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Habituaram-se a ver o mercado imobiliário como a galinha dos ovos de ouro

10 de janeiro de 2022

Rafael Ascenso, Director Geral da Porta da Frente Christie’s, admite que os políticos não têm ideia do impacto que as suas medidas causam. Habituaram-se a ver o mercado imobiliário como a sua galinha dos ovos de ouro: cada vez que precisam de mais dinheiro aumentam os impostos, reduzem os incentivos e criam novas taxas.

O responsável, avança ainda que os portugueses e os residentes estrangeiros em Portugal investiram muito fortemente em imobiliário durante estes dois anos de pandemia. Há mais de 25 anos no mercado imobiliário e, tendo passado por várias crises, Rafael Ascenso não identifica a pandemia como uma crise.

Como o mercado imobiliário enfrentou 2021 e a pandemia que afectou o mundo e o imobiliário português?

O impacto da pandemia no mercado imobiliário fez-se sentir mais na impossibilidade dos estrangeiros se deslocarem ao nosso país. Nomeadamente de fora da Europa. Mas este factor só se verificou até metade do ano. Neste segundo semestre houve uma retoma muito acentuada na procura externa. Apesar de existirem ainda algumas restrições com viagens, visitas e reuniões presenciais, conseguimos contornar as barreiras físicas com a nossa aposta no digital e através das plataformas online, que nos permitiram até viabilizar contratos e reservas à distância.

Por outro lado, este decréscimo da procura estrangeira no início do ano, foi compensada com um acréscimo muito significativo da procura nacional. Os portugueses e os residentes estrangeiros em Portugal investiram muito fortemente em imobiliário durante estes dois anos de pandemia. Sem dúvida que, com a pandemia, o imobiliário ganhou ainda mais estatuto de porto seguro dos investidores e aforradores nacionais.

Com o abrandamento das medidas de restrição o mercado foi retomando o fôlego e recuperado o dinamismo que tinha antes da pandemia. Estamos há mais de 25 anos no mercado imobiliário e, tendo passado por várias crises, não identificámos a pandemia como uma crise.

A verdade é que os fundamentos do mercado imobiliário português permaneceram inalterados, como as qualidades atractivas de Portugal (Segurança, saúde, infra-estruturas, qualidade de vida, etc), a qualidade de construção e a própria oferta residencial. A região de Lisboa não parou a construção nem o lançamento de novos projectos, o que alimentou e dinamizou o sector, mesmo nesta altura. Oferecemos produtos cada vez mais apelativos, seja em conceito, arquitectura e qualidade de acabamentos.

O optimismo com que finalizámos 2020 confirmou-se: o mercado imobiliário português provou a sua força e resiliência, com um segundo semestre de 2021 cheio de negócios, com interesse nacional e internacional.

Acabamos o ano com uma facturação em linha com as de 2017 e 2018. Ou seja, foi um óptimo ano.

Quais os pontos positivos e negativos de 2021 para o sector?

Os pontos positivos deste ano estão inexoravelmente relacionados com a grande retoma da actividade imobiliária e do interesse dos compradores, bem como com a qualidade e quantidade de oferta residencial.

Por outro lado, não podemos deixar de referir a negatividade das alterações constantes às regras e legislação que abrangem o imobiliário em Portugal.

No entanto, não há nada pior para o investidor do que a incerteza. Nos anos mais recentes tivemos várias alterações às taxas de IMT (em que se passou quase para o dobro no segmento mais alto), alterações à Lei do arrendamento, restrições ao AL, anúncios da eliminação do Golden Visa em Lisboa e no Porto, alterações à Lei do Residente Não Habitual. Tudo isto é desnecessário e afasta investidores, nomeadamente no segmento médio/alto e alto.

Para dar o nosso exemplo, concretizamos alguns negócios ao abrigo destes dois regimes, mas a grande maioria dos nossos negócios com clientes estrangeiros não passa pela obtenção do Golden Visa ou benefício do estatuto de Residente Não Habitual.

 O sector imobiliário foi um dos motores da recuperação do nosso país após a crise de 2008-12. Fundamentalmente através da captação de investimento estrangeiro. Os nossos governantes têm que perceber que, para além da entrada directa de capitais para aquisição de imóveis, estes investidores e novos residentes do nosso país contribuem de forma decisiva para a dinâmica da nossa economia. Através do consumo destas famílias, da contratação de serviços, de pessoas, das viagens, etc.  têm um impacto na nossa economia superior ao valor das aquisições directas que fizeram.

Cada vez que aumentamos a carga fiscal, alteramos as leis, ou eliminamos programas como o Golden Visa, estamos a rejeitar a criação de riqueza e a reduzir a dinâmica da economia como um todo e não apenas no sector imobiliário.

O que podia ter sido feito e não foi? 

Como já algumas vezes referi, não se pode estar sempre a alterar as regras do jogo. Não mexer é o melhor que um político pode fazer nesta altura. E infelizmente, os políticos não têm ideia do impacto que as suas medidas causam. Habituaram-se a ver o mercado imobiliário como a sua galinha dos ovos de ouro: cada vez que precisam de mais dinheiro aumentam os impostos, reduzem os incentivos e criam novas taxas. Para um investidor é o pior que pode acontecer, a incerteza.

É, portanto, fundamental dar estabilidade fiscal e legal ao mercado.

Durante este período de pandemia, não pudemos realizar os nossos eventos internacionais. Num ano normal, temos cerca de 14 eventos em diversos países para promoção do nosso mercado. Só neste mês de Dezembro conseguimos retomar com dois eventos no Brasil, em São Paulo e no Rio.

E para 2022? Perante uma nova vaga com uma nova variante do vírus, quais as principais preocupações e as possíveis consequências para o mercado imobiliário?

Acreditamos que a nova variante do vírus não irá impactar o mercado, uma vez que a situação atual é muito diferente do que se viveu em 2020. Temos cada vez mais pessoas vacinadas a nível mundial, o que acaba por dar alguma segurança aos nossos dias. Há também um factor muito importante que faz com que o mercado não tenha de abrandar: ao longo destes meses de pandemia, a forma de nos relacionarmos profissionalmente mudou. Actualmente há uma versatilidade e adaptabilidade muito grande ao meio digital, o que faz com que não se deixem de fechar negócios quando um cliente não pode viajar ou fazer uma visita presencial.

Para 2022, temos já uma agenda repleta de eventos para realizar em diferentes países assim o vírus nos permita.

Vamos fechar 2021 com uma facturação superior à de 2019, quando o mercado imobiliário vivia um grande dinamismo e crescimento. Estamos confiantes que 2022 será também um ano de evolução, novos projectos, novos clientes internacionais e repleto de negócios.

https://www.diarioimobiliario.pt/Actualidade/Resiliencia-e-a-palavra-que-define-o-mercado-imobiliario-portugues-em-2021