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Arquitecto Pedro Gadanho quer “parar de construir” para combater alterações climáticas

27 de maio de 2022

O arquitecto Pedro Gadanho, autor do livro “Climax Change!: How Architecture Must Transform in the Age of Ecological Emergency”, sugere que se pare de construir e se aposte na reabilitação para combater as alterações climáticas.

“Vejo o livro como uma espécie de ‘thriller’ – está uma bomba-relógio a tocar, a fazer ‘tic tac’, e nós estamos a arranjar meios em todas as áreas e disciplinas para responder a essa crise”, diz Pedro Gadanho, em entrevista à Lusa.

O autor lembra que a construção e a manutenção das cidades “é responsável por 38% das emissões de dióxido de carbono do planeta” e, por isso, deve ser repensada.

“Climax Change!: How Architecture Must Transform in the Age of Ecological Emergency”, ainda sem tradução em português, é editado pela Actar e lançado este sábado, às 18:00, na livraria Circo de Ideias, no Porto.

O título, explica, quer “mudar a orientação, o ponto de partida, que nos faz mover ao fazer um projecto de arquitectura e ao intervir nas cidades”.

“É uma mudança quase de 180 graus relativamente à última grande mudança na arquitetura do início do século XX, quando começou o movimento moderno e o chamado estilo internacional, que defendia que devíamos fazer uma arquitetura que não estava relacionada com o local, mas era uma arquitetura com uma linguagem internacional, baseada em novos materiais como o cimento, vidro e ferro”.

Como “contraponto a uma emergência ecológica”, propõe uma “mudança de registo”, que começa por “parar de construir”, uma solução que apresentou num artigo com “mais de 10 anos, escrito na sequência da crise de 2008”.

“Principalmente numa sociedade como a nossa, que já tem a população a decair, em que temos um parque construído enorme, muitas vezes subaproveitado, não faz sentido estarmos a ocupar terra virgem quando podemos recuperar e reabilitar o que já está construído”, justificou.

Em alternativa, deve-se “reabilitar, reciclar, reconstruir, readaptar, mais do que demolir e fazer de novo”, defende.

É preciso também reconhecer que a crise dos recursos, evidenciada pela pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia, tornam mais urgente a economia circular, que olha a materiais locais.

O autor lembra que a sobre-exploração de alguns materiais contribui para o ecocídio, o último crime a ser reconhecido pelo Tribunal Penal Internacional.

Esse reconhecimento “vai mudar, ao longo do tempo, a perspectiva de como as pessoas olham para as práticas, e pode levar até a revisões históricas, como aconteceu com questões de racismo”.

“Acho que também podem acontecer no campo da arquitetura, por isso, melhor ainda antecipar essa questão e fazer a mudança necessária ainda antes disso”.

Para Pedro Gadanho, este trabalho serve também para divulgar “um cenário que roça o catastrófico, e que as pessoas ainda não percebem”.

O arquitecto conta que a sua pesquisa sobre o assunto motivou este livro: “Havia muita coisa que já tinha lido e sabido sobre alterações climáticas, mas nunca tinha feito a relação e somado tudo na minha cabeça. Quando isso aconteceu, alterou profundamente a minha vida. Tornei-me muito mais ativista, o que resulta, precisamente, neste livro”.

“É preciso, às vezes, o murro no estômago de ler tudo seguido, e ver as questões todas enumeradas de forma seguida, para percebermos essa dimensão e não acharmos que as coisas são uma coisinha discreta aqui e outra ali, e que na verdade vamos voltar ao nosso modo de vida exatamente igual, sem qualquer tipo de alteração”, prossegue.

O livro que agora lança “não é necessariamente para arquitetos”, mas antes para “quaisquer pessoas que estejam interessadas em cidades, em alterações climáticas e no que vai acontecer nas próximas décadas”, considera.

Pedro Gadanho é professor convidado da Universidade da Beira Interior e lecionou também, entre 2000 e 2012, na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

Foi Loeb Fellow na Universidade de Harvard, entre Julho de 2019 e Junho de 2020, que o ajudou na preparação deste livro.

No campo da cultura, foi curador de arquitectura contemporânea no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova Iorque, entre 2012 e 2014, director do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, de 2015 a 2019, e dirigiu a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027, de 2020 a 2022.

LUSA/DI