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No DNA da Merlin Properties está a identidade ibérica, além da portuguesa e da espanhola

18 de junho de 2020

Ismael Clemente, vice-presidente e CEO da Merlin, a maior empresa imobiliária de Espanha, admite que a intenção é continuar a aumentar a sua exposição ao mercado imobiliário português, através de investimentos selectivos. 

Em entrevista ao Diário Imobiliário, o responsável da gigante espanhola, reconhece as potencialidades do mercado português e que a confiança é o activo que conta quando os investidores (muitos com obrigações fiduciárias) investem num país.

De recordar que a Merlin é a maior empresa imobiliária cotada em Espanha actualmente. Em Portugal detém uma carteira de activos de cerca de mil milhões de euros, que inclui vários edifícios de escritórios, a plataforma logística de Lisboa Norte e dois espaços comerciais, o Almada Fórum e o Monumental. Em Janeiro estreou-se na praça lisboeta por ‘dual listing’, uma operação em que as mesmas acções que negoceiam em Espanha passam também a negociar na Euronext Lisbon.

Que oportunidades o mercado imobiliário português apresenta para o investimento estrangeiro?

O mercado imobiliário português continua atractivo para o investimento estrangeiro. Primeiro, porque o seu preço relativo é mais barato em comparação com outros mercados europeus, ou seja, existe um yield de arbitragem natural. Segundo, e talvez o mais importante, é a força dos fundamentos do mercado, como a forte procura ou falta de oferta que convidam ao optimismo. Esses fundamentos são mais evidentes nos sectores de escritório ou logística e não tanto em outros que já estão num estágio evolutivo mais maduro (retalho).

Quais as maiores dificuldades encontradas neste mercado?

É um mercado que conhecemos muito bem, já que investimos aqui desde 1998. Ao nos sentirmos tão à vontade aqui, vemo-nos como um actor local, o que nos diferencia dos concorrentes internacionais. No DNA da Merlin Properties está a identidade ibérica, além da portuguesa e da espanhola.

Vai continuar a investir em Portugal?

Sim, a intenção da empresa é continuar a aumentar a sua exposição ao mercado imobiliário português, através de investimentos selectivos nos activos que consideramos que contribuem para a carteira de imóveis actual como um todo. Temos activos de muito boa qualidade e queremos manter essa mesma linha.

Acredita que a imagem positiva que Portugal tem passado no exterior durante a pandemia vai trazer mais investimento estrangeiro?

Portugal soube, até agora e de forma exemplar, enfrentar a tempestade sanitária criada pelo coronavírus. Fê-lo dando um exemplo de unidade democrática e com sensatez na tomada de decisões. Acredito que, com esses bons exemplos, a comunidade internacional valorize positivamente e construa confiança. E a confiança é o activo que conta quando os investidores (muitos com obrigações fiduciárias) investem num país.

Que semelhanças e diferenças encontra entre o mercado português e os restantes onde opera?

A nível dos proprietários, o mercado português é mais atomizado que o espanhol, com excepção do sector dos centros comerciais, onde Portugal cresceu pela mão de players com alguma dimensão, como a Sonae, Multi ou Mundicenter.

Então, no mercado ocupacional, embora os operadores sejam semelhantes, é um mercado em que o take-up médio é menor do que em Espanha. Mas, geralmente, não acho que haja grandes diferenças entre esses mercados.

Como vê o futuro do mercado imobiliário português e a nível internacional? 

As perspectivas devem permanecer positivas no mercado português, pelas razões que expliquei na minha primeira resposta. Além disso, com a crise actual, pode haver um ajuste "natural" dos hábitos dos clientes (sejam eles individuais, sejam empresas) que, dependendo de sua duração e profundidade, podem afectar estruturalmente a procura. Isso significa que os proprietários terão que se adaptar, em maior ou menor grau, a todas essas tendências.