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Opinião

Francisco Mota Ferreira

A arte subtil de saber dizer que se f*da

13 de março de 2023

As alminhas mais sensíveis que me perdoem a liberdade de linguagem que usei para intitular este meu artigo, mas quem está mais atento ao mercado editorial sabe bem que este foi roubado a uma obra que, se a memória não me atraiçoa, foi publicado a primeira vez em Portugal em 2018.

No livro, o autor Mark Manson rompe com o politicamente correcto e mostra-nos que o caminho para a felicidade e o sucesso se calhar não passam (apenas) pelo pensamento positivo ou por seguirmos um qualquer guru da moda, mas acreditarmos que temos de ser nós a lidar com a adversidade e construir as soluções para a superarmos. E, talvez a lição mais importante deste livro seja a necessidade de que todos e qualquer um de nós deve ter em relação à nossa própria finitude e às nossas limitações. E aceitarmos que não podemos chegar a todos e a todo o lado.

Lembrei-me deste título e deste livro quando, recentemente numa tertúlia com malta ligada ao imobiliário lá vieram algumas das histórias mais escabrosas que recorrentemente os consultores imobiliários são confrontados no dia-a-dia da sua actividade. Depois de ter estado a ouvir algumas desventuras, decidi expressar a minha indignação nestas linhas e, uma vez mais, desculpem-me as pessoas mais impressionáveis, mas acho, sinceramente, que quem lida com o imobiliário tem de começar a aprender, de forma subtil, a capacidade de saber dizer que se f*oda.

Reparem só no contrassenso: enchemos a boca a dizer que a profissão de consultor imobiliário é bestial porque quem aqui anda tem a capacidade de gerir os seus horários, ganhar imenso dinheiro, crescer profissionalmente numa marca (ou em várias) ou conhecer pessoas extraordinárias. E sabemos bem que, tendencialmente, é isso que acontece à maioria das pessoas que por aqui anda. Felizmente.

Mas depois acontece algo que nos estraga a boa disposição. Até podemos ter 90% do nosso dia a correr de forma bestial que basta que uma coisa corra menos bem dia para que fiquemos aborrecidos com o mundo, que duvidemos das nossas capacidades ou que tentemos mandar tudo às urtigas. E é extraordinário pensarmos como é que um episódio menos bom pode estragar tudo. Eu diria que tal acontece porque, quando somos confrontados com isso, não temos a capacidade de dizer que se f*oda (again, pardon my french). E, no dia-a-dia de um consultor imobiliário, há algumas oportunidades que, se tivermos a coragem de assumir para nós esta frase mágica, teremos um dia muito melhor. Vocês sabem bem quais são, pelo que me abstenho aqui de as enumerar.

Voltando ao livro, permito-me aqui deixar uma última sugestão. Esta é uma obra que está escrita com doses de humor inteligente e que recomendo vivamente. Por isso, se e quando quiserem praticar esta arte junto de quem vos está a atrasar no vosso sucesso, sejam subtis e pensem bem como vão dar a volta ao problema: lembrem-se que nem toda a gente consegue dizer que se f*oda com um sorriso nos lábios.

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem aos livros “O Mundo Imobiliário” (2021) e “Sobreviver no Imobiliário” (2022) (Editora Caleidoscópio)