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Opinião

 

Quem quer resolver o problema da habitação?

28 de fevereiro de 2020

Há muitos anos uma amiga contou-me uma história: os pais tinham comprado uma vivenda, nos arredores de Lisboa, com um empréstimo bancário e, passadas umas dezenas de anos, acabaram de pagar o empréstimo e ficaram donos da casa. Ao contrário, os seus tios, tinham optado por arrendar uma casa e, ao fim das mesmas dezenas de anos a pagar rendas, não tinham nada.

Depois, a mãe ficou viúva, reformou-se e foi viver para o Algarve. Arrendaram a vivenda e, com o rendimento, pagavam a residência da mãe. Quando a mãe faleceu, a filha vendeu a casa.

Ou seja, se para uns os pagamentos mensais pela casa significaram, além do direito a usufruir da habitação, uma poupança para o futuro (investimento), que se traduziu em complemento de reforma e uma herança para os filhos, para os outros tratou-se apenas de um custo.

Entretanto o mercado mudou e quem optar pelo arrendamento será ainda mais prejudicado. Terá muita dificuldade em encontrar uma casa adequada ao que procura, com uma renda que possa pagar. Segundo uma plataforma credível, verifica-se que, no Concelho de Lisboa, apenas cerca de 7% dos apartamentos disponíveis no mercado estão para arrendar (os outros 93% são para venda).

Para além disso, os prazos de arrendamento são curtos e as rendas tem aumentado muito acima dos salários, correndo-se o risco de despejo, passados poucos anos, para dar lugar a quem possa pagar mais.

A aquisição de casa própria garante mais segurança e autonomia aos cidadãos, o que é especialmente importante perante o aumento expressivo da esperança de vida que temos assistido nas últimas décadas… E em caso de alguma mudança de circunstâncias pode sempre arrendar ou vender a casa…

Infelizmente, no entanto, a compra de imóveis nos grandes centros urbanos não é opção para muitas famílias pois os preços não são compatíveis com os rendimentos disponíveis de uma classe média cada vez mais empobrecida e empurrada para os subúrbios.

Foi para dar resposta a este problema que lançámos um novo modelo de promoção imobiliária, a que chamámos Co-Investimento Imobiliário, que permite a aquisição de casa própria praticamente a preço de custo. A margem de lucro do promotor é de 1% e com isso baixamos os custos em cerca de 24%.

Sabemos que, face à dimensão dos custos envolvidos (terrenos, construção, impostos, etc.) e aos baixos rendimentos da população, embora essa redução seja substancial, não será suficiente para que todos possam comprar casa própria. Contudo, acreditamos que este modelo será uma boa ajuda para muitos e poderá ser um ótimo ponto de partida para, através de parcerias com entidades interessadas em resolver o défice de habitação, designadamente municípios, bancos e construtores, se conseguir implementar projectos com cada vez maior dimensão.

Só assim, gerando muita oferta, conseguiremos que o modelo seja socialmente relevante.

Quem ganha com isso? Uma classe média que quer continuar a viver nos grandes centros urbanos e que, através do co-investimento imobiliário, pode ter acesso a uma casa nova a preços mais moderados.

Já existe experiência para poder dar dimensão ao modelo de co-investimento imobiliário. A avaliar pela recepção do mercado a um primeiro projecto lançado na zona do Lumiar, vendido em tempo recorde, percebemos que há muitos interessados em adquirir casa através deste modelo. Resta agora conseguir escalar e para isso é decisivo que os grandes proprietários de terrenos, como o Estado, os municípios, os bancos e outras entidades privadas, queiram também aderir a um modelo que se mostra favorável a todas as partes envolvidas.

Acreditamos que a falta de habitação acessível, comum a muitas cidades, é um problema que, pela sua dimensão e complexidade, exige a colaboração entre entidades públicas e privadas, sem a qual será impossível de resolver. Pela nossa parte estamos totalmente disponíveis para colaborar.

Rui Coelho

Administrador Própria | Co-Investimento Imobiliário