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Opinião

João Sousa, CEO JPS Group

A construção ainda sofre com o impacto da pandemia e da guerra?

28 de julho de 2023

Parte I: A interrupção nas cadeias de abastecimento e a escassez de materiais de construção

Já decorreram três anos desde o surgimento da pandemia e mais de um ano desde o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, mas ambos continuam a provocar constrangimentos, com um grande impacto no setor da construção e que apenas agora, já em meados do 1.º semestre de 2023, começou a dar alguns sinais tímidos de estabilização. Abordarei por partes os principais impactos destes dois eventos, nomeadamente: a interrupção nas cadeias de abastecimento e a escassez de materiais de construção, a falta de mão de obra qualificada e o aumento dos preços das matérias-primas, energia e materiais de construção. Estes impactos criam desafios para os construtores, visto que atrasam a execução das obras e a colocação de casas novas no mercado.

A pandemia e a guerra afetaram significativamente a produção e distribuição de materiais de construção, devido a restrições logísticas, bloqueios de fronteiras, instabilidade política, encerramento temporário de fábricas, interrupções nas rotas de transporte, que dificultaram a importação ou a disponibilidade de matérias-primas essenciais. Tal, resultou em escassez de matérias-primas para o setor da construção, como: madeira, aço, alumínio, cobre, vidro, cimento, isolamento térmico, produtos eletrónicos, entre outros.

Também durante os períodos de lockdown, impostos às pessoas pela pandemia, houve um aumento da procura por materiais de construção, à medida que mais pessoas procuravam reabilitar ou construir casas novas. Ao mudar as suas rotinas diárias, as pessoas passaram a dedicar mais tempo às tarefas domésticas e a valorizar mais a casa, o que fez com que aumentasse a procura de projetos residenciais.

Além dos materiais de construção, também outros produtos sofrem escassez no mercado mundial, como: produtos eletrónicos (componentes eletrónicos, chips semicondutores); peças e componentes automóveis; medicamentos, produtos médicos e hospitalares; produtos alimentares (farinhas e levedura), enlatados e agrícolas; produtos de limpeza e desinfeção; produtos de cuidados pessoais e de higiene pessoal; materiais de escritório; produtos mobiliários devido à falta de madeira; produtos de lazer e entretenimento (bicicletas, equipamentos de ginástica, consolas de jogos), entre outros.

Desde o final de 2021, que a subida de preços das matérias-primas e materiais de construção se verifica, mas a situação agravou-se com a guerra na Ucrânia e a subida da inflação. Dessa forma, a produção e stock de materiais de construção tem se reduzido significativamente e não acompanham as necessidades do setor. E é este desequilíbrio entre a oferta e a procura, bem como as subidas nos custos de energia e transporte, que tornam estes materiais mais caros. As subidas dos preços exigem um grande esforço financeiro por parte das empresas de construção, e então é preciso todo um planeamento estratégico e financeiro muito bem pensado para conseguirmos minimizar estas diferenças.

Enquanto promotora, a JPS GROUP, direcionada para o mercado português, pretende manter os preços das casas competitivos. Mas, face à conjuntura atual, faz um enorme esforço, para que este impacto não seja totalmente suportado pelo comprador final. Isto só é possível de fazer, porque temos uma construtora própria e compramos os materiais em escala e com antecedência, para conseguir minimizar o impacto da subida de preços e contrariar os atrasos sofridos no setor de uma forma geral que têm sido muito penalizadores. Atualmente, temos em construção simultânea mais de 500 unidades com cerca de 200 já entregues, pelo que o fecho destes projetos constitui por si só um desafio presente e futuro para o nosso grupo.

Segundo um inquérito da AICCOPN realizado, no início deste ano, às empresas no segmento das obras privadas, a escassez de matérias-primas e dos materiais de construção é o terceiro problema mais apontado por 46% das empresas que destacam esta dificuldade.

A escassez e o aumento dos prazos de entrega de materiais de construção dificultam aos construtores a obtenção dos materiais necessários para a construção de casas, o que afeta o planeamento de obras dentro dos prazos definidos e o stock de materiais. Para se construírem casas novas, os construtores precisam de acautelar uma margem no orçamento e no calendário de obras, porque podem surgir alterações significativas face ao que foi definido no plano inicial, devido à indisponibilidade e a eventuais subidas nos preços dos materiais de construção.

João Sousa

CEO da JPS GROUP

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico