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Entrevistas

Francisco Horta e Costa, director geral da CBRE

É em momentos de maior instabilidade que também se geram boas oportunidades

16 de fevereiro de 2024

Francisco Horta e Costa, Managing Director na CBRE Portugal, admite que a instabilidade vivida adia decisões de investimento, mas ao mesmo tempo, também se geram boas oportunidades e há investidores que se estão a posicionar para tirarem partido desse contexto de mercado.

O responsável, avança ainda que depois de um ano de 2023 bastante satisfatório e até acima das expectativas, encara 2024 com cautela, embora com um optimismo moderado. 

O que se pode esperar para o mercado imobiliário em 2024?

Espera-se um ano mais desafiante devido ao impacto de diferentes variáveis como as taxas de juro, o contexto geopolítico internacional e também, a nível nacional, da instabilidade gerada pelas eleições e das alterações legislativas, nomeadamente do simplex urbanístico. Todas estas situações geram incerteza e instabilidade, o que faz com que haja uma redução da confiança dos actores do mercado, adiando-se decisões de investimento. Ao mesmo tempo, é em momentos de maior instabilidade que também se geram boas oportunidades e há investidores que se estão a posicionar para tirarem partido desse contexto de mercado.

Quais as tendências para este ano que podem dinamizar a construção e o imobiliário?

Vamos continuar a assistir a uma grande aposta no sector do turismo, concretamente nos hotéis e nos resorts, na senda dos últimos anos e em resposta aos indicadores de performance deste sector. Noutra dimensão, mas ainda no que diz respeito a sectores que incluam “camas”, existe ainda uma procura por residências de estudantes e começam a aparecer conceitos residenciais inovadores (living), numa primeira instância para venda, mas estamos a assistir a uma maior movimentação de alguns promotores no sentido de virem a desenvolver projectos para arrendamento de grande escala. Os projectos de renda acessível das Câmaras, nomeadamente da Câmara de Lisboa, podem contribuir para uma maior dinâmica deste segmento do mercado, se algum dia saírem do papel. 

Esperamos também que o sector da logística contribua para uma maior dinamização do mercado, dado que existem vários projectos em fase de licenciamento que se espera que possam iniciar a construção durante este ano. O sector dos escritórios irá assistir ao início da construção de vários projectos prime, nomeadamente na cidade de Lisboa, para dar resposta à falta de stock de qualidade, que é cada vez mais procurado pelas empresas, como o objectivo de atrair e reter o seu talento.  Por fim, vai-se acentuar cada vez mais o papel da sustentabilidade na promoção e gestão de edifícios, com toda a temática de ESG a estar no topo das preocupações dos investidores.

E as maiores dificuldades que o mercado pode enfrentar?

Um maior prolongamento de taxas de juro altas e maiores restrições no acesso ao financiamento, bem como a manutenção de custos de construção elevados.

Quais as perspectivas da CBRE para 2024?

Depois de um ano de 2023 bastante satisfatório e até acima das nossas expectativas, encaramos 2024 com cautela, embora com um optimismo moderado. Estamos bem posicionados no que diz respeito ao pipeline de operações de investimento, principalmente naqueles sectores que se espera que tenham maior preponderância, como o turismo ou os alternativos. Também a diversificação que levámos a cabo nos últimos anos, como o ESG, o Agribusiness ou a assessoria ao financiamento (e ao refinanciamento), bem como as atividades relacionadas com operações de fusões e aquisições ou joint-ventures, permitem-nos ter acesso a um conjunto mais vasto de potenciais transacções.  Por outro lado, hoje em dia a CBRE Portugal tem um negócio bastante significativo de gestão de activos e de outras linhas que não dependem de transacções, o que nos permite atravessar fases de mercado mais turbulentas com mais confiança.