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Financiamentos do Governo estão muito longe de resolver a pobreza energética em Portugal

7 de novembro de 2022

Aline Guerreiro, responsável pelo Portal da Construção Sustentável, alerta que os financiamentos disponibilizados pelo Governo no âmbito do Fundo Ambiental e do PRR estão muito longe de resolver a situação de pobreza energética em Portugal, uma vez que não dão prioridade à reabilitação energética e sustentável de edifícios, acompanhada por profissionais capazes de aconselhar e avaliar as melhores soluções. "Os apoios até agora disponibilizados, limitam-se a ajudar "qualquer um" que queira substituir janelas ou colocar isolamento, sem qualquer rigor técnico. Para além disso, os cheques para aquisição de equipamentos, não serão mais do que um incentivo à compra de eletrodomésticos com forte gasto energético como aquecedores ou ventiladores", avança a responsável.

Os financiamentos devem priorizar famílias com baixos rendimentos, na renovação de suas casas. Para reabilitar energeticamente os edifícios, com recurso a materiais de construção mais sustentáveis, não é necessário recorrer a certificações especiais, nem a receitas de construção importadas dos países nórdicos, que nem se adequam ao nosso país. Portugal possui um clima fantástico para que se recorra a técnicas tradicionais de construção, que tirem partido do sol para aquecer e da ventilação natural para arrefecer. Mas estas recomendações devem ser feitas por pessoal qualificado.

"Em Portugal, seria importante a criação de uma equipa técnica para a implementação de soluções eficientes. O Governo deveria pensar na criação de parcerias com gabinetes técnicos, informados e conhecedores do que é "construção sustentável", poderia ser uma mais-valia e ter resultados muito mais satisfatórios na reabilitação energética e sustentável de edifícios!", defende a arquitecta.

Alguns exemplos:

1. A colocação de caixilharias com desempenho energético optimizado e vidro adequado pode significar uma poupança energética na ordem dos 10%. Deverão ser caixilharias sustentáveis, de material 100% reciclado para o mesmo fim, ou com baixo impacte ambiental na sua produção;

2. A aplicação de isolamento adequado, pode gerar poupanças energéticas na ordem dos 30%, mas só falamos de isolamento sustentável. Se for um isolamento natural, sem impactes na sua produção e que tenha uma longevidade comprovada. Como, por exemplo, a cortiça que tem uma longevidade de quase 50 anos, sem alterar as suas características de isolamento.

É importante não esquecer que 75% dos edifícios da UE são considerados ineficientes em termos energéticos. Um em cada quatro lares europeus não se pode dar ao luxo de aquecer, refrigerar, ou iluminar adequadamente o seu interior, recorrendo a energia elétrica ou outra. A pobreza energética afecta principalmente grupos economicamente vulneráveis cujo rendimento mal cobre as despesas básicas. Considera-se que um agregado familiar já sofre de pobreza energética quando mais de 10% do seu rendimento é gasto com custos energéticos.

Em Lille (França) no âmbito de recomendações da EU, foi criado um projecto que apoia famílias de baixos rendimentos na renovação de casas para evitar a insegurança energética e a pobreza a longo prazo. Gestores de operações, arquitetos, engenheiros de térmica, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais trabalham em conjunto para fornecer informação gratuita, aconselhamento e apoio para facilitar os projetos de renovação. Deste modo, são oferecidos conselhos sobre poupança de energia, recomendações de renovação e acompanhamento de obra. Só depois, os arrendatários ou senhorios podem obter mediação e financiamento para obras de reabilitação energética.

Portugal, está cada vez, mais pobre. E este retrato é um problema do país, enquanto sociedade, porque a pobreza trava o desenvolvimento económico e põe em causa a coesão social. Os edifícios, responsáveis por cerca de 40% dos consumos de energia para os climatizar, se corrigidos em termos de construção, tem um potencial de poupança enorme. Portugal, deve agarrar esta oportunidade de financiamentos europeus, para travar eficazmente a pobreza energética.