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Arrendamento

 

Construir para arrendar: Mais do que uma tendência é uma necessidade, alerta a Savills

13 de maio de 2021

O mercado do arrendamento em Portugal está a crescer, fruto de novos padrões de consumo e da emergência de uma multiplicidade de preferências manifestadas pelas gerações mais novas quando entram no mercado de habitação.

A Savills, consultora imobiliária internacional, marcou presença no arranque da recente VIII Semana da Reabilitação Urbana, em Lisboa, com a temática do mercado de arrendamento e do paradigma emergente do Built-to-Rent, Construir para Arrendar.

Numa apresentação que explorou a tendência que aponta para uma transformação do mercado habitacional, Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal, explicou que Portugal se situa a meio da tabela dos países europeus em termos da percentagem de proprietários de residências comparativamente àqueles que as arrendam, ou seja, 73,9 por cento e 26,1 por cento, respetivamente. Em países como a Suíça, Alemanha e Áustria, estas percentagens denotam um maior equilíbrio, com um rácio de quase 1:1. De recordar, que, durante o primeiro trimestre de 2021, foram vendidas 49.608 habitações em Portugal, um aumento de 21 por cento face aos mesmos períodos de 2019 e 2020.

Contudo, uma mudança na realidade portuguesa pode estar para breve. O mercado de arrendamento apresenta-se como uma opção mais apelativa do que a compra – em muitos casos é mesmo a única opção viável para muitos jovens que procuram sair de casa dos pais e também para famílias com dificuldades no acesso a crédito bancário.

Também se deve sublinhar a questão dos rendimentos, cujo aumento não conseguiu acompanhar o crescimento do preço médio de compra. Dados recolhidos pela Savills indicam que, entre 2011 e 2018, se registou um aumento de 4,77 por cento no salário bruto médio na Área Metropolitana de Lisboa, ao passo que, entre 2010 e 2020, se verificou uma subida de 77,4 por cento no preço médio de compra de um T2 em Lisboa. A procura internacional, designadamente por via da atividade turística, tem atuado como impulsionador do aumento dos preços de venda.

Arrendamento: mercado nacional ainda não consegue dar resposta

Apesar de ser uma tendência que já se começa a notar, a oferta apresentada pelo mercado de arrendamento em Portugal ainda não consegue dar resposta à procura. No entanto, o Estado, seja a nível nacional ou autárquico, tem procurado implementar programas que permitam colmatar a diferença entre a procura e a oferta, designadamente através de medidas que dispensam investimentos iniciais nos terrenos de construção e licenças de construção e que apresentam benefícios fiscais.

Para os próximos quatro anos, está prevista a construção de cerca de 7.500 fogos, sendo que mais de 70 por cento do investimento será de iniciativa pública.

Simplificar: a palavra-chave para o arrendamento crescer

A Semana de Reabilitação Urbana ficou ainda marcada pela organização de uma mesa redonda, com a moderação de Patrícia Liz, CEO da Savills Portugal, que reuniu representantes de vários segmentos da indústria imobiliária: João Pita, Vice-President, RoundHill Capital; Ricardo Kendall, CEO, Smart Studios; Tiago Eiró, CEO, Eastbanc Portugal; Iolanda Gávea, Membro Direção, ALP; e Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário. O debate desenvolveu-se em torno do mercado português de arrendamento e a sentença foi unânime: o Built-to-Rent não é uma moda, é mesmo uma necessidade.

Os representantes apelaram a um maior diálogo entre o Estado e a indústria imobiliária, de forma que o processo legislativo possa acompanhar as necessidades deste mercado, e não atuar como um obstáculo ao crescimento da competitividade. Foi apontado que, para que seja possível alcançar níveis mais elevados de captação de investimento estrangeiro, há que fazer mudanças, como, por exemplo, encurtar os prazos de aprovação de licenças, cuja longa demora, comparativamente ao que se observa noutros países, obstaculiza o desenvolvimento do mercado de arrendamento em Portugal.

Também o segmento do alojamento local mudou durante o período pandémico. Restrições às viagens internacionais e a estagnação da atividade turística levaram a que muitos alojamentos locais colocassem os seus ativos imobiliários à disposição do arrendamento de médio a longo prazo.

Recorde-se que, segundo um estudo divulgado em maio pela Savills, em fevereiro de 2021, registaram-se 208.200 hóspedes e 472.900 dormidas em Portugal, uma queda de 86,9% e de 87,7% respetivamente, face a fevereiro de 2020. No entanto, antevê-se a recuperação da atividade turística já na segunda metade de 2021, altura em que a vacinação contra a COVID-19 deverá atingir o desejável impacto em Portugal e nas principais fontes externas de turismo do setor nacional.

No âmbito deste debate, Patrícia de Melo e Liz, CEO da Savills Portugal, sublinhou que "estamos perante um tema ainda recente, não só em Portugal, mas também na Europa, que está ainda a dar os primeiros passos na estruturação de um setor de rendimento em ativos de habitação nos seus diversos formatos".