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Entrevistas

 

Qual o potencial do mercado de luxo no Porto?

28 de dezembro de 2018

Ricardo Costa, CEO da Luximo’s Christie´s, um dos ‘players’ na mediação do mercado de luxo em Portugal fala-nos sobre o caso particular do Porto, uma região que tem surpreendido tudo e todos, superando as expectativas mais optimistas.

O segmento do imobiliário de luxo apresenta-se actualmente bastante dinâmico. A cidade do Porto começa a despertar o interesse dos investidores e são vários os projectos em promoção destinados ao segmente residencial de luxo. Depois do Aliados 107, já comercializado, segue-se a promoção do Clérigos 82, na Baixa, e recentemente o início de obras do edifício Montevideu, na Foz, e o edifício Pharmacia, em Cedofeita. Contudo, é em Lisboa, Cascais e no Algarve onde o mercado de luxo tem maior expressão. Em jeito de balanço, entrevistámos dois dos players que trabalham o segmento alto do mercado residencial, Miguel Poisson, director-geral da Sotheby’s, e Ricardo Costa, CEO da Luximo’s Christie´s.

Oiçamos o que nos disse Ricardo Costa, CEO da Luximo’s Christie´s

Como caracteriza o comportamento do segmento do imobiliário de luxo durante este ano?

2018 foi um ano excelente para a Luximo’s Christie´s, seguindo a tendência do ano anterior. Registou-se uma valorização contínua dos imóveis de alta gama e o investimento em bens imobiliários por parte dos nacionais e estrangeiros continua a ser muito atractivo e percepcionado como mais seguro face aos produtos financeiros. O imobiliário em Portugal continua a ser um sector dinâmico e em crescimento. Portugal, sendo um país que atravessou recentemente uma crise, é visto neste momento como um caso de sucesso, com estabilidade, crescimento e muito seguro.

Que aspectos considera que são positivos e negativos neste segmento?

A segurança é o nosso maior activo. Portugal é o 3.º país mais seguro do mundo e o único com fronteira terrestre. Ganhamos pontos em várias vertentes porque temos mais-valias muito claras como destino turístico e residencial. Alguns são aspectos muito citados e que todos conhecemos como o clima, a relação qualidade-preço, a hospitalidade com que recebemos quem nos visita, a beleza natural e a irresistível gastronomia. Mas há mais: no Porto, o preço por metro quadrado é ainda muito inferior à maioria das grandes cidades europeias. A abertura de novas rotas aéreas tem sido importantíssima para Portugal se afirmar como destino para investimento. Temos beneficiado com a implantação de algumas empresas tecnológicas e também com o reconhecimento do país como destino turístico. Turismo e imobiliário estão intimamente associados e o crescimento de um representa habitualmente o crescimento do outro. Acresce que as alterações climáticas que se fazem sentir noutros destinos não têm ocorrido em Portugal. Por isso, o nosso país é visto como um destino sem catástrofes naturais, com um regime político estável e muito seguro. Num mundo em que a informação é divulgada num ápice, estes aspectos têm reflexos imediatos.

Quais as suas perspectivas sobre a evolução deste mercado em relação à oferta/procura e preços?

Durante os anos 2010/2011, em algumas cidades deixou de haver construção nova, o que de repente desequilibrou a oferta/procura porque havia necessidade de mais habitação do que a que estava disponível. Neste momento já existe uma oferta nova e consistente que veio equilibrar a oferta e a procura. Embora os preços continuem a aumentar, são já aumentos a ritmos decrescentes, i.e., não são tão acentuados como sentimos no passado recente.

Em relação à captação de investimento estrangeiro para Portugal, considera que o que se tem feito é suficiente, ou deveríamos apostar mais na promoção do país?

É sempre possível fazer mais e melhor. Penso que devíamos apostar num turismo de um nível mais alto e com maior capacidade financeira, por isso, era importante apresentarmos o país como um destino com glamour e sofisticação. Detemos um activo que poucos detêm – a segurança – e esse é um activo predominante no preço de um imóvel. Actualmente, a segurança “vale tanto como o cimento”. Todos os países têm uma mensagem, a nossa deve incidir na segurança. Devemos apresentar-nos como um país europeu, de pequena dimensão, muito acolhedor, desenvolvido e muito seguro.

A cidade do Porto tem evidenciado um comportamento muito positivo na venda de imóveis de investimento e no segmento de habitação destinada à gama alta. Concorda?

Sim. Os imóveis de gama alta, no eixo Boavista – Foz, mantêm uma lógica residencial. São procurados por famílias com capacidade financeira para local de residência. Na Baixa ainda não é tão visível a lógica residencial. Prevalece muito a lógica comercial e de investimento. Na baixa, o preço dos imóveis está intimamente relacionado com a rentabilidade que os investidores podem obter com o investimento. Penso que a médio prazo haverá um equilíbrio e a baixa será também vista como um polo residencial e familiar e não como uma zona para investimento ao “estilo Airbnb”.

Podemos considerar que o mercado portuense está a aproximar-se de mercados maduros como o de Lisboa e Algarve?

Não creio. As dimensões são completamente diferentes. O Porto tem uma dimensão muito inferior a Lisboa e ao Algarve. O Porto é uma cidade pitoresca, acolhedora e profundamente europeia. O imobiliário de luxo no Porto concentra-se num raio de 10 Km, entre a Baixa, a Boavista e a Foz. Lisboa é a capital, muito cosmopolita, com uma dimensão e população muito superior ao Porto e, naturalmente, uma atractividade maior, por ser a capital. Lisboa tem também um polo de atratividade menos urbano, com requinte e lifestyle associado, que é Cascais e que capta investidores estrangeiros com muita capacidade financeira. O Algarve tem uma oferta muito vasta, dado que tem imobiliário de luxo ao longo dos cerca de 150 Km de costa algarvia. É a região turística e de investimento estrangeiro por excelência do país. Os imóveis de luxo e os resort premium não são novidade no Algarve.

Qual tem sido o impacto de algumas das medidas legislativas e fiscais recentes no investimento imobiliário de luxo?

Quer o Golden Visa, cuja obtenção obriga a um requisito mínimo de 500.000 euros, quer o estatuto de residente não habitual têm impulsionado o imobiliário. Neste último caso, os clientes optam por comprar uma habitação por questões de poupança fiscal. Outros, com capacidade financeira, preferem um imóvel de alta gama.

Qual o balanço/resultados da LUXIMO’S Christie’s em 2018?

Este ano, crescemos mais de 50%, o que se deve também ao facto de termos aberto um escritório na Marina de Vilamoura, onde, ao longo deste ano, consolidámos as nossas operações no mercado de luxo a sul de Portugal. A Luximo’s Christie´s tem actualmente mais de 30 empreendimentos em carteira. Os nossos empreendimentos de apartamentos ou de moradias situam-se no grande Porto e no Algarve e no segmento médio-alto e alto.

Entrevista de Elisabete Soares para o VE