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Transição energética, consciencialização e indiferença - um estudo europeu

24 de outubro de 2023

De acordo com um inquérito de âmbito europeu, mais de metade dos cidadãos da UE participam já, de forma activa, na transição energética. O mesmo estudo revela ainda que existem grandes diferenças entre países e que os obstáculos existentes não permitem um impacto mais significativo.

As questões energéticas dividem os cidadãos europeus: cerca de 60% participam já, de uma forma activa, na transição energética, mas os restantes estão a ser negligenciados. Este facto é revelado por um inquérito supranacional efetuado em toda a UE, no âmbito do projecto de investigação GRETA (Green Energy Transition Actions) do programa Horizonte 2020.

Com base na investigação, envolvendo cerca de 10 mil participantes de 16 países da UE, foram identificados oito perfis distintos entre os cidadãos da União, com base nas suas atitudes e comportamentos relativos à transição energética. Os perfis diferem entre si na forma como participam de forma activa na transição energética, nas suas atitudes, motivações e recursos relativamente a iniciativas relacionadas com energia sustentável. Os oito perfis abrangem o espectro dos menos aos mais activos: indiferentes; cépticos; condicionados; imaturos; motivados; altos investidores; decididos; conhecedores.


Apenas um em cada cinco cidadãos pode ser descrito como decidido e conhecedor

O estudo mostra que 58% dos cidadãos da UE – pessoas que fazem parte dos quatro últimos perfis mencionados – são designados pelos investigadores GRETA como "activos" ou "empenhados". Ou seja, já participam na transição energética, por exemplo, através de poupanças básicas na sua actividade diária, investindo em tecnologias de energia verde, ou manifestando-se por soluções mais verdes. Por exemplo, um em cada cinco cidadãos pode ser descrito como decidido e conhecedor, um grupo disponível para experimentar novas tecnologias energéticas.

Com base no estudo GRETA, mais de 60% dos cidadãos da UE concordam que a tradição energética é uma tarefa conjunta, para a qual todos devem contribuir. No entanto, as oportunidades de participação não são iguais para todos.

Com efeito, cerca de 40% dos cidadãos podem ser classificados como – indiferentes, cépticos, condicionados ou imaturos, que dificilmente aumentarão o seu envolvimento sem um apoio mais sustentado. A título de exemplo, um quinto dos cidadãos pertence ao grupo dos limitados, que têm consciência das questões energéticas, mas delegam na ciência a tarefa de as resolver. Podem ter interesse na poupança de energia, mas não possuem recursos para investirem por si mesmos.

Com base nos estudos de caso GRETA e na investigação efectuada em vários países, os maiores entraves ao envolvimento dos cidadãos são os constrangimentos financeiros, a falta de conhecimentos e a atitude individualista de que "não vale a pena". Muitas pessoas continuam a considerar que compete aos respectivos governos a tarefa de liderarem políticas relativas a eficiência e conservação energéticas.



Criação de legislação permitiu a Portugal aumentar o envolvimento dos cidadãos

Os dados mostram igualmente que existem diferenças entre países. Dos 16 países estudados, Portugal é o que apresenta mais entusiastas pela transição energética - cerca de 50% da população. É também o país com menos indiferentes, aqueles sem qualquer tipo de preocupação com as questões do clima. Em comparação, as maiores taxas de indiferentes, cépticos e sem disponibilidade para acções relativas ao clima, encontram-se na Dinamarca (30%), Alemanha (26%) e Chéquia (26%).

"O governo português introduziu em 2019 modificações ao regime de autoconsumo de electricidade renovável. Conseguiu, desta forma, apoiar a criação de comunidades de energia renovável, autoconsumo de energia individual e colectiva, bem como a troca directa. Trata-se de um bom exemplo de implementação por parte de um Estado Membro de um quadro regulamentar derivado da Directiva de Energia Renovável da UE de 2018", afirma a professora assistente na Universidade LUT, Annika Wolff.

O estudo

Os resultados GRETA resultam de uma investigação supranacional, envolvendo cerca de 10.000 participantes em 16 países da UE, bem como seis estudos de caso levados a cabo em Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Países Baixos, e globalmente na União.

A investigação foi efectuada em Setembro-Outubro de 2022 em 16 países da UE, incluindo Áustria, Bélgica, Chéquia, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Alemanha, Hungria, Irlanda, Itália, Países Baixos, Polónia, Portugal, Roménia e Espanha. Foram obtidas cerca de 10.000 respostas.

O tamanho da amostra corresponde a uma margem de erro de cerca de 1%, com um nível de confiança de 95% (a nível UE). A amostra respeitou critérios de idade, género, e distribuição geográfica por forma a garantir a respetiva representatividade em cada país.

O projecto GRETA

Desde 2001, o EU Horizon project GRETA (2021-2023) tem vindo a desenvolver estudos energéticos, ao nível individual e comunitário. Energia individual significa que os cidadãos podem fazer uso da energia de uma forma sustentada e dessa forma participarem activamente na transição energética. O projecto GRETA tem estudado a forma como a utilização da energia funciona em diferentes contextos e âmbitos geográficos, e que tipo de conhecimento, estruturas sociais, recursos tecnológicos e financeiros são necessários para uma cidadania empenhada nas questões da energia. O projecto tem como objectivo criar uma cidadania alerta para a emergência energética, através da consciencialização e remoção de obstáculos políticos no interior da UE.