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PropTech, a Tecnologia no Imobiliário

15 de dezembro de 2020

PropTech ou Property Technology refere-se a uma transformação no mercado imobiliário que considera as mudanças tecnológicas, a mentalidade dos utilizadores, as atitudes, e os movimentos e transações que envolvem a construção, os edifícios e as cidades do futuro. Assim, recorrendo a tecnologias de informação inovadoras para apoiar pessoas e empresas na pesquisa, compra, venda e gestão de ativos imobiliário, pretende-se maximizar a eficiência das operações e facilitar a tomada de decisão, reduzindo custos, dispendendo menos tempo e aumentando o nível de customização.

Não obstante, estarão os prestadores de serviços imobiliários preparados para responder às correntes PropTech?

Uma coisa é certa: as perspetivas de longo prazo para as empresas do setor são positivas apenas se as mesmas se adaptarem à mudança quanto antes. Caso contrário, é improvável que garantam a sua posição no mercado, ao não reforçarem por meio de sistemas tecnológicos o seu controlo sobre o bem cada vez mais precioso, a informação.

Entre a evolução tecnológica e os requisitos crescentes dos proprietários e utilizadores, tende a expandir em larga escala o volume de informação acumulada sobre os edifícios, sobre o seu uso e sobre os seus usuários. Aqueles que melhor souberem utilizar esta informação, de forma rentável, promovendo a adaptação dos espaços às novas exigências, estarão bem posicionados para um futuro de sucesso no mercado imobiliário.

O setor dos escritórios, agora com a mudança do conceito de workplace para workspace com um residential feel, associado a uma maior procura por flexibilidade e otimização do espaço, é um dos mais propícios às tendências PropTech como meio para modernizar as infraestruturas e promover a mobilidade. Como exemplos de tendências tem-se a Big Data, através da recolha e tratamento de dados para facilitar o design inteligente dos espaços e apoiar futuras decisões de investimento com base em análises preditivas mais refinadas; a Automação, com sistemas para automatizar tarefas do dia-a-dia como a gestão de emails ou até mesmo dos níveis de luminosidade através de inovações do tipo smart building; a Inteligência Artificial (IA), que vai desde a utilização de realidade virtual à realização de smart contracts via blockchain; e a Internet of Things (IoT), com sistemas de controlo de acessos inteligentes para suportar a gestão dos espaços.

Com a oportunidade, porém, vem o risco.

Empresas do setor tecnológico, ao já possuirem modelos de negócio orientados para o tratamento e utilização de grandes volumes de informação de forma rentável, constituem potenciais concorrentes com vantagem competitiva. No longo prazo, com a monetização dos dados, tal pode vir a ter impactos muito significativos na estrutura do mercado imobiliário, onde os novos players poderão posicionar-se como elos entre os prestadores de serviços e os utilizadores, ou mesmo como fornecedores diretos ou compradores de serviços de gestão.

As atuais organizações do setor podem - e devem, quanto antes - capitalizar sobre o know-how e dados de mercado que detêm, orientando o seu modelo de negócio para uma gestão mais integrada, centralizada e tecnológica da informação ao nível dos edifícios, dos serviços e do mercado. Isto permitirá ás empresas reinventar a sua proposta de valor, oferecendo aos clientes soluções mais estruturadas com base em dados mais apurados sobre quem usa o quê e como.

A entrega de serviços imobiliários tenderá assim a ganhar uma componente cada vez mais técnica e digitalizada, para a qual serão necessárias novas competências e capacidades em tecnologias de informação, mantendo contudo as funções tradicionais para a execução de tarefas não digitalizáveis.

Finalmente, nem tudo o que é tecnologicamente possível e desejável vale a pena ser implementado, mas apenas as aplicações que acrescentam valor aos proprietários e utilizadores, numa relação ganhadora em que ambos beneficiam do retorno do investimento. Para tal as empresas terão de prever as preferências das partes interessadas e analisar a sua variação no tempo, identificando riscos e oportunidades. Inovação e tecnologia são assim apenas um meio para atingir um fim, nunca sendo bem sucedidas se não forem orientadas para a satisfação das reais necessidades.

Bruno de Carvalho Matos

MRICS, Engenheiro Civil Sénior MSc PMP e MBA pela Católica | Nova

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico