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Entrevistas

 

Mediadoras estão a adaptar-se ao novo mercado

10 de fevereiro de 2015

Luís Lima, presidente da APEMIP – Associação dos Profissionais das Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, em entrevista ao Diário Imobiliário revela que as mediadoras estão a conseguir adaptar-se à nova realidade imobiliária, apesar de não estar a ser tão fácil como gostaria, pois esta adaptação deveria ter sido feita antes, e de uma forma gradual.

O que está a mudar no imobiliário?

O mercado imobiliário atravessa hoje um período de mudança que se prende essencialmente com as dificuldades que afectam o sector.

É verdade que a fileira do imobiliário e construção se encontra hoje a braços com muitas dificuldades, mas é também certo que os profissionais e agentes deste sector devem ter a capacidade de unir esforços, estabelecendo ligações que permitam rentabilizar as estruturas existentes.

Actualmente assiste-se a uma mudança no paradigma da actividade: há uma migração da construção nova para a reabilitação de imóveis, e do mercado de compra e venda para o mercado de arrendamento.

Estes são os novos desígnios que devem ser aproveitados pelos profissionais da melhor forma possível.

Quais foram as principais causas para que o mercado tenha chegado a este ponto?

A casa própria para habitação foi um fenómeno que marcou os anos 80 e 90, e uma tendência em parte gerada pela exclusividade, nesse tempo, das soluções habitacionais que se ofereciam no mercado de compra e venda, sem outras alternativas viáveis e racionais, e com a sedução de enormes facilidades de acesso ao crédito.

De repente, fechou-se a torneira do crédito à habitação, e as pessoas deixaram de ter possibilidade de comprar casa própria, procurando por isso a alternativa do arrendamento urbano. Um mercado que nunca esteve a funcionar como deveria.

Por outro lado, também é certo que o nosso país descura, há décadas, o património construído – tanto o público como o privado – e apresenta um dos mais baixos níveis no que toca à reabilitação urbana.

Acredita que o arrendamento será a salvação do imobiliário?

Não será, só por si, a salvação de todo sector imobiliário, mas não há dúvida de que é uma das suas tábuas de salvação.

As alterações que foram recentemente introduzidas na lei do arrendamento urbano, nomeadamente no que diz respeito à agilização dos processos de despejo por incumprimento de contrato, e à aplicação de uma taxa liberatória, trouxeram algum optimismo, e fizeram acreditar que este poderá ser o ano do arranque efetivo deste mercado e, por inerência, do mercado da reabilitação urbana pois como é já sabido o seu dinamismo depende intrinsecamente de um mercado de arrendamento urbano a funcionar adequadamente.

No entanto, e para que este mercado comece efetivamente sentir a mudança positiva, é indispensável que haja uma descida dos valores das rendas dos chamados arrendamentos novos na ordem dos 30 ou 40%,para valores competitivos que façam face aos de uma prestação bancária de um crédito habitacional.

Como as empresas de mediação se posicionam neste mercado?

A mediação imobiliária continuará a promover o encontro entre a oferta e a procura, antecipando, tanto quanto possível, as perspetivas que se abrem à procura que é cada vez mais quem marca o ritmo.

Posto isto, a mediação está, como referi, a sofrer uma alteração do seu paradigma de acção, neste caso, da compra e venda para o arrendamento.

Penso que as mediadoras imobiliárias estão a conseguir adaptar-se a esta nova realidade, apesar de não estar ser tão fácil como gostaríamos, pois esta adaptação deveria ter sido feita antes, e de uma forma gradual, e não por força das circunstâncias que obrigaram a uma readaptação brusca do sector

A par disso, continuaremos certamente a fazer todos os esforços para promover o nosso imobiliário, dentro e fora do país, e especialmente junto dos países de língua oficial portuguesa, junto dos quais devemos promover e definir estratégias empresariais sólidas. Esta será uma das apostas mais importantes pois temos uma oferta bastante múltipla e interessante, e um mercado onde, apesar de tudo, se pode investir com segurança.

Há espaço para investir no turismo residencial, numa segunda habitação, para oferecer qualidade de vida. Mas é necessário que façamos um bom trabalho de casa, mostrando a possíveis investidores internacionais a qualidade e segurança do imobiliário português.

Onde vão surgir as maiores oportunidades de negócio?

É difícil responder, mas diria que a Reabilitação Urbana nos centros das cidades históricas mais importantes será, a médio e a longo prazo uma boa oportunidade de negócio. Além de ser uma opção sustentável e com potencial urbanístico correto. O imobiliário está no centro da vida das pessoas e faz parte das soluções que toda a gente procura para ter uma melhor qualidade de vida.

E a reabilitação como se está a fazer? Apesar de ser uma das prioridades do memorando da Troika, não acha que ainda falta um programa estratégico para este mercado?

A requalificação do nosso património e a reabilitação dos centros urbanos das nossas principais cidades são dos caminhos mais seguros para garantir a sustentabilidade do sector, mas penso que de facto, é necessário repensar os moldes adoptados para fazer cumprir esta estratégia, e estes moldes deverão passar pelas autarquias locais.

A reabilitação urbana pode e deve contribuir para a recuperação de milhares de postos de trabalho perdidos neste sector, alguns dos quais referentes a portugueses de formação profissional estreita e em idade difícil para adquirir novas formações.

A nova oportunidade que a construção e o imobiliário precisam passa pela manutenção da actividade das empresas deste sector e estancar um desemprego que tende a ser de longa duração e de difícil inversão. A necessária Reabilitação Urbana dos centros das nossas principais cidades pode ser a solução para este problema.

Este caminho também ajudará Portugal a “vender-se” melhor no exterior como destino turístico de eleição que é.  Em Portugal, o imobiliário pode ser um dos pilares de uma projecção do país pela via da promoção internacional das cidades, com efeitos positivos na dinamização do turismo, nomeadamente do turismo residencial.

As cidades têm de reclamar, para si, esse dinamismo. Algumas, como por exemplo Lisboa, para apenas citar a mais emblemática, já o fazem, interna e externamente. E terão, crescentemente, de continuar a fazê-lo, mesmo que isto implique uma mudança de paradigma na dinamização da Reabilitação Urbana.

A internacionalização pode ser uma oportunidade para o nosso mercado?

Sem dúvida. A internacionalização é uma das principais vias pela qual se deve seguir, especialmente em sectores como o do imobiliário, que têm grande representatividade e importância para o desenvolvimento da economia dos países, e ainda mais em países como Portugal, que apresenta um sector de grande qualidade e grande potencial para se afirmar junto de outras economias.

O nosso imobiliário, que não sofreu as vicissitudes inerentes às bolhas imobiliárias, como sofreram outros mercados, é refúgio seguro para investimentos que se sentem órfãos desde que rebentou esta crise e se viu quão frágeis e voláteis eram outros investimentos.

O que podemos vender no estrangeiro?

Sempre defendi o Turismo Residencial como um produto estratégico para o nosso país, e com um impacto transversal muito importante nos sectores do imobiliário e construção, turismo, e para a nossa economia.

O potencial que o nosso país tem é indiscutível e temos para oferecer ao mundo novas oportunidades de negócio. Portugal tem uma localização privilegiada, um clima invejável, temos praia, campo, montanha, cidade, somos um dos países mais seguros da Europa, a qualidade da nossa construção é indiscutível. Reunimos todas as condições para que escolham o nosso país para comprar segunda habitação. Importa agora promover no exterior todas estas nossas qualidades. O segredo está em saber descobrir as procuras interessadas para todas as nossas ofertas.