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Ilustração macrovetor em Freepik

Crédido malparado diminui, mas a ritmo mais lento...

27 de dezembro de 2023

No 2º trimestre deste ano, o país contabilizava 6.300 milhões de euros de crédito em incumprimento no sistema financeiro, volume que equivale a 3,0% de todo o crédito concedido.

A transacção de carteiras deste tipo de activos deverá também cair este ano, atingindo os 1.400 milhões de euros. A quebra será de 18% face aos níveis transaccionados em 2022 e posiciona a actividade como uma das mais baixas dos últimos anos, estima a Prime Yield na edição de 2023 do seu research “Investing in NPL in Iberia”.


Portugueses estão mais cumpridores...

Portugal continua a fazer progressos na diminuição do crédito que está em incumprimento no sistema financeiro nacional, mas o ritmo de redução deste tipo de empréstimos está mais lento. No 2º trimestre, os bancos nacionais contabilizavam 6.300 milhões de eurois em crédito malparado nos seus balanços, menos 1.200 milhões do que em igual período do ano passado. Deste volume, apenas 17%, equivalente a cerca de 200 milhões, estão concentrados em 2023.

De qualquer forma, Portugal permanece entre os países que reduziu o stock de NPL (non-performing loans na sigla inglesa) no 2º trimestre face ao trimestre anterior, contrariando a tendência agregada na Europa, que evidencia um aumento trimestral do crédito em incumprimento. Em Portugal, os 6.300 milhões de euros contabilizados no 2º trimestre apresentam uma descida de 2% face ao trimestre anterior (cerca de 140 milhões). No cômputo da Europa, o volume de NPL no 2º trimestre somou 361.000 milhões de euros, aumentando 1% face ao trimestre anterior, equivalente a mais 3.930 milhões.

Paralelamente, a transacção de carteiras compostas por estes créditos não produtivos deverá diminuir novamente em 2023. As estimativas da Prime Yield apontam para um volume anual de 1.400 milhões de euros transaccionados em NPL, menos 18% do que em 2022 e apenas acima da actividade de 2020, ano em que a venda deste tipo de portfólios esteve praticamente estagnada devido ao surgimento da pandemia. A travagem no investimento deste tipo de activos reflecte a conjugação da redução da dimensão média das carteiras que surgem em oferta e um cenário de relativa estagnação na entrada de novos processos de venda, ao mesmo tempo que o mercado secundário não se encontra desenvolvido.

Estas as principais conclusões do estudo ”Investing in NPL in Iberia 2023”, onde a Prime Yield analisa a dinâmica de transacções das carteiras de crédito malparado na Península Ibérica, com projecções para a actividade em 2023 em Portugal e Espanha. O research incide ainda sobre os dados mais actuais relativos aos stocks e rácios de NPL nos dois países, bem como os principais indicadores económicos e do mercado residencial. A contextualização europeia não fica esquecida neste estudo.

De acordo com Francisco Virgolino, Managing Director da Prime Yield, “Apesar de a tendência europeia ser já de algum aumento do stock de NPL, em termos trimestrais, Portugal ainda está entre os países que continuam o seu processo de redução. Mas, mesmo nesse contexto, vemos que há uma maior resistência da queda face ao passado recente. Dos 1.200 milhões de euros de NPL retirados do sistema financeiro nacional no último ano, 2023 contribuiu com uma fatia de apenas 200 milhões”.




Crédito malparado corresponde a 3% do crédito concedido

Este é, contudo, um movimento natural num mercado onde o stock de crédito malparado comprimiu 70% em 4 anos. Em Junho de 2019, Portugal contabilizava 21.300 milhões de euros de crédito em incumprimento na Banca, comparativamente aos 6.300 milhões registados no mesmo período de 2023. Outro dado importante é o peso que o crédito malparado tem no total do crédito concedido. Este indicador, chamado de rácio de NPL, tem evoluído também de forma muito favorável, passando de 8,9% em Junho de 2019 para os actuais 3,0%. Sem prejuízo desta melhoria, o rácio português continua acima da média europeia, onde o crédito malparado representava, no 2º trimestre de 2023, 1,8% dos créditos activos no sistema financeiro.  Além disso, Portugal continua a ser um dos países europeus onde o crédito malparado tem maior peso sobre o crédito total, sendo superado apenas pela Grécia (4,6%), Polónia (4,4%) e Hungria (3,1%). Em termos de stock, as maiores fatias de malparado concentram-se em França (115.500 milhões de euros, 32%), Espanha (76.700 milhões, 21%) e Itália (43.400 milhões, 12%), enquanto Portugal agrega 2% do volume europeu.


No crédito à habitação, o malparado caiu 9% em termos homólogos

A maior fatia de malparado em Portugal está concentrado no crédito às empresas, 62% do total, no valor de 3.900 milhões de euros. Este volume reduziu 5% face aos 4.100 milhões de euros registados no trimestre anterior. Já o crédito em incumprimento nas famílias ascendeu no período em análise aos 2.200 milhões de euros, equivalente a 35% do total, mas não registou qualquer redução face ao trimestre anterior. No segmento do crédito malparado a particulares, 45% diz respeito a financiamentos à habitação, subsegmento onde o malparado também não reduziu em termos trimestrais, mantendo-se inalterado em cerca de 1.000 milhões de eurosa. Numa evolução mais de médio prazo, contudo, quer as famílias quer as empresas mantiveram a curva decrescente, com reduções homólogas de NPL de 8% e 19%, respectivamente, no 2º trimestre de 2023. No crédito à habitação, o malparado caiu 9% em termos homólogos.


Transacções de crédito malparado travam

O estudo da Prime Yield estima que o mercado de venda de crédito malparado atinja este ano os 1.400 milhões de euros, travando 18% face a um 2022 já bastante incipiente. No ano passado, terão sido transaccionados cerca de 1.700 milhões de euros em crédito malparado, caindo para metade face ao ano anterior, quando as transacções terão ficado em torno dos 3.500 milhões. O nível de actividade projectado para 2023 supera apenas o do ano 2020, quando foram transaccionados pouco menos de 1.000 milhões, reflectindo um mercado paralisado devido à pandemia.


Carteiras pequenas em transacção...

A forte redução do NPL dos últimos anos, com o stock a cair 70% entre meados de 2019 e 2023, tem vindo, por um lado, a reduzir o fluxo de carteiras que mais recentemente surgem no mercado para venda. Por outro lado, as carteiras que vão surgindo têm dimensões mais pequenas, o que tem sido visível ao longo deste ano, em que a maioria dos negócios já concluídos ou em desenvolvimento incluem portfólios a rondar os 100 a 150 milhões. Além disso, entre estes portfólios e especialmente nos que têm maior dimensão, há um crescente peso dos créditos sem garantia nas carteiras. De referir ainda que está activa uma operação de grande dimensão, a venda da Algebra Capital, a qual abrange uma carteira de malparado na ordem dos 4.200 milhões de euros. Este negócio tem uma escala inédita no mercado português e não deverá ser concretizado este ano, mas reveste-se de caraterísticas diferentes dos negócios habitualmente contabilizados, pois envolve a venda da empresa de gestão e recuperação de créditos e não apenas da carteira de malparado.

“Em resultado da tripla circunstância de ter menos portfólios, mais pequenos e com menos garantias, o mercado de venda de NPL em Portugal tem perdido alguma atractividade no contexto internacional. Isto, num cenário global em que há uma mudança do perfil dos investidores, com muitos operadores que eram compradores activos a afastarem-se deste mercado. O facto de a recuperação do crédito malparado estar mais difícil devido à conjuntura económica, os financiamentos para as operações de maior dimensão serem mais limitados e de serem necessários mais recursos para extrair valor dos portfólios adquiridos estão a afastar alguns investidores”.