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Crédito habitação à distância, uma realidade (só) pós-covid?

5 de agosto de 2020

Muito se tem procurado antecipar cenários quanto ao impacto e consequências que a pandemia Covid-19 poderá introduzir nas nossas vidas, tal como as conhecíamos. São muitos os sectores que estão a ser sujeitos a acelerados e disruptivos processos de transformação nos seus modelos de negócio, criando enormes pressões sobre as organizações mas também o risco de, nesse trajeto, se perder algum mercado devido à dificuldade de este se adaptar a tão grande transformação. O mercado imobiliário não é, naturalmente, alheio a este processo. Bem pelo contrário.

Não é difícil imaginar que um mercado que assenta sobre bens imóveis (aquilo que é imóvel não se movimenta) tenha sentido uma enorme angústia ao perceber que o mundo entrou num processo de mudança em modo acelerado. Como se podem transacionar imóveis num mundo que, de um dia para o outro, passou a funcionar à distância? Tudo o que antes assumíamos como sólido passou repentinamente a virtual. Passamos a fazer exercício físico em aulas de grupo virtuais, aulas de culinária ao vivo e virtuais, concertos de bandas famosas que antes só estavam disponíveis em estádios cheios e com bilhetes caros passaram a estar na nossa mão a qualquer hora, emissões de programas de televisão deixaram de precisar de estúdios e técnicos de câmaras e uma parte considerável das atividades que fazemos começaram a ser feitas à distâcia. E hoje fazêmo-lo de uma forma cada vez mais normal. Todos reconhecemos que afinal havia algumas camadas de serviços ou bens nas nossas vidas que eram perfeitamente dispensáveis e transformáveis em soluções mais simples.

A surpresa (para alguns) talvez tenha sido que também o mercado imobiliário reagiu e rapidamente descobriu forma de se adaptar; visitas virtuais a imóveis com total controlo sobre o que ver e como ver para o comprador, maior preocupação e capacidade de alimentar a relação com o cliente através de canais como o Whatsapp ou pela aposta na realidade aumentada que permite ao cliente visualizar a sua futura casa já com o seu mobiliário. Estes são apenas alguns exemplos de como, para a transação de um bem imóvel, o mercado conseguiu criar uma nova experiência.

Apesar de todo o contexto bastante limitativo que foi vivido em particular no segundo trimestre do ano, no mês de abril foram financiados 831 milhões de euros para a compra de casa, menos 12,71% do que no mês anterior, mas mais 3,49% do que há um ano, representando a maior fatia de financiamento das famílias em Portugal. No acumulado dos quatro primeiros meses de 2020, a atribuição de crédito para a compra de casa somou os 3.679 milhões de euros, mais 16,72% do que os 3.152 milhões de euros do período homólogo do ano passado. O valor médio de avaliação bancária sobe nos últimos meses, o que significa que o imobiliário continua a ser um investimento em que as famílias confiam as suas poupanças. Estes dados mostram bem quanto este setor esteve à altura do desafio e soube encontrar soluções seguras para todos os intervenientes poderem continuar a desempenhar o seu papel, em vista à manutenção de alguma normalidade no mercado, pelo menos no que toca à concretização de negócio.

Certo é que novos hábitos foram criados e hoje impõem-se dar continuidade a esta via rápida da digitalização e o novo foco está na agilização também do processo de crédito habitação – uma exigência dos tempos modernos - como forma de ir ao encontro desse potencial, procurando eliminar do processo de decisão do comprador os obstáculos que em face de toda a transformação possam ser percebidos pelo cliente como desnecessários, condicionando a sua concretização. É neste contexto em que, como já anteriormente acontecia, o comprador faz a pesquisa de casa online – e agora ainda mais intensamente porque tem mais disponibilidade para fazê-lo a partir de casa –, que soluções que possam disponibilizar ao cliente uma pré-aprovação do crédito habitação ou conhecer o montante de empréstimo que pode ser financiado e adequar a procura de casa a esse valorsão essenciais.

Agilizar o acesso ao crédito antes de escolher a casa é uma forma de avançar com o processo e ganhar tempo, sobretudo nos momentos em que a disponibilidade ou capacidade para visitas é menor. Além disso, nos dias que correm, a facilidade com que todo o processo pode decorrer a nível digital representa muito mais do que uma mais valia – trata-se de uma adaptação à natureza dos nossos dias e ao ADN de quem procura, por exemplo, a sua primeira habitação.

Libertar o cliente da necessidade de reuniões presenciais e rentabilizar o seu tempo e recursos com entrega de documentação digital é apenas o primeiro passo para esta “revolução”. A sua relação com os bancos tradicionais e com o ecossistema de pagamentos e operações há muito que mudou e o processo de crédito à habitação tem que acompanhar essa mudança. Não pode continuar a ser um processo moroso, burocrático, penoso.

Pedro Pereira

Director de marketing da UCI - União de Créditos Imobiliários

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico