
Termalismo nos Açores tem “enorme futuro pela frente”
A Associação Termas dos Açores considerou hoje que o termalismo na região tem um “enorme futuro pela frente” e a certificação das suas águas para fins terapêuticos, pela Direcção-Geral de Saúde, poderá ocorrer no próximo ano.
“O termalismo tem um enorme futuro pela frente, pode ser um dos maiores sectores desta região”, disse hoje à agência Lusa a presidente da associação, Luísa Pereira.
A dirigente reconhece que a região tem dado “passos importantes” na reabilitação do património termal, mas ainda há trabalho a fazer, “nomeadamente na reabilitação de algum património que ainda não está activo, ou não lhe foi atribuída nova vida desde a sua desactivação, como é o caso [das termas] do Varadouro [ilha do Faial] ou da Ladeira da Velha [São Miguel], por exemplo, com potencialidades extraordinárias reconhecidas por registos escritos”.
“Eu penso que vamos continuar a fazer esse trabalho e o Governo Regional tem estado a desenvolver também alguma reabilitação neste sentido”, disse.
Segundo Luísa Pereira, os próximos anos “serão muito importantes para o termalismo regional" e para a região perceber que a valência da balneoterapia simples é uma mais-valia.
“Não temos de ser iguais aos outros, nem tão pouco temos de ser diferentes, mas temos de ser únicos. E aquilo que torna o termalismo dos Açores único é a sua balneoterapia e as suas potencialidades. E, obviamente, quando falamos numa água termal, falamos sempre num recurso único, porque, embora as águas termais possam pertencer à mesma família, físico-quimicamente [...] podem ser completamente diferentes”, justificou.
No arquipélago, no sector termal, além da vertente da água existem produtos medicinais, como é o caso da peloterapia, que consiste na aplicação de peloides (argilas ou lamas) na pele: “Utilizamos um [produto] da família das argilas, nas Caldeiras da Ribeira Grande, que é uma lama argilosa proveniente da mineralização constituinte de água, que também é uma mais-valia para os Açores”.
Por outro lado, segundo a presidente da Associação Termas dos Açores, está a decorrer, desde 2024, o processo de certificação das águas dos balneários, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Médicos Hidrologistas e a Universidade local.
“Eu creio que, no próximo ano, já será possível termos a certificação destas águas através da Direcção-Geral de Saúde (DGS) e o reconhecimento para as suas demais valências”, admitiu.
O trabalho consiste na validação científica das propriedades medicinais das águas termais, porque o conhecimento empírico das suas diferentes utilidades já existe.
Luísa Pereira referiu que a associação aguarda que o processo seja finalizado, para os balneários da região aplicarem alguns tratamentos termais mais direccionados a doenças das vias respiratórias e musculoesqueléticas.
“Nas [Termas das] Caldeiras, [na Ribeira Grande], nós utilizamos a água para um tratamento capilar, para um tratamento podal e, mais recentemente, […] para bebés. Aproveitando a característica da água para a sua vertente dermatológica, trabalhamos mais na [área da] pele atópica, nas [situações de] dermatites e psoríases, por exemplo. E, falando especificamente nas Caldeiras, a sua indicação é mesmo dermatológica”, especificou.
Algumas características das águas termais açorianas já são conhecidas através de um estudo do Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores, mas a região nunca avançou para a certificação pela DGS com vista à “validação da aplicabilidade de cada água termal”.
A fase dos tratamentos prescritos por médicos só acontecerá quando estiver concluído o processo de certificação.
Termalismo nos Açores atrai 150 mil utilizadores em 2024
Os espaços termais dos Açores receberam cerca de 150 mil utilizadores em 2024, quase o dobro do registado no continente, o que confirma o “sucesso extraordinário” do termalismo no arquipélago, segundo a Associação Termas dos Açores.
A presidente da associação, Luísa Pereira, destaca que o fenómeno da balneoterapia ao ar livre, popularizado em locais como a Poça da Dona Beija, a Caldeira Velha e o Parque Terra Nostra, tem sido determinante para a elevada procura.
Na região estão identificados 50 fenómenos termais (São Miguel, Terceira, Faial, Flores e Graciosa), e existem oito estâncias ativas, sendo três balneários (dois em São Miguel e um na Graciosa).
Existem ainda dois balneários termais sem actividade, um na ilha do Faial (Termas do Varadouro) e outro no concelho da Ribeira Grande (Termas da Ladeira da Velha).
Infraestruturas termais existentes
A Ilha de São Miguel é aquela que possui maior oferta termal:
- Termas da Ferraria (Ponta da Ferraria, Ginetes) → piscinas naturais de origem vulcânica junto ao mar, com água quente mesmo em contacto com o Atlântico.
- Parque Terra Nostra (Furnas) → um dos ex-líbris da Região Autónoma, com tanque termal de grandes dimensões e jardins históricos.
- Poça da Dona Beija (Furnas) → várias piscinas de água termal férrea, muito procuradas à noite.
- Caldeira Velha (Ribeira Grande) → cascata termal no meio de floresta, com águas ricas em ferro.
- Termas das Furnas (junto ao Hotel Terra Nostra e ao Vale das Furnas) → exploração tradicional de águas minerais e tratamentos termais.
Ilha Graciosa
Termas do Carapacho → águas termais sulfurosas, conhecidas desde o séc. XVIII, utilizadas para fins terapêuticos (reumatismo, problemas de pele, etc.).
Ilha de São Jorge
Poça Simão Dias (Fajã do Ouvidor) → não é uma estância termal organizada, mas sim piscinas naturais de água aquecida por origem vulcânica.
Ilha Terceira
- Enxofre do Biscoitos (aproveitamento tradicional, mas sem termas estruturadas na actualidade).
- Piscinas naturais dos Biscoitos → águas marinhas frias, mas associadas a zona de actividade vulcânica.
Ilhas do Faial, Pico, Santa Maria, Flores e Corvo
Não têm termas organizadas como São Miguel ou Graciosa, mas existem nascentes minerais e águas férreas conhecidas localmente. O caso mais mediático é o das Termas do Varadouro, no Faial, cujo edifício termal foi inaugurado em 1954 e que se encontra encerrado há muitos anos.
Em resumo, as únicas termas oficialmente estruturadas e em funcionamento contínuo na Região Autónoma são as da Ferraria, Furnas (Terra Nostra, Poça da Dona Beija, Caldeira Velha), em São Miguel, e as Termas do Carapacho, na Graciosa.
Lusa/DI