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Opinião

 

A Industrialização da Construção: uma mudança inevitável

16 de fevereiro de 2021

A produtividade no setor da construção, que representa 13% do PIB mundial, cresceu a uma taxa média anual de apenas 1% nos últimos 20 anos, comparativamente a 3% a nivel global. Em acréscimo, estima-se que o emprego na construção, atualmente 7% do total mundial, cresça além de 10% até 2030 e que, até ao mesmo ano, se concretize a reforma de pelo menos 35% da atual força laboral. Com o rápido crescimento da população mundial esperado para as próximas décadas, estima-se também uma necessidade de construir mais de 10 000 edifícios por dia até 2050, incluindo as respetivas infraestruturas.

Prevê-se assim a falta de recursos a médio prazo, que tendencialmente incrementará custos de construção e reduzirá a eficiência e rentabilidade do setor, que já se depara com várias questões a estes níveis, além de outros aspetos relacionados com a segurança no trabalho e com a atração, desenvolvimento e retenção de talento.

Juntando a estes fatores um potencial de automação da indústria avaliado em cerca de 50%, surge então o conceito de Industrialização da Construção (IC).

A IC é uma abordagem que recorre a tecnologias inovadoras para ligar a conceção à produção, através de processos “design-to-make”, requerendo, portanto, a integração de todas as fases do ciclo de vida do ativo construído e de todos os membros das equipas envolvidas, sob risco da sua implementação não ser bem sucedida.

As principais tendências da IC, enquadradas na chamada quarta revolução industrial ou indústria 4.0 (neste caso, construção 4.0), são: robótica e automação; construção offsite; big data, inteligência artificial e machine learning; e internet of things. A metodologia denominada de Building Information Modelling (BIM) destaca-se enquanto facilitadora da implementação destas novas tecnologias, ao proporcionar informação de forma centralizada e organizada ao longo do ciclo de vida dos ativos. 

Estas tendências têm o potencial para melhorar o planeamento e a gestão do âmbito, custos, prazos, ambiente e segurança na cadeia de valor dos projetos e ativos, enquanto que desafios como a escassez de mão de obra qualificada e a crescente necessidade de edifícios e infraestruturas são também mais facilmente respondidos.

A IC é assim uma evolução necessária, estimulada agora com o impulso da pandemia para a transformação digital, mas que não acontece sem significativas adaptações de processo e de mentalidade, num setor que se caracteriza como sendo tradicionalista e relativamente resistente à mudança.

Uma condição fundamental para o sucesso da implementação da IC é prepararmo-nos para o futuro do trabalho.

Para tal, terá de ser mobilizado um esforço conjunto entre universidades e empresas, conciliando conhecimento e experiência, no sentido de adaptar os seus modelos de ensino e de negócio à evolução do ambiente construído, que precisa de novas competências, para funções novas e existentes, de caráter mais tecnológico. Este movimento irá também permitir atrair mais talento para um setor relativamente pouco cativante e competitivo, assim como aumentar a diversidade de perfis e género.

O governo deverá igualmente assumir um papel ativo, criando sistemas de incentivo, estabelecendo normas e regulação, e definindo ambientes colaborativos, para facilitar a implementação da IC na indústria.

O triângulo universidades-empresas-governo deve assim promover um ecosistema colaborativo para todas as partes interessadas, investindo não só em tecnologia, mas sobretudo em pessoas, processos e normalização, de modo a sustentar aquilo que é o futuro da construção, que passa necessariamente pela sua industrialização.

Bruno de Carvalho Matos

Engenheiro Civil Sénior MRICS PMP MSc e MBA pela Católica | Nova

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico