CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Opinião

 

Co-living: o antídoto ao desafio dos jovens Portugueses na habitação

23 de setembro de 2019

80% dos jovens Portugueses entre 18-34 anos não gostam de onde vivem e mais de 60% consideram a habitação compartilhada a solução mais adequada para a etapa inicial de suas vidas. Segundo um estudo recente da agência imobiliária Century 21 - somente 4 em cada 10 jovens entre 18 e 34 anos consegue se emancipar em Portugal.

Os 1.9 milhões de jovens Portugueses nessa faixa etária não estão sozinhos nas suas expectativas e desafios. Nos últimos 20 anos, o número de pessoas em habitação compartilhada dessa camada da população dobrou em todo mundo. Esse fenómeno pode ser parcialmente explicado pelo crescimento do valor do imobiliário nos grandes centros urbanos o que requer dessa nova geração uma taxa de esforço muito maior para atingirem o sonho da emancipação.  Em Portugal,  esse fator é ainda mais agravado pelo baixo rendimento da juventude profissional dessa faixa etária que tem uma remuneração média líquida inferior a 1.000 euros mensais, sem contar com quase 38% daqueles que não tem qualquer tipo de rendimento regular e são economicamente dependentes de familiares e parceiros.

Todavia, é importante reconhecermos que essa nova tendência é também fruto de uma nova cultura e estilo de vida. A académica Britânica Alexandra Notay do Urban Land Institute afirma que mudanças estruturais da sociedade e de estilo de vida como o emprego flexível, estão a impulsionar a procura para o arrendamento. Não só a geração “millennial” que hoje representa a maior parte da população mundial, como também uma nova classe de profissionais liberais e digitais, são exemplos reais de um novo segmento da sociedade que prefere o arrendamento, devido à sua flexibilidade e os modelos de negócio compartilhado como Uber e Airb&b porque permitem um melhor custo benefício. Irei além disso, e afirmo que essa tendência é parte de um processo de “milenisação” da economia mundial onde os negócios que melhor refletem essa nova cultura e seus valores conseguem ter uma maior aceitação e êxito no mercado.

No sector imobiliário, o “co-living” está a destacar-se exatamente por isso. Ele oferece aos seus adeptos uma oferta que concilia custo benefício, flexibilidade, conveniência e um estilo de vida mais social que tantos ambicionam num pacote só, daí ser uma solução natural para o atual contexto da habitação. No co-living, os residentes tipicamente optam por um espaço privado menor que seja, um quarto en-suite ou apartamento, desejando ter áreas compartilhadas maiores e de melhor qualidade e variedade. Isso se alinha à preferência de mais de 60% da população jovem Portuguesa que hoje prefere quartos pequenos e salas maiores.

Outra característica do co-living são os serviços, que são parte do contrato que normalmente incluem mobília, contas energéticas, limpeza, manutenção e eventos sociais exclusivos para comunidade. Tudo isso é facilitado por sistemas tecnológicos e uma equipa de um operador especializado por um valor agregado que é tipicamente 20% abaixo do custo de viver sozinho. Todas essas condições, juntamente com a flexibilidade contratual que permite ao residente períodos de estadia mais variados que a norma e a possibilidade de viver em mais de uma localização, explicam o atrativo para o arrendatário moderno jovem que muda de emprego 11 vezes em média no decorrer de sua carreira.

De acordo com o Professor Joaquim Montezuma do ISEG, Lisboa hoje tem uma taxa de esforço, que mede pessoas gastando mais de 30% do seu rendimento na sua habitação, num número exorbitante em torno dos 86%. Para diminuir a taxa de esforço para valores aceitáveis, ele calcula que a área da habitação média em Lisboa teria que ser de 35m2. Essa estatística está também muito próxima a média do espaço proporcionado pelo co-living que está em torno aos 40m2. 

Tudo isso justifica a posição do co-living como a estratégia imobiliária com maior perspectiva de crescimento nos próximos anos. Só as normas urbanísticas antiquadas, a falta de um veículo de licenciamento próprio e a desfavorável legislação sobre arrendamento, travam o crescimento do co-living em Portugal. Eliminando esses obstáculos o co-living sem dúvida, tem um potencial enorme para ser um eficaz antídoto ao conjunto de soluções para lidarem com os  desafios enfrentados pela juventude Portuguesa na habitação.

Williams Johnson

Director e um dos fundadores da B-Hive Living,  uma das empresas pioneiras na área do co-living na Inglaterra e Europa

* Texto escrito com o novo Acordo Ortográfico