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Alojamento de São Sebastião, foto de João Morgado

A partir de um pequeno e histórico edifício em Braga nasce o Alojamento de São Sebastião

11 de janeiro de 2023

A Rua de São Sebastiãoé uma artéria singular na história urbana de Braga e num pequeno edifício histórico nasceu o Alojamento de São Sebastião, um projecto com assinatura do Tiago do Vale Arquitectos.

Na memória descritiva do projecto arquitectónico, o atelier Tiago do Vale Arquitectos, revela: O traçado da rua coincide com o Decumano Máximo da cidade romana, subindo de Poente para Nascente em direcção ao Fórum e constituindo o tramo final da Via XX (que ligava Astorga a Braga parcialmente por via marítima), sendo também uma chegada alternativa da Via XVI (que ligava Lisboa a Braga por terra). É portanto, uma zona de grande sensibilidade arqueológica.

Alojamento de São Sebastião, foto de João Morgado

À medida que a urbe medieval se moveu em direcção a norte, abraçando a Sé, este território ruralizou-se, ocupado com produção agropecuária que alimentava a cidade.

Finalmente, a expansão da cidade no século XX impôs uma forte transformação à rua, forçando um convívio desconfortável entre, por um lado, a sua grande sensibilidade arqueológica e a matriz eminentemente rural das construções existentes e, pelo outro, as pressões urbaní­sticas, os programas, a imagem e as formas de construir da cidade contemporânea.

Alojamento de São Sebastião, foto de João Morgado

A construção que acolhe o Alojamento de São Sebastião é uma sí­ntese destas circunstâncias históricas e das rápidas mudanças que a rua sofreu.

Encontrando-se em ruí­na, sobrevivendo com alguma integridade apenas um pano de fachada com rés-do-chão e primeiro piso voltados para a rua, identifica-se uma edificação de grande modéstia construtiva, com características que apontam para uma fundação de finais do século XVIII e apresentando áreas diminutas.

Alojamento de São Sebastião, foto de João Morgado

Reconhece-se também, através de vestí­gios sobreviventes no alçado e na empena meeira, um segundo piso mais tardio, com fachada em tabique e uma volumetria mais ambiciosa, que anotou uma vontade de ampliar a capacidade do edifí­cio numa construção que acabou por não perdurar.

O programa da encomenda (um estabelecimento de hospedagem) pedia uma forte eficácia no uso da exígua área disponível e volumetria possí­vel, num exercício de muito baixo custo, enquanto que o grande interesse arqueológico da zona implicava igualmente a adopção de técnicas construtivas minimamente invasivas.

Alojamento de São Sebastião, foto de João Morgado

A solução apresentou-se por forma de um desenho altamente sistematizado, permitindo economias de escala através da repetição de elementos padronizados e uma maior eficiência no uso das áreas por meio da integração de todas as necessidades de cada unidade no desenho modular do seu mobiliário.

Uma grande cuba cerâmica serve simultaneamente a instalação sanitária, a kitchenette e a lavagem de roupa (embora sejam disponibilizadas máquinas comunitárias de lavagem e secagem de roupa no piso térreo). Esta cuba à parte de um aparador que apoia também a entrada das unidades, com espaços para sapatos e chaves.

Esta peça integra-se num conjunto linear de mobiliário modular que resolve igualmente a kitchenette, a cama escamoteável, os arrumos e o roupeiro.

Alojamento de São Sebastião, foto de João Morgado

No lado oposto, a compacta instalação sanitária desenha o hall de entrada da unidade.

Para alcançar a mais eficiente organização das unidades e das suas interconexões no volume propuseram-se pisos alternados entre as frentes, garantindo uma soluço de circulação vertical central com o má­nimo dispêndio de área.

Esta solução é encimada por uma claraboia piramidal, reproduzindo uma tipologia recorrente na construção urbana portuguesa.

A fachada principal recupera os elementos sobreviventes do alçado original, propondo a reconstrução dos pisos superiores citando a memória da presença urbana da volumetria desaparecida mas procurando, também, a sua integração na rua de hoje, em escala, linguagem e cérceas dominantes.

O alçado tardoz recupera o alinhamento original da construção preexistente e, embora constituindo uma edificação integralmente nova, cita também tipologias de alçado recorrentes neste contexto urbano.

Alojamento de São Sebastião, foto de João Morgado


Em suma, o Alojamento de São Sebastião conforma-se entre, por um lado, a máxima eficácia e, pelo outro, o respeito pela memória da presença do edifí­cio existente e a longa e complexa história da Rua de São Sebastião.

Ficha Técnica:

Nome do projecto: Alojamento de São Sebastião

Arquitectura: Tiago do Vale Arquitectos (http://tiagodovale.com)

Equipa do projecto: Tiago do Vale, com Maria João Araújo, Camille Martin, Priscilla Moreira, Florisa Novo Rodrigues, Teresa Vilar, Clementina Silva, Hugo Quintela, Adriana Gomes

Ano: 2018-2020

Programa: Estabelecimento de Hospedagem

Localização: Braga, Portugal

Cliente: Vale Escuro Investimentos Imobiliários L.da

Eepecialidades: SIPC L.da

Construção: Edinfantas Construções L.da

Ano de construção: 2020-2022

Área de implantação: 52 m2

Área de construção: 217 m2

Mobiliário: Vintage Alternative Store (http://instagram.com/vintagealternativestore)

Fotografia: João Morgado (http://joaomorgado.com)