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Mercado imobiliário não está a transparecer aquilo que parece ser evidente, a descida de preços

13 de novembro de 2020

Paulo Barros Trindade, presidente da direcção da ASAVAL - Associação Profissional Das Sociedades De Avaliação, revela que o mercado imobiliário, por ser mais inelástico, demore a reagir a uma crise económica. Admite que vai existir uma correcção de preços mas será ligeira.

Num ano em que celebram 10 anos de Associação e de profissionalização do perito avaliador, o responsável afirma ao Diário Imobiliário que existe hoje uma classe profissional muito mais bem preparada do ponto de vista da perícia técnica mas também um nível de responsabilidade acrescido, não acompanhado com um aumento de honorários.

De que forma a avaliação imobiliária irá se comportar neste momento que se vive e como está a reagir?

Desde o final do Verão que se verifica alguma normalização no que diz respeito ao volume de avaliações no sector financeiro. O sector adaptou-se às situações limite, em que não é possível realizar as inspecções físicas aos imóveis em condições de segurança, devido à pandemia, adoptando tecnologias como a videochamada. Mas são situações residuais, uma vez que a actividade na sua maioria está a decorrer com normalidade.

Muito tem se especulado sobre a consequente descida de preços das casas, apesar de se verificar uma resiliência. Qual a sua opinião? Como irá evoluir?

É normal que o mercado imobiliário, por ser mais inelástico, demore a reagir a uma crise económica. É, no entanto, esperado que venha a existir uma correção de preços, que já se começa a sentir em alguns mercados, como o do arrendamento.

Qual o impacto desta pandemia no mercado imobiliário? Já se verificam menos avaliações? menos transacções?

No período entre Março e Junho de 2020 e de acordo com dados do INE, existiu uma redução de 35 % nos pedidos de avaliação, mas no final do Verão o número de pedidos de avaliação já atingia números semelhantes aos que se verificavam antes da pandemia.

Como os profissionais estão a viver esta pandemia?

Estamos a acompanhar atentamente as variações que analisamos no mercado e a informação que vai sendo disponibilizada, quer em estudos, quer nas estatísticas do INE. São tempos difíceis para a nossa actividade, uma vez que o mercado imobiliário ainda não está a transparecer totalmente aquilo que parece ser evidente ir acontecer, ou seja, uma correcção nos preços, mesmo que não muito acentuada.

Quais os desafios da avaliação imobiliária no futuro?

São vários os desafios que se colocam à nossa actividade, sendo um dos centrais a sustentabilidade económica da actividade, uma vez que o nível de honorários praticado no sector financeiro permanece aquém do que seria esperado para a perícia técnica e responsabilidade que é exigida a um perito avaliador. Existem ainda outros desafios como a incorporação de novas tecnologias, a normalização da actividade com a definição de normas transversais a todos os segmentos do sector da avaliação imobiliária e a necessidade de criação de requisitos claros de acesso à profissão, nomeadamente, fora da actividade desenvolvida para o sector financeiro.

Numa década da ASAVAL, que balanço faz desta atividade e dos seus profissionais?

O sector está muito diferente do que estava há 10 anos. Foi muito grande a aposta das sociedades de avaliação e dos peritos avaliadores na formação especializada e na obtenção de acreditações profissionais internacionais. Temos hoje uma classe profissional muito mais bem preparada do ponto de vista da perícia técnica. Temos também um nível de responsabilidade acrescido, em especial na actividade desenvolvida no sector financeiro. No entanto, para além destes pontos e como já referi anteriormente, a grande diferença desta década centra-se nos honorários praticados, que hoje em dia chegam a ser metade do que era praticado há 10 anos. Se juntarmos tudo isto – maior perícia técnica, maior qualidade e maior responsabilidade, com honorários substancialmente mais baixos – temos no mínimo um enorme contrassenso.