Capa do estudo e ilustração em Freepik
Estudo alerta para divisão crescente no mercado imobiliário europeu e sobrevalorização em Portugal
A Terreta Spain, consultora imobiliária focada em tornar o processo de compra e gestão imobiliária mais acessível e eficiente para investidores e compradores, acaba de publicar um estudo comparativo sobre os mercados imobiliários europeus.
Portugal destaca-se por um paradoxo evidente: “apesar de preços ainda relativamente moderados, o acesso à habitação tornou-se um dos maiores desafios do país, revelando tensões estruturais profundas”, constata o estudo.
O estudo analisa estas dinâmicas, o impacto para os agregados familiares e as tendências que começam a redefinir o investimento imobiliário na Europa.
Crise estrutural
A habitação tornou-se um dos desafios mais críticos da Europa e a crise actual é estrutural, conclui um estudo da consultora espanhola Terreta. A escassez de nova construção, o aumento dos custos, o envelhecimento demográfico e o acesso mais restrito ao crédito estão a pressionar de forma duradoura os mercados residenciais.
Segundo a análise, a Europa funciona hoje a “duas velocidades”. No Sul, Portugal e Espanha destacam-se pela forte procura no arrendamento, dinâmicas demográficas positivas e rendimentos mais atractivos, continuando a captar investidores estrangeiros — embora os preços se tornem cada vez menos acessíveis para as famílias locais.
Já os mercados do Norte e centro da Europa, como Alemanha, Suíça e Reino Unido, oferecem maior estabilidade, mas rendibilidades muito baixas, penalizadas por preços de compra elevados e regimes fiscais mais pesados. No meio da tabela, Itália e Bélgica mantêm dificuldades estruturais, marcadas por impostos elevados, fraca atractividade e grandes disparidades regionais.
O estudo sublinha que as diferenças entre países resultam tanto das políticas económicas e fiscais como da forma como cada Estado regula a habitação e o investimento estrangeiro. Portugal e Espanha continuam a beneficiar de regimes fiscais favoráveis e de procura alimentada pela imigração, enquanto outras economias enfrentam estagnação populacional e retracção dos investidores.
A Terreta alerta que, a médio prazo, o equilíbrio do mercado dependerá da capacidade dos governos para relançar a construção, estabilizar a carga fiscal e promover mobilidade populacional. Sem estas reformas, a Europa continuará a dividir-se entre polos imobiliários dinâmicos e regiões em perda de competitividade.
Portugal: risco de bolha imobiliária?
O estudo dedica um capítulo ao caso português e aponta sinais de sobrevalorização persistente. De acordo com dados do Banco de Portugal citados pela Terreta, os preços das casas aumentaram 83% entre 2013 e 2023, enquanto os salários cresceram apenas 36,9%. No mesmo período, os valores da habitação dispararam 130% em algumas zonas, agravando o fosso de acessibilidade.
Entre 2019 e 2024, o rácio preço/rendimento subiu 30%, o maior aumento na União Europeia, superando Grécia (+20%) e Países Baixos (+15%). Para a consultora, estes indicadores levantam dúvidas sobre a sustentabilidade da evolução dos preços, num contexto em que a procura continua forte mas a capacidade das famílias para comprar casa diminui rapidamente.
A conclusão é clara: o investimento imobiliário na Europa segue uma lógica fragmentada, em que cada país depende do seu quadro económico, social e fiscal. Para investidores, o desafio passa por equilibrar rentabilidade, estabilidade regulatória e potencial demográfico de longo prazo.














