Construir com Ciência: o impacto de um Doutoramento no setor da Construção

Investir num Doutoramento (Doctor of Philosophy ou PhD) representa atingir o grau académico mais elevado, cuja missão é produzir investigação original e aprofundada de elevado rigor científico. Tal percurso combina normalmente uma fase curricular, incluindo cursos especializados e seminários, com uma fase de investigação culminante na redação da tese e na defesa pública.

Em Portugal, os programas de Doutoramento devem obedecer a legislação específica - como o Decreto-Lei 74/2006 com as alterações do DL 65/2018 - e estar sujeitos à acreditação institucional. É um grau pensado para quem já possui mestrado e ambiciona aprofundar capacidades numa área específica, abrindo caminho tanto para carreiras académicas como para papéis profissionais com forte componente de inovação e investigação.

Optar por um PhD pode desbloquear benefícios múltiplos. A nível individual, vai para além do domínio técnico: concede ferramentas metodológicas, estimula a criatividade, promove autonomia intelectual para formular hipóteses e soluções, e fortalece a resiliência frente a críticas ou falhas. No contexto das organizações, permite concretizar teoria em prática por meio de protótipos, reforçar a absorção tecnológica, destacar-se em candidaturas de I&D, internalizar conhecimentos avançados e elevar o prestígio técnico das entidades. Em termos nacionais, os doutorados alimentam o capital humano qualificado, promovem valor acrescentado e competitividade, exportam tecnologia e atraem investimento internacional - participando também na formulação de políticas ou normas estratégicas em áreas como digitalização, sustentabilidade e transição climática.

A excelência de um PhD reflete-se em indicadores diversos: posição em rankings de topo na respetiva área; histórico dos orientadores (e.g. teses dirigidas, publicações, projetos); taxas de conclusão e tempo médio até à defesa; capacidade de integração com o setor produtivo (e.g. co-financiamentos, contratos empresariais); mobilidade internacional e parcerias externas (e.g. co-tutelas, estágios em instituições de renome); e os recursos disponibilizados (e.g. laboratórios modernos, equipamentos, redes informáticas e acesso a bases de dados).

Na área da Construção, um PhD assume relevo para responder a diversos desafios como os da sustentabilidade ambiental (e.g. avaliações de ciclo de vida, pegada carbónica, soluções ecológicas), digitalização (e.g. BIM, gémeos digitais, inteligência artificial, IoT), inovação em materiais e processos (e.g. compósitos reforçados, impressão 3D), planeamento e gestão integrados (e.g. Last Planner System, Lean Construction) e infraestruturas inteligentes e resilientes (e.g. sensores incorporados, análise de dados por IA, adaptação sísmica e climática).

Contudo, seguir este caminho exige ponderação. Fazer um Doutoramento exige um compromisso elevado de tempo - várias horas semanais ao longo de três a cinco anos - e um investimento financeiro significativo (e.g. propinas, equipamento, deslocações). Se for realizado em paralelo com trabalho profissional e implicar presença em locais distantes, os desafios ao equilíbrio entre vida pessoal, trabalho e investigação intensificam-se. Importa assim refletir sobre as situações pessoais e profissionais: em que medida permitem aceitar o desafio e como o esforço poderá produzir impacto real.

O sucesso do Doutoramento assenta em aspetos-chave como: tema bem delineado e exequível; orientação dedicada e experiente; rede de apoio com parcerias capazes de validar e aplicar resultados; financiamento estável; infraestruturas adequadas (e.g. laboratórios, software, bases de dados); e mobilidade ou colaborações externas que ampliem recursos e contactos.

Há, contudo, riscos a considerar: o tema pode afastar-se das necessidades do setor - daí a importância de envolver empresas desde o início; podem surgir atrasos, falhas experimentais ou sobrecarga - recomendado definir planos de contingência; divergências com o orientador exigem comunicação constante; o desequilíbrio entre vida pessoal e investigação pode gerar desgaste ou desistência; a instabilidade financeira ou a cessação antecipada de bolsas impõem diversidade de apoio ou garantias adicionais; e o reconhecimento profissional pós-PhD não está assegurado - uma tese orientada para aplicação prática ou valor institucional/comercial pode aumentar substancialmente as hipóteses de aproveitamento.

Para que este potencial se concretize no setor da construção, são indispensáveis políticas concertadas. Nas universidades, importa fomentar doutoramentos em parceria com empresas, reforçar investimento em domínios como BIM e sustentabilidade e promover mobilidade internacional; nos mecanismos de avaliação, deve adotar-se métricas orientadas para impacto efetivo além da publicação de artigos; nas empresas, é fundamental oferecer incentivos fiscais para acolher doutorandos, valorizar carreiras técnicas de investigação e estimular parcerias com universidades e incubadoras para transformar resultados em soluções comerciais; no plano governamental, convém aumentar o financiamento de bolsas, legislar exigências regulatórias que favoreçam inovação, criar centros nacionais de excelência e apoiar as PME com subsídios e vouchers tecnológicos.

Em suma, um PhD orientado com critério na construção pode desencadear inovação, produzir soluções de valor e reforçar o prestígio técnico nacional. Porém, para que esse impacto seja sustentável, é crucial que o tema seja pertinente, a supervisão qualificada, o financiamento estável e o ambiente institucional e empresarial pronto para acolher ideias emergentes. Com visão articulada e cooperação, o Doutoramento pode ultrapassar o plano académico e afirmar-se como um catalisador do desenvolvimento do setor da construção e da economia nacional.

Bruno de Carvalho Matos

Engenheiro Civil

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico