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UNESCO selecciona candidatura da APRUPP dedicada à reabilitação do edificado do Porto

30 de outubro de 2020

A APRUPP - Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património acaba de ganhar uma candidatura da UNESCO no âmbito do programa "World Heritage Vounteers initiative 2021". 

A sua candidatura foi seleccionada de entre as diversas candidaturas a nível mundial. Assim, irão ser realizadas actividades da APRUPP em Fevereiro-Março de 2021, no Porto, sob a égide da UNESCO. 20 jovens de todo o mundo durante 10 dias irão ter a oportunidade de colaborarem no mapeamento do nível de transformação do Património edificado do Porto, conhecer as suas características, visitar edifícios antigos e colaborar nos workshops em contexto de rua de reabilitação de caixilharias típicas do Porto, outros elementos construtivos e paredes de tabique. Esta iniciativa será gravada para a realização de um pequeno video a enviar à UNESCO. Durante os 10 dias realizar-se-ão diversos debates online entre os jovens voluntários, interessados e entidades locais, regionais e nacionais para a apresentação de modelos de gestão, dos locais classificados, que integrem boas práticas de reabilitação e promoção.

O World Heritage Volunteers (WHV) Initiative que está inserido na estrutura da UNESCO World Heritage Education Programme, tendo esta estrutura lançado o WHV em 2008 e desde aí já mobilizou mais de 5000 jovens de todo o mundo e 100 jovens organizações (ONG) às quais a APRUPP se junta este ano.

A WHV Initiative tem como pressuposto que através de uma confiança partilhada na capacidade colectiva de todos os intervenientes através de valores de cooperação, entendimento e respeito mútuo se consegue captar os jovens para serem os futuros stakeholders do Património Mundial.

"WHV – Porto in the path of cultural heritage sustainability"

A APRUPP  apresentou a candidatura intitulada "WHV – Porto in the path of cultural heritage sustainability" para o desenvolvimento de actividades na área de Património mundial UNESCO - o Centro Histórico do Porto, Ponte Luis I e Serra do Pilar - que foi seleccionada de entre as propostas a nível mundial. De referir ainda os apoios a esta candidatura do Professor Aníbal Costa da Universidade de Aveiro, a arquitecta Ana Antunes e a arquitecta Mariana Correia da Escola Superior Gallaecia.

Alice Tavares, presidente da APRUPP, em entrevista ao Diário Imobiliário explica como irá decorrer esta importante acção.

Como foi recebida esta selecção?

A selecção foi recebida com grande entusiasmo pela Direcção da APRUPP e equipa alargada que preparou a candidatura, pela oportunidade de levar mais longe a sensibilização para a preservação do Património. Foi especialmente gratificante verificar que o trabalho que a APRUPP tem vindo a desenvolver (https://aprupp.org/), desde a oferta de formação técnica em áreas da reabilitação, promoção de debates e interacção com entidades, foi reconhecido pelos decisores da UNESCO como experiência relevante de uma jovem associação sem fins lucrativos, pela defesa do Património e assim confiar a organização de uma das campanhas apoiadas pela UNESCO à APRUPP.

O facto de no último ano de campanhas do WHV (2019) terem sido seleccionadas apenas 16 candidaturas para a Europa e América do Norte é mais um factor de grande satisfação o trazer para Portugal e especificamente o Porto, um conjunto de debates necessários e de visibilidade internacional que pode servir de mote a muitas outras regiões nacionais ou Europeias.

De que forma esta iniciativa pode levar ainda mais longe a cidade do Porto e o seu património?

A UNESCO lançou esta chamada de candidaturas apenas para os locais classificados com interesse mundial e sendo a sede da APRUPP no Porto e esta a primeira candidatura que a APRUPP apresentava pareceu óbvio que a fizesse para o Porto. O Porto tem um reconhecimento do valor do seu Património, com um impacto crescente no turismo, mas que trouxe por isso mesmo uma pressão imobiliária grande sobre a área classificada.

A candidatura da APRUPP intitulada  “WHV – Porto in the path of cultural heritage sustainability"   irá contribuir para a visibilidade do Porto no contexto Europeu dos debates sobre práticas de reabilitação e de preservação do edificado antigo integrando os jovens neste diálogo. Este é um debate que tem sido levado a efeito em vários fóruns internacionais pelo reconhecimento da inexistência de uma posição concertada Europeia sobre este assunto. Reconhecemos que deveria existir uma Educação para o Património numa abordagem Europeia.

No projeto Europeu "Innovation in Intelligent Management Heritage Buildings" concluído em 2019 e do qual fiz parte como presidente da APRUPP, verificou-se durante os trabalhos que o sul dos países mediterrânicos e da Europa de Leste apresentam maiores tendências para a transformação radical do seu edificado antigo, enquanto outras regiões ou países como o Reino Unido e a França apostam em ter orientações mais precisas e cientificamente alicerçadas para a conservação de edifícios e têm isso mais enraizado culturalmente. Curiosamente também são dos países Europeus dos que mais apostam no turismo interno.

A candidatura da APRUPP, que trará ao Porto 20 jovens voluntários de todo o mundo e de várias áreas de formação, será divulgada em vários países e por isso não só teremos o Património do Porto divulgado, como teremos alicerces para uma comunicação do Património através dos jovens e da sua capacidade de serem precursores da sua defesa e valorização. Contribuindo dessa forma à nossa escala para uma Educação para o Património.

Esta iniciativa pode ajudar a preservar o património e a sensibilizar a população para a sua importância?

Estamos convencidos que terá capacidade para dar um grande contributo para a sensibilização da população, já que as actividades previstas, se tudo correr bem, serão em contexto de rua, permitindo a jovens de todo o mundo (os 20 voluntários) aprender e demonstrar com as técnicas tradicionais que é possível reabilitar os elementos identitários do edificado antigo do Porto. Esperamos que a dinâmica  e a vontade destes jovens contagie todos os que passarem na rua e seja um motivo para olharmos para a preservação do Património como algo natural na nossa cidade.

Durante 10 dias irá ser realizado um levantamento dos edifícios com elementos identitários capazes de ser uma imagem genuína da cidade, bem como  registar os níveis de transformação dessa imagem. Só com uma base de conhecimento de dados no terreno se podem avaliar os resultados do investimento até ao presente, bem como alicerçar novas estratégias.

Os debates previstos irão colocar entidades, gestores, proprietários, jovens voluntários, entre outros, concentrados em encontrar soluções para a melhoria da protecção da autenticidade e integridade do edificado antigo e falar de casos de sucesso e erros a evitar. É com grande expectativa que a APRUPP aguarda a possibilidade de um desses debates ser sobre o novo plano de gestão desta área classificada, conhecer os dados que estiveram na base da sua execução e as formas encontradas para se garantir a aplicação de boas práticas de reabilitação. Os debates serão públicos com transmissão online.

Que património, edifícios estão programados para levar a cabo este trabalho?

O programa irá debruçar-se exclusivamente sobre os edifícios residenciais típicos do Porto, de alvenarias de pedra e estruturas de madeira. Prevê a visita técnica a um edifício que será usada para sensibilizar para a necessidade de realização de acções de inspecção e diagnóstico antes de qualquer projecto ou intervenção de reabilitação. Outras visitas a edifícios residenciais para dar a conhecer os elementos caracterizadores da imagem urbana e patrimonial do Porto.

Finalmente, alguns desses elementos, retirados de obras em curso, como caixilharias, clarabóias, paredes de tabique serão reabilitados ao vivo, durante dois dias, completando-se assim uma abordagem desde a visão geral ao detalhe significante. Dando a conhecer os procedimentos e as boas práticas a diferentes escalas e com isso tornar a ideia de reabilitação menos complexa. Os edifícios são em muitos casos os únicos registos que temos de práticas construtivas antigas e por isso detentores de informação valiosa que devemos preservar. É por este motivo que grande parte do programa se concretiza em contexto de rua.