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Reabilitação que se faz em Lisboa não é de fachadismo

7 de abril de 2019

Tem no seu portefólio alguns dos mais emblemáticos projectos de reabilitação em Lisboa e não só. Entre lojas de luxo, como a Prada, a Massimo Dutti, a Louis Vouitton, a KIKO, a Alcoa e o restaurante Jamie Oliver , ou outra que estão a desenvolver como a Tesla, a outros edifícios que como o das antigas instalações do Diário de Notícias e o Quarteirão da Suiça, bem como a Pousada de São Filipe, em Setúbal. O atelier Contacto Atlântico, do arquitecto André Caiado, com a experiência de reabilitar na capital portuguesa rejeita a definição de que a reabilitação é de puro fachadismo. Em entrevista ao Diário Imobiliário assegura que que a maioria dos edifícios reabilitados apresentam melhores condições de utilização e segurança. Revela ainda que o centro da cidade sofreu até à data uma reabilitação que não chega a cerca de 20%.

Quais os desafios de realizar os projectos de alguns dos edifícios mais emblemáticos de Lisboa? Qual foi o mais complexo?

Os projectos em edifícios emblemáticos são sempre enormes desafios porque trabalhamos com o património de Portugal. A abordagem passa sempre por uma fase inicial de pesquisa histórica, através da qual se estabelecem as bases da intervenção, protegendo assim o património. O projecto mais complexo no passado foi talvez o da loja da Prada, o resultado fala por si. O projecto mais complexo a decorrer é o da Pousada de São Filipe em Setúbal, por concorrer para o mesmo o maior número de entidades licenciadoras com quem jamais trabalhei, mas o resultado final será fabuloso.

 Que diferenças entre reabilitar e transformar edifícios para habitação e para as lojas de marcas reconhecidas a nível mundial?

Ao reabilitarmos edifícios para habitação temos preocupações na manutenção dos valores patrimoniais dos edifícios mas também temos em conta as necessidades de transformar este património em vida urbana, com as características da sociedade actual. A reabilitação urbana do centro da cidade atraiu cidadãos e por isso vida para as nossas ruas. O pombalino, os azulejos, os métodos construtivos, os estuques trabalhados, são partes das nossas memórias. Os apartamentos resultantes de reabilitação urbana, passam sempre, pela manutenção das características únicas da nossa cidade.

O comércio é hoje uma experiência, o cliente procura não só o produto da marca associada, mas também procura desfrutar de espaços que sejam únicos, espaços estes que hoje se procuram com cunho local. Ainda que mantendo elementos unificadores, referências da marca em questão. A liberdade criativa é extraordinária e aquilo que conta é o resultado final não o preço de execução da obra.

O que diferencia o trabalho da Contacto Atlântico para conseguir desenvolver todos estes projectos em Lisboa?

A Contacto Atlântica é uma empresa com quase 1/4 de século. Ao longo dos anos foi criando amigos, e relações comerciais duradouras, sedimentando um trabalho único de grande seriedade. Procurando obter os resultados desejados pelos nossos clientes, mas também a preservação da cidade para o futuro.

Como analisa o mercado de reabilitação que está a ser efectuado na capital portuguesa?

A alteração da lei das rendas, e um conjunto de condições externas fortemente favoráveis, pronunciou a reabilitação das nossas cidades. No caso de Lisboa o facto de vereador do Urbanismo ser um arquitecto com currículum e experiência comprovada é um enorme benefício para a cidade. A máquina burocrática, enorme e por vezes Kafquiana, continua a existir, mas as decisões de fundo em termos urbanísticos têm sido as correctas. Os nossos projectos incluem orientações municipais e do património no sentido de obter uma cidade coerente eficaz para futuro. 

Concorda quando dizem que a reabilitação não passa de fachadismo? Que está inclusive a colocar em perigo o restante edificado? Quais os problemas por resolver na reabilitação urbana?

Esta afirmação é claramente Falsa. Não há qualquer dúvida que a imensa maioria dos edifícios reabilitados apresentam melhores condições de utilização e segurança. Respeitam o euro código de engenharia civil o que quer dizer: não cairão facilmente com um sismo. Não tem as características de um edifício novo mas comportam-se muito melhor do que o seu estado antes da intervenção. São mais quentinhos, evitam entrada do ruído. São agradáveis para viver e trabalhar.

Os problemas por resolver prendem-se com: O tempo de licenciamento, e o valor patrimonial os edifícios, que deve ser respeitado, mas que muitas vezes concorre com o uso actual expectável para os mesmos. Ainda assim a cidade construída e reabilitada demonstra uma qualidade que está comprovada através da atractividade que nossa cidade tem para portugueses e estrangeiros.

Como vê o futuro do mercado imobiliário e da reabilitação de Lisboa?

O futuro é promissor. Se não existerem novas leis que alterem o enquadramento actual e dificultem a reabilitação. O centro da cidade sofreu até à data uma reabilitação que não chega a cerca de 20%. O futuro reabilitará o centro das nossas cidades ao mesmo ritmo, durante muitos anos. Obteremos como resultado uma cidade viva como residentes no centro, esteticamente extraordinariamente interessante. O que é um valor enorme num país em que o turismo é uma das indústrias mais importantes.

Como vai ser o projecto para o Quarteirão da Suiça?

A Baixa Pombalina é uma pérola do urbanismo Europeu. Está abrangida por regras escritas, que tem sido muito bem sucedidas, na recuperação deste património, nomeadamente através da sua implementação com controle da Câmara e da Direção-Geral do Património Cultural.  Os projectos bem sucedidos, reabilitar os edifícios recorrendo a soluções estruturais maioritariamente em madeira, à reabilitação de janelas e portadas também em madeira maciça, recuperação ou substituição das coberturas recorrendo às soluções estruturais dos telhados conforme foram realizadas originalmente, e também a manutenção dos painéis de azulejos e outros elementos decorativos considerados relevantes.

Os nossos projectos na Rua Augusta, Rua dos Douradores, Rua de São Nicolau, Praça da Figueira, Praça D. João IV (Rossio) Edifícios da Espingardaria e Edifício da Suíça, respeitam estes princípios, e como resultados obtemos edifícios vivos, novos usos para a cidade, e edifícios capazes de resistir a vários séculos de actividade, e ainda com maior capacidade de resistir ao sismo. Mantendo e protegendo características de património que de outra forma se perderiam para sempre apodrecendo um pouco mais a cada inverno que passa.