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Valor em capital e juros suspenso pelas moratórias é de 3,4 mil M€ até Setembro - BdP

24 de junho de 2020

O valor em capital e juros suspenso pelas moratórias de créditos ascende a 3,4 mil milhões de euros nos principais bancos que operam em Portugal, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira hoje divulgado pelo Banco de Portugal.

O banco central deu hoje a conhecer as estimativas dos principais oito grupos bancários que operam em Portugal sobre as moratórias de crédito, segundo as quais as prestações associadas aos empréstimos com moratórias totalizam, até final de Setembro, 2,8 mil milhões de euros no crédito a empresas e 600 milhões nos empréstimos a particulares.

Já o valor total dos créditos abrangidos pelas moratórias de créditos (de particulares e empresas) é de 39 mil milhões de euros nos oito principais bancos, o que representa cerca de 22% de todos os créditos concedidos a empresas e particulares, segundo a mesma informação.

O Governo estendeu este mês, de Setembro deste ano para 31 de Março de 2021, as moratórias para créditos de empresas e particulares (que suspende pagamentos de capital e/ou juros) e alargou também as condições em que os clientes podem aceder às moratórias.

Há ainda as moratórias privadas dos bancos, tendo a Associação Portuguesa de Bancos dito esta terça-feira que estas passam a ser apenas para clientes que não tenham condições de acesso às moratórias públicas.

Segundo estimativas do Banco de Portugal, hoje conhecidas, as necessidades de liquidez para a amortização regular de capital e juros de empréstimos entre Abril deste ano e Março de 2021 ascende a 17,3 mil milhões no caso das empresas e a 12,2 mil milhões de euros no caso de particulares (crédito à habitação e crédito para consumo e outros fins). Ou seja, seria este o valor que empresas e famílias teriam de pagar na totalidade se não houvesse moratórias.

As moratórias de créditos são assim consideradas fundamentais pelo banco central, que avisa, contudo, que as graves consequências económicas da crise se deverão prolongar, pelo que muitas famílias e empresas não terão capacidade de futuro de pagar as dívidas, levando "a uma deterioração da qualidade dos empréstimos e consequente aumento do incumprimento".

Isto é, as moratórias mitigam no curto prazo a criação de novo crédito malparado, mas após o fim das moratórias "poderá ocorrer um aumento do incumprimento das obrigações de crédito tanto dos particulares, como das empresas".

Também hoje, no mesmo relatório, o BdP avisou que pode haver intervenções públicas nos bancos se não forem tomadas medidas adequadas de apoio a economia (famílias e empresas), nomeadamente a nível europeu, e houver a retirada de medidas cedo de mais.

"Caso as medidas de apoio governamental ao sector privado não financeiro não sejam de dimensão adequada e suficiente face à duração e magnitude da crise pandémica ou sejam retiradas de forma extemporânea, o acréscimo de incumprimento (materialização do risco de crédito) pode espoletar a necessidade de intervenção directa sobre o sector financeiro a nível europeu", lê-se no Relatório de Estabilidade Financeira.

Ainda sobre o sector bancário português, além do incumprimento de crédito por famílias e empresas, o banco central considera que há outros factores que o podem afectar, como o fraco negócio bancário (pouca concessão de crédito) devido à debilidade da economia, a evolução do mercado imobiliário ou o impacto da crise no valor dos títulos de dívida pública que os bancos detêm.

A instituição liderada por Carlos Costa considerou ainda que os bancos portugueses podem vir a sofrer perdas decorrentes da exposição a economias penalizadas pela evolução do preço do petróleo, como a de Angola.

Segundo o Banco de Portugal, “o sistema bancário português continua exposto, directa e indirectamente, à actividade internacional em certas geografias particularmente sensíveis à evolução do preço do petróleo”, pelo que “eventuais perdas nas exposições directas a estas economias poderão ocorrer devido à materialização do risco de crédito (soberano e privado), cambial e de mercado (preço das matérias-primas)”.

A estas perdas poderão somar-se ainda outras, por via dos empréstimos dos bancos a empresas que têm actividade nestes países.

Há vários bancos portugueses com estreitas ligações a Angola, desde logo a CGD, BCP e BPI, que têm operações no país.

LUSA/DI