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Turismo: trabalhadores mal pagos mas felizes

10 de março de 2023

Apesar da maioria dos trabalhadores do sector do Turismo ganhar um salário próximo do salário mínimo, 85% revela estar feliz no trabalho e ser fortemente dedicado e entusiasta ao nível das funções que desempenha. Estas são duas das principais conclusões do Estudo Sobre o Mercado de Trabalho em Turismo realizado pela Universidade de Aveiro (UA) e o Turismo de Portugal, para a Secretaria de Estado do Turismo.

O trabalho de investigação, coordenado por Carlos Costa, investigador do Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da UA, teve como objectivo analisar, avaliar e prospectivar o mercado de trabalho no sector do turismo, e respectivos subsectores, a 10 anos.

O trabalho, que envolveu um vasto painel de peritos e investigadores de Portugal e do estrangeiro, compreendeu a realização de 4898 inquéritos aplicados a trabalhadores e estudantes de turismo, bem como 11 entrevistas a líderes de organizações nacionais do turismo.

Uma das principais conclusões do trabalho diz respeito ao nível de felicidade e de realização dos trabalhadores desta área: 85% revelam que se sentem felizes a trabalhar no turismo, sendo que esta variável é explicada pelo facto do turismo ser uma profissão que lida com pessoas e culturas, e é muito eclética.

O trabalho concluiu ainda que os trabalhadores e os estudantes da área são fortemente dedicados e entusiastas ao nível das funções que desempenham. Contudo, apontam os investigadores da UA, há problemas que urge ultrapassar, sendo que um dos mais importantes diz respeito aos níveis salariais. Demonstra-se que, efectivamente, a maioria dos salários encontram-se encostados ao salário mínimo nacional, embora o sistema de gratificações faça com que os trabalhadores, em particular os do front-office, possam ver os seus salários complementados.

Aos baixos salários juntam-se outros problemas para os trabalhadores do sector: horários inflexíveis (que fazem com que a profissão dificulte uma vida familiar e emocional equilibrada); falta de segurança no trabalho (um problema apresentado por um em cada três trabalhadores); e desigualdades em termos de oportunidades, salário e género.

O estudo deixa mesmo o alerta e recorda que as futuras gerações de trabalhadores, corporizadas nos estudantes que se encontram em cursos de turismo, rejeitam veementemente este tipo de formas de desigualdade, nomeadamente em termos salariais e de compatibilidade com a vida pessoal e emocional, o que requer uma atuação rápida e adequada ao nível destas questões.

O estudo demonstra que os problemas actuais no mercado de trabalho do turismo não se resolvem meramente dentro do actual paradigma, apontando para a necessidade de se introduzirem novas abordagens no trabalho e no estudo do turismo, que devem incorporar novas cadeias de valor mais associadas aos negócios da gestão e de relações entre pessoas, de qualidade de vida e da felicidade.

Mais ainda, Carlos Costa “aponta para que o turismo se deva expandir do seu core business da hotelaria e da restauração para novas cadeias de valor e novas operações de logística, e que contribua para uma expansão para áreas de menor densidade populacional e económica e socialmente menos atrativas”. Para que tal aconteça, diz o responsável pelo estudo, “será necessário que as profissões da área do turismo incorporem novas valências na gestão dos recursos humanos, do empreendedorismo, e das novas tecnologias. Se se evoluir nesta perspetiva, conseguir-se-ão introduzir novas formas de coesão social e territorial através do setor do turismo”.

Os resultados finais apresentados pelo estudo encontram-se sistematizados em 13 Medidas de Orientação Política:

_ reposicionar o Turismo como fenómeno social e civilizacional;

_ tornar o Turismo um instrumento de desenvolvimento e coesão dos territórios;

_ posicionar o Turismo como impulsionador da sustentabilidade e dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS);

_ felicidade, segurança e perspetivas de abandono do turismo;

_ imagem do mercado de trabalho;

_ condições de acesso às profissões;

_ designação das profissões;

_ possibilidade de se trabalhar noutras áreas, tipo de regime de trabalho e emprego por conta própria ou de outrem;

_ novo paradigma para a formação contínua;

_ igualdade e necessidades especiais;

_ investir na qualificação tecnológica do mercado de trabalho;

_ o papel das associações empresariais e dos sindicatos;

_ governância: formação, investigação e autorregulação.