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Preços no Algarve mantêm-se e não se verificam desistências na compra e venda de casas

10 de abril de 2020

Reinaldo Teixeira, CEO do grupo Garvetur /Enolagest, com uma vasta experiência no mercado imobiliário e na região do Algarve, acredita que vamos sair com uma imagem muito positiva desta crise e que o imobiliário sai reforçado como investimento seguro e que alguns  fundos de investimento poderão deslocalizar o seu interesse para este sector. Admite ainda que se verifica a manutenção dos preços e quanto aos contratos que tinham, estes cumpriram-se, nenhum cliente desistiu e já foram efectivadas diversas escrituras. Por parte da oferta, os seus clientes mantiveram a intenção de venda.

Qual o impacto desta crise no mercado imobiliário no Algarve?

Tendo em conta que se trata de uma situação totalmente inesperada e de dimensão mundial, temos de reconhecer que o país se uniu para enfrentar a pandemia e minimizar o impacto desta. Há a percepção de uma resposta colectiva, envolvendo na primeira linha os técnicos de saúde, todas as equipas de emergência médica, mas também o Governo, autarquias, e as entidades regionais, como o Turismo do Algarve que nunca é demais reconhecer e agradecer.

Nas nossas empresas, embora cumprindo todas as recomendações das entidades de saúde nacionais e internacionais, entre as quais o isolamento social, temos mantido um contacto com clientes e interessados em produto no Algarve, através dos meios electrónicos. A realidade “anormal” provocada pela pandemia, veio acelerar hábitos e comportamentos, hoje essenciais, quanto às tecnologias digitais.

Relativamente à região, temos a assinalar a manutenção dos preços e quanto aos contratos que tínhamos, estes cumpriram-se, nenhum cliente desistiu e já foram efectivadas diversas escrituras. Por parte da oferta, os nossos clientes mantiveram a intenção de venda.

Qual o segmento que mais será afectado?

Será prematuro, nesta fase, criar um ranking sobre a cadeia de valor dos segmentos imobiliários. Sem dúvida, a Covid-19 criou uma situação totalmente nova, mas consideramos que para o mercado imobiliário, o impacto imediato no crédito do surto de coronavírus será limitado. Contudo, um surto prolongado trará outros riscos.

As empresas necessitam de agilidade para preservar a sua capacidade de funcionamento, para que não seja desperdiçado o enorme esforço até aqui feito na contenção da pandemia e o regresso à normalidade seja facilitado.

Assim, neste quadro, há igualmente novas responsabilidades para o Estado, pelo que defendemos, para lá das medidas extraordinárias já aprovadas, que haja por parte do Governo uma acção efectiva junto do sector financeiro, para que a Banca tenha um papel de apoio às empresas.

Esta crise tem mostrado a importância da rapidez, agilidade e determinação das empresas em encontrar soluções e, por exemplo, poderão beneficiar da crescente procura por compras online. Na Garvetur, o universo de serviços disponível para os nossos clientes, assenta em sinergias entre as empresas participadas e foram agora reforçados os meios tecnológicos facilitadores do contacto com os clientes.

Com efeito, o Grupo Garvetur | Enolagest oferece um modelo inédito de serviços em Portugal, ao criar sinergias entre as 41 empresas associadas, desde a consultoria e abrangendo todo o parque imobiliário de investimento, mediação, compra, venda, construção, reabilitação, manutenção, remodelação, decoração de interiores e espaço exterior, assim como a gestão de imóveis e a área de seguros, bem como a de aluguer e venda de viaturas. O grupo diversificou ainda as suas actividades para as áreas de educação, formação e trabalho temporário.

À responsabilidade social que sempre nos norteou, alia-se agora ao dever cívico de ajudar os que mais necessitam. A Visacar, SA, uma das nossas empresas participadas, disponibilizou gratuitamente viaturas à Administração Regional de Saúde do Algarve (ARS) para utilização no apoio domiciliário à doença e a sua delegação na Serra da Estrela deu o mesmo exemplo apoiando, pelo seu lado, a Cruz Vermelha Portuguesa de Seia.

A Casa Pronta, outra das nossas participadas, maioritariamente vocacionada para a manutenção e conservação de habitações e jardins, iniciou um serviço de entregas ao domicílio de compras e medicamentos, para que os residentes se mantenham em casa. Por sua vez, a Alvarsol, lavandaria industrial, co-fundadora a par da Garvetur, da Enolagest, SGPS, oferece aos clientes a entrega gratuita de roupa, após lavagem e desinfecção.

Estamos totalmente empenhados no cumprimento das medidas determinadas, pelas entidades de saúde, para defesa da saúde dos nossos clientes e dos nossos colaboradores.

No sentido de capacitar as empresas e preparar o regresso à normalidade, para lá das medidas já referenciadas consideramos que os fundos comunitários (Portugal 20/30) têm de ser colocados à disposição das empresas de forma facilitada e com rapidez.

O turismo residencial também está apreensivo com esta situação. Qual a sua opinião?

Por uma vez, a localização periférica de Portugal, traduziu-se numa vantagem importante.

Tudo indica que vamos sair com uma imagem muito positiva desta crise, relativamente ao contágio que chegou quase um mês mais tarde ao nosso país, comparativamente a outros países europeus, e até ao momento o rácio habitantes/número de infectados, é o mais reduzido.

Tomando como exemplo o Algarve, a porta de entrada de milhares de visitantes, as medidas de segurança sanitária equipararam-se à segurança física, um dos itens de grande atractividade na região. De acordo com estudos conduzidos em tempo real pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, a curva de expansão da pandemia foi inferior ao registo nacional e, infelizmente, afectou primordialmente pessoas com outras patologias já reconhecidas.

 No contexto económico, acreditamos que imobiliário sai reforçado como investimento seguro, comparativamente com a bolsa, ou sistemas bancários de aforro, pelo que é nossa convicção que alguns  fundos de investimento poderão deslocalizar o seu interesse para o Imobiliário.

Já se verificam quebras na compra de casas? Mesmo de luxo?

Como já referi, será prematuro fazer avaliações. Os dados provisórios que até aqui coligimos indicam mais uma pausa, ou abrandamento das intenções de compra, do que uma quebra. Um dos melhores indicadores será, por ventura, a manutenção dos preços.

Contudo, consideramos ser importante o governo criar incentivos para investimento no Imobiliário, um dos sectores de actividade cuja contribuição para a retoma económica do país se iniciou em 2013 e, nos últimos anos foi dos mais importantes abrangendo, a par do Turismo, cerca de 10% e 8% do PIB, respectivamente, em 2017 e 2018.

Seria de considerar, em nossa opinião, a redução dos montantes do programa Golden Visa. Outro dos programas que se deveria reforçar é o pacote de benefícios fiscais, para atrair mais residentes estrangeiros, de forma a aumentar o consumo.

E o turismo? Como acha que irá ultrapassar?

Como era inevitável, registamos cancelamentos nos alojamentos turísticos para a Páscoa, mas temos clientes que ao invés de cancelar, adiaram as suas reservas para o verão.

Uma das vantagens que temos no Algarve é a relação muito forte com o mercado nacional. No entanto, acreditamos que a época alta de 2020 será mais curta e teremos principalmente procura do mercado nacional.

A retoma de outros mercados está dependente da normalização da procura nos mercados emissores de turistas. Será necessária a reconstituição das rotas e de pontes áreas, pelo que será um processo gradual e provavelmente mais lento do que gostaríamos.

Neste capítulo, são de extrema importância as medidas já tomadas e outras que estão a ser consideradas, tanto pelo governo como pelas autarquias e entidades financeiras.

São medidas essenciais para que as empresas mantenham a liquidez e preservem os empregos, em molde de passar este difícil momento com que Portugal e o Mundo se viram confrontados.  

Como sempre, é importante criar boas e concertadas campanhas de divulgação locais, regionais, nacionais e internacionais. Não podemos perder a boa imagem do país, que se alargou a mercados diversificados e solidificou a fidelização dos visitantes oriundos de destinos tradicionais, com os quais trabalhamos há décadas.

E do mercado imobiliário no geral, quais serão as consequências?

No geral, a nota predominante é a constatação que os clientes aguardam a retoma da vida social, para poderem fechar negócios, ainda que com as limitações que irão prolongar-se por mais algum tempo

Provavelmente, alguns dos projetos irão avançar de forma mais contida. Os promotores serão mais cautelosos nesta fase, até ser possível retomar os níveis de confiança.

No grupo Garvetur /Enolagest, mantivemos em total funcionamento a nossa diversidade de serviços e a única coisa que mudou foi a forma de contactar, que passou a privilegiar a via electrónica, o que permitiu satisfazer os residentes investidores e turistas. Investimos igualmente na versatilidade e em serviços que criamos para reforçar a responsabilidade social das nossas empresas, neste período.

Acreditamos que as empresas do sector, com as imprescindíveis ajudas, irão vencer esta crise, contando com a sua resiliência, rápida adaptação e a capacidade de inovação que nos caracteriza.