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Opinião

 

Confiança

13 de outubro de 2020

Já aqui vos falei como gosto e privilegio a partilha como forma de negócio. Acredito que, com a partilha, conseguimos satisfazer de forma célere o nosso cliente, focando-nos no que é essencial – a compra ou a venda de um imóvel – permitindo-nos, ao mesmo tempo, alargar o nosso círculo de contactos entre pares.

Hoje em dia tenho, felizmente, um grupo coeso de profissionais a quem recorro quando quero satisfazer algum pedido de um cliente comprador. Mas recorro também a esta rede quando tenho algum pedido que não é meu e onde acabo apenas por fazer a ponte entre os negócios. Não são muitos, é verdade, e a maioria deles não está a trabalhar na empresa onde actualmente me encontro. Em comum temos o facto de termos uma relação franca e aberta de partilha de oportunidades de mercado e nenhum papel assinado que garanta que todos nos vamos portar bem. Os papeis e a burocracia acabam sempre por aparecer porque estamos ligados a agências ou porque o match acabou por acontecer. Mas o meu ponto não é esse.

Tenho com estes nossos colegas (e eles comigo) uma relação de confiança que nos permite apresentar o produto que temos para venda (ou a referenciação do cliente) sem qualquer tipo de problemas, sem acharmos que vamos por trás fazer o contacto para que o negócio seja só para uma das partes. E isso acontece, naturalmente, porque somos profissionais, porque temos e criámos uma relação de confiança. E porque, nestes casos que vos falo, estamos a falar de negócios de seis dígitos, com comissões bastante agradáveis que chegam e sobram para todas as partes envolvidas. Claro que nem tudo são rosas: estes negócios demoram meses e a taxa de sucesso é reduzida. Poderão sempre argumentar que, no fundo, o modus operandi que vos descrevi aqui não será muito diferente daquele que exige à cabeça NDA, LOI, acordos de parceria e toda a tonelada burocrática que os advogados adoram. Verdade, porque os papeis acabam sempre por aparecer. Mas, reforço, o meu ponto não é esse.

Num universo perfeito, as relações pessoais que se criam seriam a nossa moeda de troca, o nosso cartão de visita, o nosso ponto de honra. Um amigo meu norte-americano que não anda nestas vidas, mas que não deixa de ter responsabilidades com clientes, mostrou-me um dia um contrato assinado entre o CEO da empresa e ele próprio. A particularidade do mesmo era que este estava assinado a lápis. Quando lhe perguntei o porquê, ele referiu-me que o assinar a lápis (que podia ser apagado) era um proforma. O que valia mesmo era a palavra dada, o shake hands entre os dois.

Num sector que é tristemente famoso por pregar rasteiras, atraiçoar e enganar o próximo, tenho consciência que estamos a anos luz desta realidade que acima descrevi. Porém, gosto de pensar que, neste mundo imobiliário a que tenho a sorte de estar ligado, as minhas parcerias e os amigos que já fiz são, talvez, um oásis de excepção que me fazem acreditar nesta profissão. É, naturalmente, a eles que dedico esta crónica.

Francisco Mota Ferreira

Consultor Parcial Finance