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Entrevistas

Ricardo Sousa, CEO Century 21 Portugal

A pandemia não conseguiu atrair pessoas para o interior do país

31 de outubro de 2023

Apesar de muito noticiado durante a pandemia, que os portugueses ponderavam trocar a vida na cidade pelo campo, a realidade pós-covid veio demonstrar que tudo não passou de um desejo. Segundo Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, essa não foi uma opção para a maioria das famílias, seja por motivos profissionais, seja pela necessidade de mais estruturas de apoio nas dinâmicas familiares do dia-a-dia.

Uma das soluções que o responsável aponta para que esse sonho se tornar realidade seria ampliar o raio metropolitano da AML, nomeadamente no corredor ferroviário norte até 100km/150km, criando nas vilas e cidades ao longo da ferrovia opções de habitação para quem trabalha em Lisboa, pode ser uma solução para atrair mais pessoas para o interior do país.

O responsável refere ainda que cada cidade tem as suas vantagens competitivas e especificidades que pode e deve explorar e para as autarquias, o investimento imobiliário é um meio para apoiar a regeneração e reabilitação urbana, atrair turismo, criar empregos, aumentar a receita fiscal e, claro, criar soluções de habitação. Na sua opinião, deve-se  continuar a dinamizar, expandir e consolidar os actuais clusters industriais, logísticos, académicos, científicos e agrícolas apostando na inovação e investigação para gerar cada vez mais oportunidades para atracção e retenção de talento qualificado, bem como de empresas.

Para o CEO, estes temas são muito importantes para debater no contexto actual do país e do mercado imobiliário. É nesse sentido que a Century 21 reuniu no Entroncamento para o o encontro “Médio-Tejo: Desafios e Oportunidades na Habitação”, para uma reflexão informada sobre os desafios do acesso à habitação e para a identificação de estratégias que permitam dar resposta à evolução sociodemográfica de cada região, de forma a aumentar a coesão territorial e a inclusão social.

Em entrevista ao Diário Imobiliário, Ricardo Sousa, salienta que investimento imobiliário é uma peça fundamental para o desenvolvimento económico e urbano do território.

Como tem sido anunciado, a questão da crise na habitação não é extensível a todo o país. Como de facto se tem comportado o mercado fora das regiões mais afectadas, Lisboa, Porto e Algarve?

Actualmente, em Portugal, as grandes assimetrias não são geográficas. A divisão que se verifica nos portugueses, no que respeita à habitação, é entre quem já é proprietário da sua casa e quem precisa de aceder a soluções habitacionais. Nesta perspectiva, o desafio é transversal a todo o país. Contudo, fora das regiões com maior pressão no acesso à habitação - Lisboa, Porto e Algarve - a problemática é menos grave porque as variações dos rendimentos médios disponíveis nas famílias são muito inferiores às diferenças nos valores e evolução de preços da habitação na AML, AMP e Algarve. Ou seja, os níveis de taxa de esforço são muito inferiores fora destas regiões.

Sabemos que existe uma grande concentração população nas regiões da AML, AMP e Algarve, o que causa um desafio importante na fixação de jovens e empresas fora destas áreas metropolitanas. Contudo, já se estão a registar movimentos significativos de deslocação e concentração da população em algumas cidades secundárias, um pouco por todo o País, das quais de destacam, por exemplo, Évora, no Alentejo, Braga, a Norte, Aveiro, Coimbra e Leiria no centro.

Nestas cidades, já se regista um número elevado de transacções imobiliárias, decorrente da forte dinâmica de procura de habitação, o que comprova a capacidade de atracção de pessoas que estas cidades secundárias estão a conseguir alcançar.

A acessibilidade da habitação é um dos maiores desafios que o país tem pela frente nos próximos anos?

Sim, devemos aceitar e comunicar de forma transparente que mesmo soluções eficazes não irão produzir impactos imediatos. A sustentabilidade e inclusão no sector habitacional requerem uma abordagem holística e estratégica que vá além de intervenções pontuais.

Como atrair mais pessoas para o interior do país? Que oportunidades profissionais podem levar mais pessoas a viverem no interior?

Destacaria três eixos: por um lado, com a dinamização e promoção cada vez maior das diferentes regiões portuguesas como destinos turísticos. A nossa pequena dimensão geográfica apresenta-se aqui como uma enorme vantagem, que permite o aproveitamento da nossa fantástica diversidade cultural, histórica e beleza natural de forma fácil, através das nossas infraestruturas rodoviárias e ferroviárias.

Em segundo lugar, continuar a dinamizar, expandir e consolidar os actuais clusters industriais, logísticos, académicos, científicos e agrícolas apostando na inovação e investigação para gerar cada vez mais oportunidades para atração e retenção de talento qualificado, bem como de empresas.

Por fim, ampliar o raio metropolitano da AML, nomeadamente no corredor ferroviário norte até 100km/150km, criando nas vilas e cidades ao longo da ferrovia opções de habitação para quem trabalha em Lisboa, aumentando desta forma a população residente e dinamização destas economias locais. Esta medida é também essencial para superar os crescentes desafios de acesso à habitação na AML.

É real a mudança da cidade para o interior depois da pandemia como era esperado?

Foram situações pontuais. Para muitos, essa não é uma opção, seja por motivos profissionais, seja pela necessidade de mais estruturas de apoio nas dinâmicas familiares do dia-a-dia.

Como tornar as pequenas cidades mais interessantes para o investimento?

Cada cidade tem as suas vantagens competitivas e especificidades que pode e deve explorar. Por exemplo, o Entroncamento tem uma localização privilegiada, está no centro de importantes eixos rodoviários e ferroviários, o que aproxima esta cidade de Lisboa, do Porto e das principais cidades secundárias do país.

Para além disso, como é um concelho totalmente urbano, apresenta uma capacidade extraordinária de produção de construção nova no curto prazo, para criar soluções de habitação ajustadas às necessidades e às capacidades económicas de jovens e famílias.

De que forma as autarquias veem o investimento em imobiliário?

O investimento imobiliário é uma peça fundamental para o desenvolvimento económico e urbano do território. Para as autarquias, o investimento imobiliário é um meio para apoiar a regeneração e reabilitação urbana, atrair turismo, criar empregos, aumentar a receita fiscal e, claro, criar soluções de habitação.

No entanto, é importante reconhecer que pode haver diferentes perspectivas sobre o investimento imobiliário em diferentes autarquias, reflectindo a diversidade geográfica, económica e social de Portugal. Algumas podem adoptar uma abordagem mais proativa, oferecendo incentivos e simplificando processos burocráticos, enquanto outras podem ser mais cautelosas, procurando equilibrar o crescimento com a preservação do património e a manutenção do carácter das comunidades locais.

Quais as oportunidades na atracção de residentes e investimento no Médio-Tejo?

A região do Médio-Tejo em Portugal oferece diversas oportunidades para atracção de residentes e investimento, sobretudo devido às suas características únicas e ao seu potencial de desenvolvimento. Eis algumas das oportunidades:

1. Localização e Acessibilidade: Situada no centro de Portugal, com boas ligações rodoviárias e ferroviárias, a região é acessível e bem conectada, o que é atraente tanto para residentes como para investidores.

2. Qualidade de Vida: O Médio-Tejo é conhecido pela sua qualidade de vida, com uma combinação de tranquilidade rural e acesso a serviços urbanos, atrativo para quem procura um estilo de vida mais calmo.

3. Turismo: A região possui um património histórico e cultural rico, parques naturais e o Rio Tejo, que são polos significativos de atração turística e oferecem potencial para investimento em turismo rural, ecológico e cultural.

4. Incentivos ao Investimento: Existem programas e incentivos, como reduções fiscais e apoio ao empreendedorismo, que podem ser aproveitados por investidores para o desenvolvimento de negócios na região.

5. Setor Tecnológico e Inovação: Investir em inovação e tecnologia, aproveitando o potencial de colaboração com instituições de ensino e centros de investigação, pode ser uma oportunidade para atrair empresas e talentos para a região.

6. Agricultura e Agroindústria: O Médio-Tejo, com suas terras férteis, apresenta oportunidades no setor agrícola e na transformação de produtos locais, com potencial de atração de investimentos que valorizam a sustentabilidade e a produção regional.

7. Energias Renováveis: A região tem potencial para o desenvolvimento de projetos de energias renováveis, como solar ou eólica, em linha com a estratégia de incentivo à transição energética assumida pelo Governo.

8. Reabilitação Urbana: Há uma forte aposta na reabilitação de centros urbanos, o que abre oportunidades para o investimento imobiliário focado na renovação de propriedades e na revitalização de áreas históricas.

Em suma, no contexto do Médio-Tejo, a intersecção entre a qualidade de vida, a riqueza cultural e a acessibilidade geográfica é cada vez mais uma equação que atrai atenção. O estudo sobre a acessibilidade à habitação realizado pela Century 21 Portugal realça uma dinâmica particularmente interessante: na comparação do rendimento disponível das famílias num concelho com o valor das casas nesse mesmo concelho, constata-se que a região do Médio-Tejo se destaca.

Com a proximidade e a eficiência da ferrovia, que permite chegar a Lisboa em menos de 60 minutos, esta região emerge como uma alternativa viável para as famílias da Área Metropolitana de Lisboa (AML), onde os rendimentos são tipicamente mais elevados.

Este factor de proximidade, aliado aos preços competitivos deste mercado habitacional e às políticas de reabilitação e habitação apoiadas pelo IHRU, posiciona o Médio-Tejo como uma escolha estratégica para quem procura um equilíbrio entre a vida urbana e o bem-estar que a região oferece.

Estas oportunidades, acompanhadas de uma estratégia regional bem definida e de uma colaboração efectiva entre as autarquias, associações empresariais e o governo central, podem solidificar o Médio-Tejo como uma região atractiva para viver, trabalhar e investir.