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Mercados Alternativos: O novo foco dos estrangeiros que querem investir em Portugal

18 de abril de 2019

O mercado imobiliário está em revolução e os modelos tradicionais estão gastos. Na senda das novas gerações e das novas necessidades habitacionais dos jovens, surgem cada vez mais novas formas de habitar e de trabalhar e os investidores estão atentos.

Apesar dos portugueses serem de uma forma geral, aversos à mudança, novos estilos de vida começam a impôr-se e a trazerem novas soluções . Viver dentro do conceito de coliving, numa residências de estudantes ou trabalhar num coworking pode ser mais atractivo do que a oferta tradcional. E se as novas gerações querem formas alternativas, a geração sénior também vai dando sinais que gosta de mudanças e cada vez vez vão surgindo projetos de cohousing.

Afinal o que são e como funcionam esses mercados imobiliários alternativos? O Diário Imobiliário falou com alguns dos principais especialistas e investidores internacionais que apostam nestes mercados e que pretendem conquistar também os portugueses.

Nicolas Dugerdil, director para a expansão ibérica da Medici Living Digital Services do Grupo Medici Living, explica que  do ponto de vista do investidor, o Coliving está a desenvolver-se rapidamente numa nova classe de ativos que pode fornecer retornos substanciais num ambiente de baixo risco. “Como operadora de coliving, oferecemos aos investidores uma solução de longo prazo, livre de preocupações, que permite aos investidores melhorar seus retornos reduzindo os custos, como o volume de negócios ou as taxas de administração do locatário, e maximizando os m2 nos arrendamentos”.

Em que consiste este conceito? Williams Johnson, diretor e um dos fundadores da B-Hive Living,  uma das empresas pioneiras no ramo do coliving na Inglaterra e Europa, explica: “No coliving, unimos serviços ao espaço físico e a comunidade de residentes para criar um estilo de vida único. Cada pessoa tem o seu espaço privado que pode ser um apartamento ou quarto com banho privativo e vários espaços para uso comum – salas de estar e refeição, cozinhas, lavandarias, terraços etc.  Esses espaços são arrendados completamente mobiliados, decorados e com todas as contas (ex. água, luz, internet) incluídas assim como vários serviços como limpeza do espaços, manutenção e eventos para toda a comunidade”.

Dugerdil acrescenta ainda que o coliving oferece soluções vivas que são plug & play, habilitadas para tecnologia e construídas em torno das comunidades. “Na prática, isso significa uma experiência muito fácil de usar, aprimorada pela tecnologia, permitindo que as pessoas vivam num ambiente com salas privadas limitadas, mas de alta qualidade, compartilhando espaços comuns de áreas generosas, resultando numa experiência geral que não estaria disponível nem acessível”.

Os especialistas garantem que contrariamente ao arrendamento tradicional, estes espaços são pensados de raiz para uma partilha de espaço e de vivências, tendo no entanto a privacidade necessária.  Vivem nos centros das cidades, não têm de se preocupar com contratos de serviços públicos, têm o serviço de gestão do espaço e tudo com preços mais atractivos do que o arrendamento tradicional e os períodos de arrendamento são flexíveis. Outro factor atrativo nesta forma de habitar diz respeito à solidão. Johnson, acrescenta, “vivemos num mundo altamente virtual onde grande parte das nossas interações diárias acontecem através da internet e aparelhos eletrónicos. O resultado disso tem sido o aumento da solidão. Hoje  mais de 40% dos jovens millennials sofrem de solidão crónica e o coliving é antídoto ideal”.

O responsável da B-Hive Living, indica ainda que a popularidade do coliving se deve ao facto de que é a estratégia imobiliária que melhor reflete as necessidades e estilo de vida do usuário moderno.   “Esse factor já reflete no apetite para os nossos espaços coliving que tem uma taxa media de ocupação de 95% comparados com 78% da indústria hoteleira em Lisboa por exemplo. Isso para o investidor significa segurança, longevidade e uma perspectiva de retorno que só tem a aumentar no futuro com investimento institucional a crescer no sector. Finalmente, muitos especialistas apontam para o facto de que o coliving por ser baseado numa necessidade básica do ser humano e pelo seu perfil mais acessível de ser uma estratégia com grande capacidade de resiliência num contexto de uma nova crise económica”, admite.

Lisboa e Porto na ‘mira’ de investidores internacionais

Os dois especialistas garantem que as duas cidades portuguesas são centros em ascensão para este tipo de produto. Nicolas Dugerdil, revela que a falta de oferta atrativa e preços inacessíveis nos centros de Lisboa e Porto fazem com que o modelo de coliving seja uma alternativa mais económica.

Também Williams Johnson garante que nos últimos anos, tanto Lisboa como o Porto tiveram um crescimento económico positivo com grandes investimentos realizados para incentivar o turismo. No entanto, “é necessário  reconciliar esse crescimento com infraestruturas de habitação e uma política pública adequada para essas cidades não se tornarem vitimas do seu próprio êxito e o coliving pode ser a chave. Primeiro, é preciso reequilibrar a proliferação do alojamento local para turismo com a criação de habitação com renda acessível para a população Portuguesa. Segundo, precisa-se aumentar a quantidade e qualidade do stock imobiliário para o arredamento para suprir o grande influxo de estrangeiros e de startups.  Hoje, Lisboa tem um dos ecossistemas de empreendedorismo mis vibrantes da Europa, mas a infraestrutura de habitação em Lisboa ainda deixa muito a desejar”. O responsável assegura que é urgente implementar políticas públicas e urbanísticas que incentivem o crescimento do coliving e ajudem a reduzir o risco para investidores e operadores. Por exemplo, um licença especifica para empreendimentos de coliving em Portugal seria um passo importante”.

Lisboa no 37º lugar de potencial de coworking

Se o coliving ainda está a implantar-se tenuamente em Portugal, já o coworking tem já uma presença cada vez mais forte e em crescendo. Tal como o coliving, o sistema é quase idêntico, só que a partilha é de espaços de trabalho. De acordo com a mais recente publicação da Cushman & Wakefield, “European Coworking Hotspot Index”, o coworking ou escritórios flexíveis são uma nova abordagem ao conceito de escritórios - consistem em espaços geridos por operadores especializados que oferecem aos seus utilizadores um conjunto de serviços acrescido à simples disponibilização do espaço, bem como uma muito maior flexibilidade em termos de contrato.  

As cidades de Amesterdão, Estocolmo, Helsínquia e Dublin estão entre os próximos destinos europeus preferidos para espaços de coworking e de escritórios flexíveis mas Lisboa também comneça a atrair atenções.  A capital portuguesa ocupa o 37º lugar em termos de potencial para o desenvolvimento de espaços de coworking, posto pouco representativo, e em grande parte impactado pela reduzida dimensão da nossa economia e do mercado de escritórios. Ainda assim outros factores como a legislação pouco flexível do mercado de trabalho, penalizam igualmente uma abordagem menos convencional ao mercado de trabalho.

Lisboa conta hoje com uma oferta de coworking que ronda os 50.000 metros quadrados, representando menos de 1% da oferta total da cidade. No entanto, o dinamismo do setor neste último ano foi evidente, comprovado pelo peso que este formato teve na procura total de escritórios, próximo dos 9%.

“A transformação a que temos vindo a assistir na cidade de Lisboa, pautada por um crescimento significativo das áreas tecnológicas e por uma abordagem cada vez menos tradicional ao mercado de trabalho, vai certamente impactar o crescimento dos espaços flexíveis, sendo expectável que no futuro Lisboa suba no ranking do potencial de desenvolvimento de espaços de coworking”, revela Marta Esteves Costa, diretora de Research da Cushman & Wakefield.

Também o cohousing, projectos para residências séniores partilhadas, começam a dar os primeiros passos em Portugal e em breve serão uma realidade. Já não são totalmente uma novidade, os nomes é que adaptaram a esta solução de habitação e as novas exigências da sociedade resultam numa modernização dos conceitos de residências partilhadas.

*Texto publicado na edição em papel  do Diário Imobiliário no Jornal Económico. Escrito com o novo Acordo Ortográfico