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Métodos automáticos de avaliação poderão transformar toda a actividade da avaliação imobiliária

12 de abril de 2022

O aparecimento de soluções de avaliações automáticas - AVM, preocupa a ASAVAL e para o seu presidente, Paulo Barros Trindade, o mercado não se encontra suficientemente informado sobre a fiabilidade das AVM.

Numa altura em que surge um movimento de peritos de avaliação que se encontram em fase de protesto, o presidente da Associação Profissional das Sociedades de Avaliação - ASAVAL, revela ao Diário Imobiliário os desafios desta actividade profissional.

Quais os principais desafios da actividade da avaliação imobiliária?

Destacaria como primeiro a questão da própria sustentabilidade da actividade, uma vez que os honorários praticados, sobretudo pelo sector financeiro, continuam a ser muito baixos. O aparecimento no mercado de soluções de avaliações automáticas, os chamados AVM, é algo que nos preocupa, sobretudo quando dissociados completamente da intervenção de um perito avaliador, constituindo também um desafio à actividade, uma vez que entendemos que o mercado não se encontra suficientemente informado sobre o grau de fiabilidade destas avaliações automáticas e estamos certos que nesta actividade, no nosso país, não é possível que uma aplicação informática substitua o papel desempenhado por um perito avaliador. As alterações à legislação europeia que permitirão o uso generalizado deste tipo de avaliações a partir de 2025, no sector financeiro, aumentam essa preocupação. Outro grande desafio à actividade passa pela necessidade de aumentar o nível de formação dos peritos avaliadores e as suas acreditações profissionais, nomeadamente, acreditações internacionais.

O movimento de peritos de avaliação está neste momento em fase de protesto, não enviando informação aos bancos. Qual a sua opinião?

Alguns peritos avaliadores, que constituem uma franja residual dos peritos envolvidos na actividade, entenderam paralisar a sua atividade em sinal de protesto pelos baixos honorários praticados pelo sector. Entendemos e respeitamos a posição desses peritos avaliadores, mas na nossa opinião a actualização de honorários por parte do setor financeiro e as demais alterações que são necessárias realizar no setor conseguem-se com diálogo e sensibilização dos clientes e não com outras atitudes mais radicais, nas quais não nos revemos.

Quais os principais desafios que os profissionais se deparam?

Os desafios com que se debatem os peritos avaliadores, são os desafios com que se debate a actividade em si, como já referi – sustentabilidade da atividade, potencial substituição por programas geradores de avaliações automáticas, necessidade continua de formação e necessidade de diferenciação, através da obtenção de acreditações profissionais, em especial internacionais.

Existe falta de peritos de avaliação?

Continua a ser necessário formar mais peritos avaliadores, uma vez que não obstante o número de peritos avaliadores existente no nosso país seja actualmente suficiente, está geograficamente mal distribuído, existindo zonas do País onde manifestamente há falta de peritos, sobretudo nas zonas interiores mais despovoadas e em algumas Ilhas das regiões autónomas.

O que falta para profissionalizar mais a actividade?

Parece-nos que resolvendo o desafio da sustentabilidade, poderemos caminhar no sentido de ter apenas peritos avaliadores dedicados em exclusividade à actividade da avaliação imobiliária, o que infelizmente ainda não se verifica de forma generalizada. Essa exclusividade permitirá um maior investimento em formação, contribuindo para termos ainda melhores profissionais.

Como vê o futuro da actividade?

Julgo que as alterações que estão em curso em alguns regulamentos comunitários, como é o caso do Regulamento dos Requisitos de Capital dos bancos, irão introduzir profundas alterações na actividade, com a possibilidade das avaliações, sobretudo de crédito à habitação, poderem vir a ser realizadas com recurso a métodos automáticos de avaliação (AVM), situação que a atual versão deste regulamento não permitia. Ainda que os bancos possam não adotar estes modelos de forma generalizada, irão existir alterações ao processo de avaliação que é utilizado actualmente e que poderão transformar toda a actividade da avaliação imobiliária. Na minha opinião, os peritos avaliadores devem investir em formação especifica e nas acreditações profissionais que lhes permitam a diferenciação no mercado.