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Opinião

 

História em cada esquina

13 de setembro de 2017

Lisboa e o Porto vivem atualmente, e nos últimos anos, um processo pelo qual diferentes cidades europeias também passaram nas últimas décadas. Um processo intenso, mas necessário, de reabilitação dos seus centros históricos, assentes na recuperação de edifícios antes devolutos ou apenas muito degradados, que não faziam jus ao passado das cidades, ao povo que as habita ou, até mesmo, à história dos próprios edifícios que a compõem.

Quem há poucos anos passasse pelo centro destas duas cidades poderia encontrar edifícios degradados e ruas esvaziadas de pessoas. Hoje em dia, pelo contrário, quando passeamos pelos seus centros históricos ou principais artérias, a arquitetura dos edifícios permite-nos vislumbrar outras épocas enquanto sentimos o ritmo cosmopolita de áreas revigoradas.

No caso da Avenida dos Aliados, no Porto, por exemplo, através do seu caráter monumentalista, conseguimos ver o retrato de uma cidade onde se encontravam as sedes bancárias do País e várias outras instituições financeiras e do governo. Já na Avenida da Liberdade, em Lisboa, encontramos uma artéria construída à imagem dos boulevards de Paris. Sobretudo residencial, terá servido de suporte à criação de novos bairros habitacionais para a média e alta burguesia.

De facto, ao regenerar-se locais anteriormente abandonados ainda que bem no coração urbano, dá-se um fenómeno de devolução da identidade histórica das próprias cidades. E esta requalificação urbana tem assumido uma grande importância a nível europeu, seja ela impulsionada pelo início de estratégias ambiciosas de coletividades locais, de oportunidades geradas por grandes eventos ou investimentos ou projetos imobiliários de relevo.

Para além da recuperação da herança histórica, a reabilitação contribui para o regresso e permanência da população no centro da cidade, seja ela população residente ou turística. Não nos podemos esquecer que a reabilitação começou precisamente pela hotelaria. Neste setor, a procura cresce ao dobro da velocidade da oferta e, só nos últimos seis anos surgiram 5.000 novos quartos. No campo da habitação, só em 2016, foram recuperados 53 edifícios em Lisboa, a maioria na zona histórica e com as vendas em planta a afirmarem-se e a servirem de indicador relevante, que permite concluir que o mercado continua a escoar a oferta e a não acumular stock construído.

É justo afirmar que o mercado imobiliário e o turismo são os impulsionadores da reabilitação, são os motores que têm ajudado a impulsionar a nossa economia.  

Para assegurar a continuidade e motivação para a Reabilitação e Regeneração Urbana, é fundamental que as políticas legislativas acompanhem e incentivem este esforço, ajustando e compatibilizando os aspetos regulamentares que impediram que o parque imobiliário fosse conservado de forma adequada, criando-se a necessária flexibilidade da regulamentação para acolher as especificidades desta intervenção urbana.

É ainda fundamental assegurar que as políticas económicas públicas e privadas garantem um ambiente de estabilidade e reforçam a confiança dos Investidores, de forma a continuarmos a afirmar Portugal como um destino atrativo quer para o investimento nacional, quer estrangeiro.

Os atuais processos de reabilitação são também eles projetos com história e com um contributo geracional inquestionável. Contam as histórias das cidades, do País e das gerações que por lá passaram, em cada esquina, em cada novo projeto que se inicia. 

Aniceto Viegas

Director geral da promotora Avenue

*Texto escrito de acordo com o novo Acordo Ortográfico