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NOTÍCIA
Opinião

João Paulo Branco, Sócio Engenharia Fragmentos

O desenvolvimento sustentável como criador de valor

11 de dezembro de 2023

Enquanto partes ativas deste mundo em crescente desgaste de recursos, quer pela via pessoal, quer envolvidos na nossa atividade profissional, torna-se urgente pensarmos em formas de promover e aplicar os princípios do desenvolvimento sustentável. Os números urgem a que as ações que tomamos sejam cada vez mais assertivas. Não é possível continuar a adiar. O setor da construção, ao qual a nossa atividade como engenheiros e arquitetos está diretamente ligada, é responsável por 40% das emissões de gases com efeito de estufa.

Hoje, o clima de urgência é visível por todo o setor e a parte positiva é que esta consciencialização generalizada tem resultado na otimização e simplificação dos processos.  Nos últimos anos, tem havido um incremento notório dos requisitos que pretendem a implementação de opções de projeto que vão de encontro aos valores do desenvolvimento sustentável. A nível nacional, verificamos a implementação da certificação energética, cada vez mais exigente. Já a nível europeu, contamos agora com diretrizes claras com vista a promover a construção e renovação de edifícios NZEB (Near Zero Emission Buildings). Quer num caso, quer noutro, o cumprimento destes requisitos já não é uma opção.

No Fragmentos, este caminho começou há seis anos e coincidiu com a decisão de juntar à equipa de Arquitetura, uma equipa autónoma de Engenharia. Uma sinergia que não tardou a trazer estas questões para a ordem do dia, com ganhos efetivos a todos os níveis (em projeto, na construção e no desempenho energético). Este é um caminho sem retorno, o de incorporar e engrossar a lista de empresas que promovem o desenvolvimento dos negócios “verdes” e assumir de forma clara a nossa responsabilidade na redução dos impactos negativos inerentes à nossa prática e, ainda, influenciar positivamente os nossos clientes, cada vez também mais conscientes.

Esta forma de trabalhar e de pensar os projetos em conjunto – Arquitetura, Engenharia e Cliente – rapidamente revelou que não basta cumprir objetivamente os parâmetros e estratégias do desenvolvimento sustentável, hoje isto é já um dado quase adquirido, e ainda bem. Um produto final verdadeiramente sustentável vai muito para além da check-list da eficiência hídrica, da eficiência energética e do impacto ambiental, mas é um produto que tem a capacidade de conciliar estes fatores com objetivos económicos e sociais.

Por isso acredito que o conhecimento é uma peça essencial, se não a peça principal em todo este processo. E nesse sentido temos vindo a implementar ações de formação específicas, tendo já nos nossos quadros técnicos formados na área da certificação BREEAM, na certificação AQUA+ Residencial e de Empreendimentos Turísticos, Eficiência Energética em Edifícios, Sistemas Fotovoltaicos, entre outros. Para além destas ações de formação especializadas, é importante reconhecer igualmente o poder de uma democratização destes princípios ao nível do próprio dia-a-dia da empresa. Quer seja pela promoção de hábitos mais conscientes, quer pela participação em iniciativas externas, que permitem a aquisição e partilha de conhecimento que será transportado para o interior do nosso atelier, contribuindo para que o universo Fragmentos responda de forma única a estas questões.

Todo este processo tornou muito claro para nós que a adoção destas práticas tem a capacidade inegável de criar valor em várias frentes que ultrapassam em muito a abordagem mais óbvia da proteção do ambiente e gestão responsável dos recursos naturais. Falamos de uma sustentabilidade em relação à vida das próprias empresas.

Assistimos hoje a uma crescente procura por empreendimentos de elevada eficiência energética, verificando-se que os consumidores estão cada vez mais preocupados com as questões ambientais, e mesmo dispostos a pagar mais por produtos que sejam sustentáveis. Desta forma, ao proporcionarem soluções que atendam a essas demandas, as empresas tornam-se mais atrativas, potenciando o aumento da cota de mercado. Ao nível das decisões de negócio, a incorporação de critérios ambientais e sociais é muitas vezes a chave da redução de riscos e custos a longo prazo, através, por exemplo, da adoção medidas de eficiência energética que permitem reduzir consumos de energia.

E não podemos negar que há aqui um potencial ao nível do marketing e posicionamento estratégico das empresas, sendo que a adoção de práticas sustentáveis conduz a uma melhoria na imagem e reputação. Neste momento, as empresas que não têm estes temas no topo das suas prioridades estão automaticamente fora do campeonato. Os clientes valorizam empresas que são social e ambientalmente responsáveis, e essa perceção positiva tem efeitos diretos na confiança e lealdade dos clientes existentes como também na angariação de novos clientes e investidores.

O desenvolvimento sustentável já deixou há muito de ser uma opção: é um imperativo incontestável para as empresas que desejam permanecer relevantes num mundo cada vez mais consciente das questões ambientais e sociais. Hoje, uma empresa que negligencia a sustentabilidade está automaticamente fora do jogo.

João Paulo Branco

Sócio Engenharia Fragmentos

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico