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Entrevistas

José Costa Rodrigues, CEO da Relive

A Techstars apoiou os três jovens portugueses

A plataforma portuguesa que quer fazer de consultores imobiliários empresários de sucesso

9 de novembro de 2022

A Relive é uma startup portuguesa para o empreendedorismo no sector imobiliário, potenciando consultores a criar negócios de sucesso e é a primeira e única empresa de mediação portuguesa a actuar com licenças em Portugal e nos EUA.

José Costa Rodrigues, Henrique Brás e Sérgio Ferrás decidiram lançar a Relive em 2021, recrutando os primeiros Parceiros (Consultores Imobiliários) e realizaram 60 transacções. Em Janeiro de 2022, receberam 1 milhão de dólares de investidores, entre eles a Techstars que é uma das três maiores venture capital investors de startups do mundo, com uma taxa de seleção inferior a 2%. Em Janeiro de 2022, José Costa Rodrigues (CEO) mudou-se para o Texas para iniciar a Relive no mercado Americano. Em Junho de 2022, obtiveram licença, fizeram onboarding dos primeiros parceiros Americanos e emitiram a primeira factura (em Agosto já contavam com mais de 100 mil dólares facturados).

José Costa Rodrigues, em entrevista ao Diário Imobiliário, revela que o objectivo da Relive é que seja para o mercado imobiliário o que a Gestifute (agência de jogadores fundada por Jorge Mendes) é para o futebol, ou seja: É onde apenas os melhores estão, assegurando-se que o mais importante são as suas próprias marcas e performance, garantindo que as suas carreiras vão de vento em pompa.


Qual o objectivo de criar a Relive?

Como em qualquer startup, quando se começa, existe uma "ideia" do que se pretende explorar, a tal "visão", mas que apenas tempo e tentativa e erro permitem, mais tarde, compreender em concreto.

A nossa visão era, e é, de sermos "uma plataforma para o empreendedorismo no sector imobiliário, potenciando consultores a criar negócios de sucesso".

Essa "visão" inicial da Relive foi consequência das vivências dos seus três fundadores:

-Eu, José, tinha antes lançado sozinho a Forall Phones (empresa líder de telemóveis recondicionados, que crescemos para 100 colaboradores, 15 lojas e 20 milhões de euros em vendas - até sempre adquiridos em 2020) - sem sócios, sem conhecimento prático de gestão, de recrutamento, de contabilidade, de marketing, etc. Aí, apercebi-me de quão difícil era começar um negócio do zero, fazer um pouco de tudo e ainda assim ser eficiente... e sustentável - ou seja, ganhar dinheiro.

O Henrique, tinha sido consultor imobiliário na REMAX e, mais tarde, director comercial no maior grupo de agências da Century 21. Com a gestão de centenas de Consultores, apercebeu-se de que muitos, apesar de facturarem bem, tinham um dia a dia desorganizado e uma gestão pouco eficiente das suas operações.

O Sérgio, Engenheiro Aeroespacial, vinha do sector da banca e assistiu às transformações digitais deste sector, quando estava a criar uma aplicação no Banco de Investimento Global, em Espanha. Apaixonado pelo sector imobiliário, percebeu que existia uma oportunidade de replicar o fenómeno que ocorreu na banca para o imobiliário.

Juntámos as ideias e foi claro:

Vamos criar uma plataforma, via tecnologia e uma estrutura de ‘back office’ profissionalizada, que apoie consultores imobiliários a ser empresários de sucesso.



Que inovações traz ao mercado nomeadamente à mediação imobiliária?

O nosso modelo é muito diferente dos tradicionais ‘franchisings’, ou empresas de marketing multinível, pois, acima de tudo, sentimos que na mediação tradicional, os incentivos estão totalmente desalinhados.

Em primeiro lugar, porque nós não nos focamos em quantidade de consultores, mais sim qualidade.

Na Relive, apenas assinamos parcerias com Consultores com experiência no sector e uma média de transacções anual superior a 10.

O nosso sistema de comissão é de 75% para o Consultor, 25% para a Relive.

O negócio apenas é sustentável se tivermos "top producers", enquanto noutros modelos a margem vem dos consultores "rookies" (inexperientes), que recebem apenas 40% da comissão ou menos. Por outro lado, nesses mesmos modelos, um ‘broker’ chega a pagar "100% comissão" aos consultores "top producers", ou seja, o ‘broker’ não ganha dinheiro com os melhores, mas sim com os que menos resultados geram.

Na Relive, é exatamente ao contrário. Só ganhamos dinheiro com quem é realmente bom!

Em segundo lugar, a marca não é a Relive, a Relive é apenas a plataforma que apoia a nível de back office e profissionaliza a gestão do negócio do consultor. A marca é o próprio consultor. Isso, acreditamos, faz toda a diferença. Hoje em dia, não é a marca de mediação imobiliária A, B ou C que garante um serviço de excelência ao cliente proprietário ou comprador... Quem faz a diferença é o Consultor.

Então a Relive foca todos os recursos em ajudar esse Consultor a se diferenciar face aos outros colegas e a trabalhar melhor.

Em terceiro, somos a única empresa de mediação imobiliária, dos mesmos donos, com licença em Portugal e nos Estados Unidos da América. Somos também a única a operar com apoio dos principais fundos de investimento em Portugal, mas também na América, o que reforça a crença no nosso modelo inovador, e que algo se irá transformar no nosso sector.


Quais os grandes obstáculos a esta actividade?

O mercado de mediação imobiliária foi, nos últimos 30 anos, muito similar, com o sistema das marcas franchising.

Em 2008, com a crise e o aparecimento da eXp e IAD, o modelo dos consultores independentes e do marketing multinível ganhou terreno.

Mais tarde, em 2012, com o surgimento da Compass, começou a privilegiar-se o caminho da marca do consultor e dos serviços 360.

Actualmente, acredito que o futuro é o da independência do Consultor e da sua Equipa, das marcas próprias, os chamados "Boutique Brokerages". São esses que a Relive quer potenciar, pois são Consultores Imobiliários de topo, mas não têm obrigatoriamente de ser "gestores profissionais". Nós tratamos dessa parte, ajudando a crescer o negócio, sem o consultor perder o foco do principal: prospeção, angariação e fecho.

Este é um negócio de mudanças lentas, mas o sentido é claro. Independência e Profissionalização do consultor.


Porquê a aposta no mercado norte-americano?

Apostámos nos EUA pois é onde toda a inovação começa. Onde começaram a REMAX, KW, CENTURY 21, EXP, etc? Nós queremos ser a próxima grande marca, portanto temos de competir directamente ao lado dos melhores. Quando cá chega a Portugal "o franchising", não chega a inovação, chega um "copy paste". Além disto, tivemos "a sorte" de encontrar investidores Americanos que confiaram que podíamos inovar num mercado que na altura desconhecíamos.

A Relive USA, começando por Austin, Texas, especializou-se em locating, ou seja, arrendamento de propriedades para habitação.

É um nicho mais pequeno que transacções, claro está, mas com enorme crescimento na geração millennial, numa fase em que o trabalho remoto impera - trazendo liberdade geográfica, a mudança de emprego é mais rápida e as taxas de juro aumentam... e, portanto, o potencial de arrendamento em detrimento da compra é maior. Mais tarde, entraremos também em transacções (compra e venda) no mercado Americano.


José Costa Rodrigues: Relive aposta nos EUA


Como se encontra o mercado imobiliário norte-americano?

Muitíssimo mais desenvolvido que o mercado Português e Europeu, a todos os níveis.


Que diferenças encontram entre os dois mercados?

Costumo dar dois exemplos dessa diferença: Nos Estados Unidos, qualquer imóvel que não tenha qualidade máxima (foto reportagem, vídeo, plantas, 3D tours, descrição do bairro, etc) nem entra na MLS/Zillow.

E qualquer consultor que não tenha formação credenciada, se diferencie, seja por marca própria, website próprio, redes sociais geridas de forma profissional, google reviews, etc, não tem forma de estar no mercado a gerar um rendimento decente. É demasiado competitivo.


Sentem o interesse cada vez maior dos norte-americanos no nosso mercado? O que procuram eles?

Já aconteceu repetidamente estar em sítios públicos, aqui no Texas ou na Florida, e ouvir em restaurantes, bares ou lojas, pessoas a falar sobre Portugal. É notório que cada vez mais americanos descobriram o nosso país e estão seriamente a pensar visitar ou investir.

A Relive quer ser, e será, uma grande ponte nesse sentido.


O que é necessário mudar na mediação imobiliária portuguesa?

Quando cheguei à América, percebi que eram necessárias 180 horas de curso, mais exame, simplesmente para ter licença de consultor. Depois, a cada dois anos, mais 90 horas de formação contínua...

Para se ter uma agência de mediação imobiliária (ser broker), precisava pessoalmente de ter sido consultor nos cinco anos anteriores!

Cá, há muitas barreiras à entrada, não é qualquer pessoa que pode estar no sector imobiliário.

Em Portugal, o que falta é a formação obrigatória e consequente credenciação dos Consultores Imobiliários. Esta actividade, tem de ser vista como uma excelente opção para quem procura uma carreira de sucesso e não como “último recurso”.

Contudo, penso que é uma mudança difícil quando os franchisings ou empresas de marketing multinível incentivam que "qualquer pessoa pode ganhar dinheiro no sector, sem experiência".

Nos Estados Unidos, ser Consultor Imobiliário é prestigiante. Porque não há de ser assim em Portugal?

A Relive quer contribuir para essa mudança.


Existe espaço e oferta para todas as redes e plataformas a operar no mercado português?

Espaço existe, ou tem de existir, porque há milhares de licenças de mediação imobiliária activas no país. No futuro, penso que o mercado será diferente e que obrigará a saída de várias agências, surgindo espaço para novos modelos de negócio.

No nosso caso, acreditamos que é o momento ideal para introduzir uma plataforma, focada em servir os Consultor Imobiliários produtivos.

Com a confirmação de uma crise, apenas as agências com uma gestão profissionalizada e sustentável conseguirão manter-se. Para os Consultores, será um momento de adaptação ao novo ciclo de mercado e só conseguirão crescer os que estão totalmente dedicados à actividade.


Como vêem o futuro do mercado imobiliário perante cenários como a inflação e aumento das taxas de juro?

Não sendo economista, diria apenas que as taxas de juro crescentes irão desacelerar o acesso ao crédito e a consequente compra de habitação. Ainda assim, ao mesmo tempo, com a escassez de produtos residenciais, usados e construção nova, o preço pode não ter tendência a cair de forma repentina. Em regra, o mercado imobiliário português é, como dizia antes, dinâmico e robusto.

Aqui em Austin, Texas, as transacções já estão a decrescer cerca de 30% VS 2021 (um ano de excessos e loucuras), mas ainda ligeiramente acima da média dos anos anteriores. Veremos o que acontecerá.


Qual a vossa estratégia para este ano e os próximos?

A nossa estratégia continua fiel à visão que eu e os meus sócios tivemos no início: Sermos uma plataforma para o empreendedorismo no sector imobiliário, potenciando Consultores a criar negócios de sucesso, através da nossa tecnologia (App) e dos serviços de back office que prestamos ao seu negócio.

Focaremos apenas nos melhores consultores do sector, ajudando-os a escalar o seu negócio de forma eficiente e sustentável, poupando tempo e ganhando mais dinheiro.

Gostaria que a Relive fosse para o mercado imobiliário o que a Gestifute (agência de jogadores fundada por Jorge Mendes) é para o futebol, ou seja: É onde apenas os melhores estão, assegurando-se que o mais importante são as suas próprias marcas e performance, garantindo que as suas carreiras vão de vento em pompa.

Connosco será semelhante, a única preocupação dos nossos parceiros será manter o foco em ser profissionais de topo... e fazer mais e melhor.