. Os especialistas apontam que o aumento do investimento em 2025 se situe nos 2000 milhões de euros, o que representa uma subida de 8%. No ano passado, as cidades de Lisboa e Porto reforçaram o seu papel como principais motores económicos e polos de atração para o investimento no setor do retalho em Portugal, acompanhados pelo crescimento do turismo urbano, e a transformação dos hábitos de consumo.
Lisboa, destaca-se por ter um dos rendimentos médios brutos mais elevados do país, que em 2024 rondou os 27.262 euros por ano. Do ponto de vista macroeconómico, a região gera cerca de 34% do PIB nacional, consolidando o seu papel de motor económico do país. Este peso traduz-se também na sua capacidade de atrair investimento estrangeiro, acolher multinacionais, start-ups e centros de inovação.
Retalho de rua está a ganhar cada vez mais quota de mercado
O comércio retalhista em Portugal tem sido tradicionalmente dominado pelos centros comerciais. No entanto, o turismo no país inverteu a situação, e o retalho de rua está a ganhar cada vez mais quota de mercado. No segmento do luxo assiste-se a uma aposta na recuperação de licenças a franchisados, para explorarem diretamente as lojas, um exemplo é a casa Dior. No mass market, a Praça do Rossio, Rua Augusta, Rua do Carmo e Rua Garrett ganharam protagonismo, e estão a receber novas lojas de marcas como Zara, Brownie, Pandora, Primor e New Balance.
O boom do turismo e a necessidade de proximidade das marcas têm potenciado o interesse pelo investimento. A Avenida da Liberdade tornou-se o alvo dos investidores estrangeiros, o que se reflete nas yields (mínima de 4,25% - máxima de 5%), posicionando a avenida num nível prime a par com outras cidades europeias. Dos 131 espaços comerciais apenas 7% estão por ocupar.
No Porto, o comércio de rua tem vivido uma fase de forte dinamismo, impulsionado pelo crescimento do turismo (com mais de 13 milhões de dormidas em 2024, o que representa um crescimento de 6,6%) e pela revitalização urbana. Este crescimento tem tido um impacto direto no setor do retalho, sobretudo nas duas principais artérias comerciais a Rua de Santa Catarina e a Avenida dos Aliados, que têm registado um aumento da afluência pedonal e vendas. As rendas prime no retalho atingiram €85/m²/mês em 2024, refletindo a crescente atração da cidade por investidores e operadores nacionais e internacionais. A futura abertura da Primark nos antigos espaços da C&A e Fnac simboliza a transformação.
Os Aliados e outras zonas de prestígio no Porto começam a atrair a atenção do segmento de luxo, embora ainda com uma presença limitada. Os investidores continuam a apostar em operações que envolvem a reabilitação de edifícios degradados para fins comerciais, especialmente em Santa Catarina. Na Avenida dos Aliados, a estratégia centra-se na conversão de imóveis em hotéis, com espaços comerciais no piso térreo. Entre as 102 lojas apenas 3% está por ocupar.
Este panorama reflete uma mudança estrutural no mercado português de retail, historicamente dominado pelos centros comerciais. O crescente apelo do comércio de rua, impulsionado pelo turismo, coloca Lisboa e Porto no mapa europeu dos investimentos mais atrativos em High Street Retail.
"Não se pode afirmar que o português já não seja um consumidor de shoppings. A realidade é que historicamente, o fenómeno dos centros comerciais, é tipicamente português. Nos meses após a pandemia, pensou-se que tudo se pudesse alterar, mas a realidade é que o consumidor português continua a recorrer muito ao centro comercial, cerca de 60%. No entanto, os turistas consomem mais no mercado de rua, e por isso essa modalidade tem ganhado terreno. Podemos indicar que cerca de 71% das novas aberturas em Portugal, têm origem no mercado de rua nomeadamente High Street", refere António Braz Managing Director da Gesvalt Portugal.