CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Actualidade

 

 

Venda de “malparado” em Portugal triplica para 3,5 mil milhões de euros em 2021

25 de novembro de 2021

Depois do travão a fundo imposto pela pandemia em 2020, a transacção de portfólios de crédito malparado (na sigla inglesa, Non-Performing Loans, NPL) acelera em Portugal, estimando-se a conclusão de operações no valor de 3.500 milhões de euros em 2021, considerando os negócios já concluídos e os processos actualmente activos e com conclusão prevista até final do ano. Este valor triplica face aos menos de 1.000 milhões de euros transaccionados no total de 2020, mas fica ainda assim abaixo (-56%) dos 8.000 milhões de euros registados em 2019, no pré-Covid. Contudo, as expectativas para 2022 são bastante optimistas, prevendo-se um crescimento acentuado nas transacções à medida que o mercado continue a acelerar a sua reactivação ao longo dos próximos meses e novas carteiras surjam em oferta.

Esta é uma das principais conclusões da edição de 2021 do estudo anual “Investing in NPL in Iberia”, produzido pela Prime Yield, parte da Gloval, e divulgado hoje, por ocasião do maior evento ibérico desta indústria, o “NPL Iberia 2021”. Organizado pela Smith Novak e realizado em Madrid, o evento debate os principais desafios deste sector, sendo a Prime Yield uma das empresas convidadas a mediar um dos painéis de debate.

 

Panorama europeu

Em linha com a tendência europeia, o volume de malparado na posse da banca portuguesa continuou a reduzir ao longo do último ano, diminuindo cerca de 5.400 milhões de euros entre Junho de 2020 e Junho de 2021, o que significa ter passado de 14.200 milhões de euros para 8.800 milhões nesse período de 12 meses.  Da mesma forma, o rácio de NPL (isto é, o peso do malparado no conjunto do volume total de crédito concedido) também continuou a comprimir, reduzindo de 5,7% para 4,2% no período em análise. Ainda assim, e apesar destas melhorias, o nosso país continua a deter o 5º rácio de NPL mais elevado da Europa, sendo apenas superado pela Grécia (14,8%), Chipre (9,1%), Bulgária (6,4%) e Polónia (5,2%), e quase duplicando os 2,3% da média europeia.

 

O fim das moratórias

No que respeita à colocação de carteiras de NPL para venda, o estudo conclui que não é para já possível avaliar o real impacto do final das moratórias no sistema financeiro português e em que medida isso irá resultar, ou não, numa nova vaga massiva de malparado no mercado. De qualquer forma, ainda que o impacto do final das moratórias deva ser mais claro apenas no próximo ano, Portugal mantinha no 2º trimestre de 2021 cerca 27.000 milhões de euros de crédito sob moratória, o que representa 13% do total dos empréstimos concedidos pela banca nacional. Este volume apresenta, não obstante, uma redução de 37% face aos 42.900 milhões contabilizados em igual período do ano passado.

Nesta fase, além de ainda não ser evidente qual será a extensão do impacto das moratórias ao nível do aumento do malparado na posse da banca; persiste também um conjunto de factores macroeconómicos – que tem na base a actual crise no fornecimento e na cadeia de produção de matérias-primas, bens e serviços, e cujo final não se avizinha para breve – que deverá ter um impacto negativo neste cenário, resultando numa maior dificuldade quer de pessoas quer de empresas em cumprir os compromissos financeiros e, consequentemente, a um aumento do malparado.

 

Novos portfólios de NPL

“Não temos dúvidas que a actividade transaccional de carteiras de malparado irá aumentar de forma sustentada em 2022 quer em Portugal quer em Espanha, confirmando que este é um sector que continua a atrair investidores”, começa por dizer Nelson Rêgo, CEO da Prime Yield. “Há a clara evidência de que as quebras na actividade em 2020, que em Portugal foram de 90%, resultaram da paralisação pandémica. Este ano há uma reactivação muito forte do mercado, ainda que em níveis inferiores ao pré-Covid, e 2022 deverá trazer um novo impulso a este mercado no nosso país” nota.

“A dinâmica observada nesta recta final do ano é um sinal dessa possível aceleração. Nestes últimos dois meses, temos registado muitos portfólios de NPL a entrar ou a estudar entrada no mercado para venda, sendo evidente um esforço da Banca portuguesa em alienar o NPL que ainda tem em stock, legado do pré-Covid. Esta estratégia permitirá aos bancos prosseguir as suas metas de redução de malparado, mas funciona também como prevenção para uma eventual nova vaga de NPL que possa surgir nos próximos dois anos devido à moratória e ao enfraquecimento das condições económicas. Posto isto, em 2022 antecipamos um forte aumento no volume de vendas de NPL em Portugal, que poderão atingir os níveis observados no pré-Covid ou mesmo superá-los”, conclui Nelson Rêgo.