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Entrevistas

 

Medidas aplicadas pelo governo têm sido insuficientes para o sector

15 de junho de 2020

Rui Meneses Ferreira, Partner da Kronos Homes em Portugal, que detém alguns resorts em Portugal, e presidente da Associação Portuguesa de Resorts, revela que as linhas de crédito não chegam, a dilação de prazos de pagamento de impostos seria mais eficaz.  

A Kronos Homes, desde que chegou a Portugal, há cerca de cinco anos, já investiu cerca de 300 milhões de euros, tendo adquirido o Amendoeira Golf Resort no Algarve e está a promover um condomínio residencial fechado no Parque das Nações em Lisboa e ainda o Palmares Ocean Living & Golf, na zona da Meia Praia, em Lagos. O resort terá 103 villas, 350 apartamentos e um hotel de cinco estrelas.

De que forma esta pandemia do Covid-19 influenciou o turismo residencial e os resorts em Portugal?

O sector do turismo residencial é um dos que mais tem sentido os efeitos desta pandemia. A previsão da Associação Portuguesa de Resorts apontava, em Março, para uma perda de 36 milhões de euros por mês, equivalente a 1,2 milhões de euros por dia. Até ao final do ano estima-se uma queda de mais de 50% na facturação, na ordem dos 330 milhões de euros. Esta previsão contava com o alívio das restrições ao tráfego aéreo em Junho, e neste momento essas limitações ainda vigoram, pelo menos, até 15 de Junho. Claramente o transporte aéreo é um factor chave na recuperação.

O contexto da pandemia COVID-19 trouxe uma necessidade de reinvenção e rápida adaptação do sector do turismo residencial e hoteleiro, em particular no relacionamento com clientes e potenciais clientes. Acaba também por ser uma oportunidade pois os nossos Resorts tem uma densidade baixa e uma localização em zonas onde a incidência da doença foi menor. Acaba por ser um factor distintivo e competitivo das unidades de Turismo Residencial para o futuro.

O que se espera com o desconfinamento e a reabertura das unidades turísticas?

A retoma à actividade está a fazer-se de forma ponderada e segura. Acreditamos que o sector vai recuperar, também apoiado na procura interna. Portugal é um país único, com uma quantidade ilimitada de factores diferenciadores que não desapareceram com esta crise sanitária. Ao mesmo tempo, face às exigências de segurança e tranquilidade, cada vez mais evidentes, a zona do Algarve, e em particular a zona onde se situa o Amendoeira Golf Resort, tem fortes vantagens.

Se a baixa densidade de construção e a natureza envolvente já eram características muito apreciadas no Amendoeira Golf Resort, que tem 270 hectares, agora tornam-se essenciais.

Mas há outros factores determinantes na nova fase em que entramos, tanto para proprietário de segunda residência como para visitantes: a segurança 24h, os serviços de apoio às propriedades, a existência de moradias isoladas com piscinas privadas e os apartamentos com apenas dois andares e entradas separadas. É um desenho e um contexto que permitem privacidade e distância social, ao mesmo tempo que temos uma comunidade multicultural de proprietários e visitantes, promovendo um modo de vida cosmopolita.

O que mudou ou irá mudar com esta crise no funcionamento das unidades e no mercado do turismo residencial?

Aproveitámos este momento de pausa forçada para nos debruçarmos sobre o modelo de negócio e o plano de ação nas nossas unidades. Preparámos o regresso com base na necessidade de reinvenção e readaptação. No nosso caso, apostámos em reforçar os serviços tendo em conta o conforto do cliente, diminuindo a capacidade de ocupação das zonas de restauração, de forma a garantir uma menor concentração de clientes na mesma área, simplificámos os processos de check-in e check-out individual e de grupos, colocámos higienizadores em pontos estratégicos do resort e equipámos as nossas recepções com máscaras, luvas e termómetros para verificação de temperatura corporal. Este momento atípico está a reforçar o papel importante dos Recursos Humanos. Haverá, certamente, um upskilling. É fundamental que todos os colaboradores estejam preparados e informados.

As medidas aplicadas pelo Governo foram suficientes para o sector conseguir aguentar o impacto?

As medidas aplicadas pelo governo têm sido, no nosso entender, insuficientes. As linhas de crédito não chegam, na medida em que pressupõem o endividamento de empresas que já enfrentam problemas de tesouraria e não sabem quando recuperarão as suas receitas. Em alternativa, a dilação de prazos de pagamento de impostos seria mais eficaz. Por outro lado, para incentivar a manutenção do investimento por parte dos compradores, ainda mais crucial neste momento, seria desejável por exemplo adoptar novamente os benefícios fiscais do regime de utilidade turística e os benefícios fiscais que lhe estavam associados.

Como tem sido vivido no Amendoeira Golf Resort, da Kronos Homes?

Durante este período, mantivemos a actividade comercial e contacto com o cliente apesar do confinamento, recorrendo a reuniões remotas e visitas 3D, que já estavam disponíveis pré-Covid-19. Conseguimos avançar com escrituras e contratos de promessa compra e venda. Tivemos inclusive clientes que estavam em processo de compra que nos expressaram o seu desejo, agora mais do que nunca, de vir viver para Portugal ou aqui ter uma segunda casa.

Também reforçámos o nosso atendimento personalizado aos clientes. Além de termos estado 100% disponíveis para esclarecer as medidas que iam sendo tomadas e anunciadas pelas autoridades, tentámos transmitir conforto em momento simbólicos, como a Páscoa e o período do estado de emergência, em que oferecemos a cada família de proprietários no resort um cabaz com produtos frescos de produtores locais.

Os campos de golfe e os escritórios de venda estão abertos desde o dia 4 de maio e, para tal, foi criado um código de conduta para os jogadores e para os clientes que pretendem visitar para comprar propriedades. O Amendoeira Golf Resort já tem o selo Clean and Safe, cumprindo todas as recomendações do Governo e das Autoridades de Saúde. Os nossos colaboradores receberam formação interna e informação sobre prevenção e protecção contra a transmissão do vírus – de forma a reforçar as regras e boas práticas de higiene pessoal. Aumentámos a frequência da limpeza das áreas comuns e reforço da higienização dos Apartamentos e Moradias de modo a garantir ambientes seguros e limpos.

Já tínhamos em curso e prosseguimos com remodelações na zona de restauração do Clube Desportivo e estamos também a finalizar a remodelação do Clubhouse, incluindo receção, restaurante, etc.

Ao nível do produto imobiliário, a nossa oferta é composta por 4 tipologias: Apartamentos T1, Apartamentos Duplex T1+1, moradias de 3 quartos com piscina privada e moradias isoladas de 3 e 5 quartos. Todas as propriedades estão mobiladas, equipadas e prontas a usar.  A nossa equipa de vendas tem uma vasta experiência e acompanha co cliente em todo o processo e em estreita colaboração com cada comprador para o ajudar a escolher a propriedade que melhor se adequa ao seu orçamento e requisitos.

Quais as previsões para este ano relativamente ao turismo e ao Algarve?

Aguardamos com alguma expectativa. O Algarve é a região mais procurada pelos turistas nacionais e internacionais. Embora este seja um ano atípico, o Algarve tem sido frequentemente citado como um lugar ideal para viver (depois da reforma) ou para ter uma casa de férias. Acreditamos que esta mensagem vai ganhar ainda mais força. Aliás, a revista Forbes já indicou o Algarve como a melhor zona para investir após a pandemia.

Portugal saiu com uma imagem positiva a nível internacional desta crise, será o suficiente para ser um dos principais receptores de investimento estrangeiro?

De facto, a resposta das autoridades ao surto da Covid-19 tem recebido bastantes elogios internacionais e pode ajudar a reforçar as características que o país já tinha.  Estamos confiantes, não temos dúvidas de que o interesse dos nossos clientes e potenciais clientes – nacionais e estrangeiros – irá manter-se. Estamos a trabalhar com todo o empenho neste sector que é fundamental para a recuperação económica de Portugal.