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Centro de Arquitectura do CCB reabre com novas perspectivas sobre coabitação entre espécies

 

Centro de Arquitectura do CCB reabre com novas perspectivas sobre coabitação entre espécies

31 de março de 2025

O Centro de Arquitectura do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que reabre na quarta-feira com uma "exposição polifónica" sobre a coabitação entre espécies, vai funcionar também como "espaço de encontro e de produção de conhecimento", segundo a curadoria.

“É uma exposição polifónica porque tem muitas perspectivas. Queremos que seja uma narrativa colectiva e a várias vozes”, declarou a curadora-chefe Mariana Pestana, em entrevista à agência Lusa sobre a abertura do espaço encerrado há um ano.

O Centro de Arquitectura (CA) da Garagem Sul do Museu de Arte Contemporânea – Centro Cultural de Belém (MAC/CCB) reabre na quarta-feira, às 19:00, com entrada gratuita e uma programação que inclui uma conversa de apresentação da exposição “Interespécies” envolvendo vários investigadores, e música criada por sons de várias espécies.

O espaço vai funcionar “não apenas para acolher exposições que partam da arquitectura para falar sobre as grandes questões contemporâneas, mas também como lugar de encontro, de trabalho e de produção de saber”, sublinhou a responsável, formada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.



Centro de Arquitectura (CA) da Garagem Sul do Museu de Arte Contemporânea - Imagem CCB



“O CA teve uma intervenção leve, mas bastante transformadora criada pelo atelier Bureau, respondendo a um programa curatorial que explora formas de criação de conhecimento colectivas feitas através de exposições, residências, bolsas de estudo, programas públicos e publicações”, descreveu a curadora-chefe à Lusa, acrescentando que o público poderá ali visitar projectos concluídos e outros em curso.

O espaço já funcionava como área expositiva da disciplina de arquitectura no CCB, e agora com o novo projecto liderado por Mariana Pestana, escolhida pelo CCB por concurso no início de 2024, terá também espaços de trabalho, para eventos e conversas.

No interior, o público vai encontrar o primeiro ciclo expositivo, dedicado ao tema da arquitectura interespécies, “que serve não só as pessoas, mas também os ecossistemas”.

“É uma abordagem ecológica da arquitectura, mais complexa”, explicou a arquitecta sobre um projecto que contou na equipa com Anna Bertmark, Fernanda Costa, Valentina Demarchi, Bernardo Gaeiras, Mathilde Gouin, Katerina Iglezaki, Carlos Pastor e Mariana Simões (Bauhaus of the Seas Research Group).

O projecto vem no seguimento do trabalho de investigação que Mariana Pestana tem desenvolvido, nomeadamente oficinas curatoriais com aquele grupo de investigadores com doutoramento em curso e investigação na área de arquitectura, design, interação e interespécies, “numa preocupação mais que humana”.

A exposição evoca os princípios das antigas exposições que misturavam curiosidades científicas, projectos artísticos, elementos decorativos e materiais de decoração: “Essa convivência de diferentes formas de conhecimento influenciou bastante a nossa forma de trabalhar”, comentou.

“Interespécies” vai ser dividida em três partes: uma intitulada “Aproximar”, com projectos e exercícios de novas perspectivas de ver o mundo, que não a cartesiana; outra chamada “Coabitar”, com arquitecturas, materiais de construção que são de convivência de pessoas com peixes, insectos e mais diferentes espécies; e “Conspirar”, sobre a questão dos direitos da natureza e o modo como o urbanismo e a legislação têm evoluído no sentido de proteger determinadas espécies, para garantir a sua sobrevivência, avançou Mariana Pestana à Lusa.

Os visitantes serão surpreendidos pela descoberta de novas experiências, como a do designer que se propôs viver como um bode durante três dias, pastores que falam linguas que se aproximam dos sons dos pássaros para chamar o gado, ou a vida de um flamingo no estuário do Tejo.

A exposição envolve criadores das áreas do cinema, informática, biologia, videojogos, de forma a atrair um público mais amplo - além dos arquitectos – com curiosidade para experimentar, por exemplo, um jogo em que se troca de corpo com outras espécies, ou observar arquitecturas criadas especialmente para pássaros e insectos.





O projecto vê a arquitectura “como uma prática relacional, que põe em relação pessoas, lugares, condições laborais, vidas, territórios, materiais”, resumiu a investigadora.

“Consideramos que os usuários da arquitectura são pessoas mas também são pássaros, plantas e minerais”, explicou a curadora sobre uma linha de pesquisa que tem sido desenvolvida por alguns investigadores em todo o mundo.

Mariana Pestana coloca em primeiro lugar as pessoas, mas como parte de ecossistemas: “Nós vivemos em interdependência com outras espécies, como as árvores, e é importante ter isso em conta. É uma consciência para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos”.

“É também uma posição filosófica pós humanista, a partir de dentro da natureza, e realmente um pouco crítica da forma de fazer arquitectura industrializada, virada para buscar outras referências”, sustentou cofundadora de The Decorators, um estúdio interdisciplinar que concebe objectos, 'workshops', eventos e edifícios através de processos colaborativos que investigam noções de lugar, comunidade e comensalidade.

Para as residências, que passarão a ser anuais no Centro de Arquitetura, foram seleccionados, este ano, o atelier dinamarquês Superflex em conjunto com os portugueses KWY e o Estúdio Obsidiana, que desenvolvem projectos de arquitetura para pessoas e pássaros.



Mariana Pestana (Arqª) - Imagem cortesia ITI



Os ateliers em residência irão criar instalações de arquitetura para apresentar no Jardim das Oliveiras e no Jardim da Água do CCB a inaugurar em 28 de Junho, com um programa paralelo de conversas, indicou.

O que também terá continuidade a partir deste ano são as duas bolsas anuais de arquitectura para todas as pessoas ou colectivos, no valor de 10 mil euros cada, e que correspondem à temática de cada ano do Centro de Arquitectura do CCB.

A curadora sublinha a importância destas bolsas num país onde existem poucos apoios para a criação em arquitectura: “É importante acrescentar um valor que permita dar um primeiro passo, fazer um projecto e promover manifestações de arquitecturas com um carácter mais de investigação ou experimentação que não sejam necessariamente obra construída”.

Questionada sobre os públicos que quer atrair à Garagem Sul, a responsável disse que os visitantes deste espaço “são muito fiéis” e espera que seja interessante para os arquitectos que estão a estudar, poder encontrar ali resposta a algumas das suas preocupações.

“Do contacto que tenho com alunos, vejo que têm muitas preocupações de ecologia, muito centrais nesta geração, e também face ao clima politico actual internacional muito desolador. Aqui queremos, através da arquitectura, investigar formas de existir, de pensar de estar no mundo que permitam alguns espaços de segurança e de esperança”, disse.

O Centro de Arquitectura do MAC/CCB vai estar aberto ao público a partir de quinta-feira, entre as 10:00 e as 18:30, iniciando um novo ciclo com o foco na coabitação entre humanos e outras espécies.

Lusa/DI