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“Podemos voar até à Lua, mas não garantimos casa para todos” - diz presidente da Associação Internacional de Inquilinos (IUT)

20 de abril de 2023

A crise de habitação afeta toda a Europa, numa altura em que se pode "voar até à Lua", mas não se consegue "garantir casa para todos”, assinala Marie Linder, presidente da União Internacional de Inquilinos (IUT - sigla em Inglês), em Lisboa para uma conferência.

Em entrevista à Lusa, num bairro de Lisboa, onde decorre uma reunião mundial de inquilinos, a dirigente sueca salienta que “há um problema de falta de habitação em toda a Europa, especialmente nas grandes cidades”.

Ressalvando as diferenças entre norte e sul, Marie Linder reconhece que há aspectos que ligam todos os países: “os jovens não conseguem sair de casa dos pais, porque não há casas acessíveis para eles, há sobrelotação, muitas famílias estão a viver em apartamentos pequenos, não têm quartos para todos, têm de partilhar, e a construção de novas casas está a descer, em toda a Europa”.


Marie Linder - Presidente da IUT - Foto IUT


“Estamos em 2023. Podemos voar até à Lua e muitas outras coisas, mas não conseguimos garantir uma casa segura para todos. Não é incrível? É isso de que as pessoas precisam, uma casa segura. Podemos fazer todas essas coisas, mas não achamos que seja assim tão importante que todos tenham uma casa segura para viver e não fazemos disso uma prioridade”, lamenta.

Recordando que as Nações Unidas estabeleceram como meta que toda a gente tenha uma casa segura e acessível até 2030, Marie Linder realça: “Faltam seis anos e não me parece que vamos atingir esse objectivo, quando olho para a Europa e para o resto do mundo”.

Para alcançar a meta, “todos os países, todos os municípios têm de começar a construir e cada país tem de apoiar o processo de construção, para que as casas sejam acessíveis”, defende, acrescentando a importância de reforçar a habitação pública e de existir uma mudança de visão.

“Toda a gente tem de comer todos os dias, toda a gente tem de ter uma casa. Temos de mudar a mentalidade. Não podemos aceitar que as pessoas não tenham abrigo, não podemos aceitar que as crianças cresçam em apartamentos sobrelotados. Temos de mudar o raciocínio: ter casa é algo muito importante, como ter comida na mesa e acesso à educação. Tem de estar no centro da sociedade”, sustenta.

As associações de inquilinos têm um papel fundamental em fazer avançar essa mudança de perspectiva, defende.

“[Na Suécia], as coisas não aconteceram por acaso. Somos uma associação de inquilinos com força e temos muitos membros. Se nos organizarmos e pressionarmos, podemos mudar as coisas”, vinca.

Como exemplo, Marie Linder recorda que há uns anos o governo sueco tentou impor rendas de mercado para as novas construções (na Suécia as rendas são negociadas entre proprietários e inquilinos), mas conseguiu-se reunir meio milhão de assinaturas para o impedir.

Na Suécia – onde 60% da habitação é pública (em Portugal esta percentagem fica-se pelos 2%) –, os inquilinos têm “bastante segurança”, mas persistem questões.

“O Estado não tem assumido a responsabilidade de garantir casas acessíveis para as pessoas”, aponta.

Em Lisboa, onde está para participar na 22.ª conferência mundial da União Internacional de Inquilinos, a que preside desde Outubro de 2019, Marie Linder ouviu dos representantes portugueses explicações sobre os programas e apoios nacionais e municipais que foram apresentados recentemente, para tentar dar resposta a uma crise crescente.

A União Internacional de Inquilinos está reunida em Lisboa para discutir o “problema transversal” da habitação e promover "o direito a uma habitação digna e segura”.

Entre quarta e sexta-feira, delegados de 21 países vão debater a habitação em geral e o arrendamento em particular.

Em nota de imprensa, a organização destaca que “a crise global na habitação piorou com o aumento do custo de vida, a guerra e as catástrofes naturais” e, nesse contexto, “as políticas de habitação têm de assumir um lugar central nas agendas políticas nacionais em todo o mundo”.

A IUT ( International Union of Tenants - sigla em Inglês) é governada por um Conselho. É o órgão máximo de decisão da IUT e reúne duas vezes por ano.

O Conselho também é composto por representantes de dez países: Áustria, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia e Suíça.

Lusa/DI