
Lisboa perdeu uma Feira Popular mas ganhou um Parque Verde em Carnide
Lisboa inaugurou este sábado o Parque Verde de Carnide. O espaço, com 17,5 hectares dedicados ao lazer, biodiversidade e actividades culturais, ocupa os terrenos onde durante anos esteve prevista a construção da nova Feira Popular, projecto que acabou abandonado.
Concebido como um espaço multifuncional e intergeracional, o parque pretende ser ponto de encontro para actividades culturais, desportivas e de lazer. “É um projecto que devolve a natureza à cidade, valoriza a biodiversidade, melhora a qualidade ambiental e aumenta a resiliência climática de Lisboa”, sublinha a Câmara Municipal.
A história do projecto remonta a 2015, quando o então presidente da autarquia, Fernando Medina (PS), avançou com a ideia de instalar ali a nova Feira Popular. As obras começaram em 2016, mas nunca foram concluídas. Com a chegada de Carlos Moedas (PSD) à presidência, em 2021, a opção pela feira foi descartada e a prioridade passou a ser a criação de um grande parque verde.
Após dois anos de paragem e um acréscimo de custos de 885 mil euros aos 6,4 milhões de euros iniciais, a obra foi retomada em 2024 e concluída no segundo semestre de 2025. Para a Junta de Freguesia de Carnide, o novo espaço representa um investimento estratégico para a qualidade de vida da população e “um ponto de encontro para a comunidade”.
O jardim foi projectado pela TOPIARIS - Estudos e Projectos de Arquitectura Paisagista.
Parques e jardins de Lisboa sob críticas por falta de manutenção
A inauguração do novo Parque Verde de Carnide representa uma mais-valia para Lisboa, mas não esconde um problema recorrente: a falta de manutenção das zonas verdes já existentes. Apesar de avanços pontuais — como o aumento do número de árvores de rua — estudos apontam para uma diminuição das áreas verdes públicas da capital desde 2010.
Lisboa surge apenas em 14.º lugar no «Environmental Sustainability Assessment das capitais da União Europeia», revelando um défice face a outras cidades no que toca a cobertura vegetal e infraestrutura verde.
Mais do que a escassez de novos espaços, o maior desafio da autarquia tem sido assegurar o cuidado dos existentes. A imprensa nacional tem repetidamente dado conta de situações de abandono e degradação em parques e jardins municipais.
O caso mais paradigmático é o Parque Urbano Gonçalo Ribeiro Telles, na Praça de Espanha. Moradores e frequentadores denunciam lixo acumulado, presença de roedores, falhas na limpeza e um ambiente geral de abandono. Entre as queixas destacam-se o estado do lago — invadido por ervas daninhas e com água de baixa qualidade — e as casas de banho de apoio, que permanecem fechadas.
Além disso, o projecto inicial do parque nunca foi totalmente concluído. A prometida ponte pedonal entre os jardins da Praça de Espanha e os espaços da Fundação Calouste Gulbenkian continua por construir, enquanto na periferia persistem tapumes e zonas transformadas em matagal. O que deveria ser um dos ícones verdes da cidade apresenta-se hoje vandalizado e desleixado.
O executivo camarário, liderado por Carlos Moedas, admite atrasos e falhas pontuais em algumas infraestruturas, como quiosques ou sanitários, mas justifica as dificuldades com a dimensão
dos espaços e a necessidade de garantir contratos de manutenção adequados.
Fotos: Junta de Freguesia de Carnide