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Opinião

 

Vamos vender o país?

11 de fevereiro de 2015

Entrou-se na euforia que o turismo irá salvar o imobiliário. São os ‘Golden Visa’ para atrair investidores estrangeiros, os leilões em diversas partes do Mundo com imobiliário português, é a bandeira do turismo residencial, são os hotéis de charme, os alojamentos turísticos e os hostels nos centros históricos.

Considero que poderá ser uma forma de dinamizar o mercado imobiliário e até um impulso à reabilitação urbana mas será que é a única solução? Não será excessiva esta corrida ao investimento estrangeiro? As consequências podem ser graves para os portugueses. Sobretudo para os centros históricos.

Foram décadas a afastar a população para as periferias até se chegar ao ponto de sermos confrontados com a desertificação de muitos bairros e artérias das cidades. A degradação instalou-se e naturalmente que temos cidades com zonas quase fantasmas. Pede-se a reabilitação e a regeneração urbana. E afinal quem se quer que retorne aos centros? Os estrangeiros? Os turistas? Uma classe social mais abonada? Estão-se a criar guetos sociais para os afortunados?

E os jovens portugueses para onde irão viver? Serão novamente empurrados para fora dos centros? Deixamos de ter pessoas idosas para termos estrangeiros a viverem nas zonas históricas? Que futuro se está a desenhar para as cidades portuguesas?

Não considero que sejam erradas as medidas para captar investimento estrangeiro, sobretudo porque é necessário dar um impulso ao imobiliário quando este está em dificuldades mas temos de ter algum cuidado. Uma cidade só se desenvolve quando existe equilíbrio e quando se coabita e se vive a cidade. Por quem a faz crescer e cria laços emocionais duradouros. Os centros da cidade têm de ter jovens portugueses em início de vida para que cuidem do seu bairro e amem a cidade.

Já vi muitas reabilitações nos centros históricos que referem que é dirigida aos jovens mas os preços praticados não serão para qualquer jovem, terão de ser aqueles que têm rendimentos avultados ou pais com algum poder de compra.

A recessão económica e as dificuldades que a maioria dos portugueses estão a ter para conseguirem uma habitação estão a deixá-los fora da corrida. Isso não é justo. Não podem ser esquecidos e devem-se criar medidas e oportunidades para que eles também possam vir a ter acesso a uma casa no sítio que escolherem para viver e não para serem empurrados novamente para fora das cidades.