
TDF em Abela, no concelho de Santiago do Cacém, Alentejo
Cohousing e construção bioclimática modular podem ser alternativas à subida do preço da habitação
A Traditional Dream Factory vai construir 23 habitações no concelho de Santiago do Cacém, em parceria com a Kinterra com conclusão prevista para 2026.
Portugal regista a maior subida do preço da habitação na União Europeia, com um aumento de 130% em 15 anos, impulsionado pela escassez de oferta e pelo custo crescente da construção.
Segundo dados do Eurostat, os preços subiram 16,3% em termos homólogos no primeiro trimestre de 2025, o maior aumento entre os 27 Estados-membros. Desde 2015, a média europeia foi de 53%, mas em Portugal o crescimento mais que duplicou esse valor, deixando jovens, famílias e profissionais sem alternativas acessíveis nos centros urbanos.
Para Samuel Delesque, cofundador da Traditional Dream Factory (TDF), “a crise da habitação não é apenas económica, é social e ecológica”. O projecto, localizado em Abela (Santiago do Cacém), apresenta-se como uma alternativa com habitação modular de arquitectura bioclimática integrada em comunidades colaborativas e sustentáveis.
"Mais do que habitação, o objectivo é criar comunidades resilientes e replicáveis..."
A nova fase da TDF prevê um bairro com 23 habitações, desenvolvido em parceria com a Kinterra, especializada em soluções de habitação acessível. O plano, desenhado pelo CRU atelier em colaboração com a promotora Enklava, deverá estar concluído no final de 2026.
As casas serão modulares, construídas com materiais locais e de baixo impacto ambiental, reduzindo custos sem comprometer a qualidade. O projecto inclui ainda micro-redes energéticas, sistemas de captação de água, produção alimentar comunitária e sensores que monitorizam o consumo e a biodiversidade.
Mais do que habitação, o objectivo é criar comunidades resilientes e replicáveis. A propriedade da terra será gerida por uma associação em modelo Land Trust, garantindo uso partilhado e responsabilidade colectiva.
A TDF conta também com a colaboração da Village Portal, colectivo norueguês que vai implementar um programa de coabitação de seis meses a partir de Outubro, com workshops sobre modelos financeiros, acordos culturais e governança comunitária.
Para os fundadores, trata-se de um “laboratório vivo” que procura conciliar resposta à crise habitacional e ao desafio climático, com potencial de ser replicado noutros países.