
Rafael Ascenso, Director Geral da Porta da Frente Christie’s
O luxo imobiliário em tempos de mudança
O mercado imobiliário de luxo, muitas vezes visto como um mundo à parte, é afinal um espelho curioso das mudanças sociais, culturais e económicas do nosso tempo. Longe de ser um reduto estático de ostentação, este setor tem sabido adaptar-se com uma agilidade surpreendente. Contudo enfrenta, atualmente, um desafio delicado: como continuar a ser relevante e sustentável?
Durante décadas, luxo era sinónimo de grandeza física: casas amplas, acabamentos exuberantes, localizações imponentes. Hoje, esta definição evoluiu. O novo luxo é mais discreto, mais criterioso, mais estratégico. A exclusividade continua a contar, mas está agora ancorada em valores como a localização exclusiva, muitas vezes afastada, da eficiência energética, integração urbana, inteligência construtiva, equipamentos úteis e sofisticados, e, sobretudo, liberdade de escolha. O luxo deixou de ser ruído; tornou-se precisão.
Esta mudança não é apenas estética ou funcional, é profundamente ideológica. Os compradores de imóveis de gama alta, nacionais e estrangeiros, procuram mais do que uma casa. Procuram um país onde o investimento é bem-vindo, onde estabilidade legislativa é regra e não exceção, onde o retorno sobre o mérito no investimento é uma possibilidade real.
Portugal tem todas as condições naturais e culturais para liderar nesta nova era do imobiliário de luxo. O clima, a segurança, a gastronomia, o património, a ligação atlântica são vantagens competitivas inegáveis, mas a incerteza política e a tendência para legislar em função de uma visão igualitarista que, por vezes, ignora a importância do capital privado como motor de desenvolvimento são um obstáculo crescente.
Medidas como a instabilidade fiscal, as limitações à liberdade de uso de propriedade e os constantes recuos regulatórios transmitem uma mensagem errada: que prosperar é suspeito. Ora, o progresso, em qualquer setor, exige um ambiente onde a inovação, o investimento e a iniciativa individual são incentivados, não travados.
É precisamente neste ponto que se exige um novo olhar. O imobiliário de luxo não deve ser visto como um luxo supérfluo, mas como uma alavanca económica com impacto real: atrai talento, gera emprego, revitaliza zonas urbanas e eleva a fasquia da qualidade arquitetónica e ambiental. É possível conciliar ambição com responsabilidade, desde que haja clareza de regras, respeito pela liberdade contratual e uma valorização inequívoca da excelência.
Também neste mercado, estamos em forte competição com outros países que procuram atraír este tipo de investimento, sem dúvida muito importante para o sector imobiliário, mas também para muitas outras áreas de actividade.
O luxo, quando bem compreendido, não é um capricho — é uma força. Representa o compromisso com o detalhe, a valorização do tempo, a busca pela excelência e a capacidade de sonhar com espaços que elevam a experiência humana. Num país que ambiciona atrair talento, investimento e prestígio internacional, o imobiliário de luxo não é apenas desejável — é essencial. Porque onde há luxo, há visão, e onde há visão, há futuro.
Rafael Ascenso
Founder e Partner da Porta da Frente Christie’s
*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico