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Crise incentiva à má construção em Portugal

11 de fevereiro de 2015

Apesar da falência de muitas empresas ligadas ao imobiliário e à construção existem casos em que a crise no sector tem sido ultrapassada com aumento de produção, sobretudo para aquelas que apostaram na internacionalização. É o caso da Casais, empresa familiar na área da construção, que entre 2011 e 2013 registou um aumento de 500% na exportação. Só em 2013 apresentou um volume de negócios de 335 milhões de euros, sendo que 30% foi oriundo de projectos em Portugal e neste mercado registou um decréscimo de 12% relativamente a 2012. Contudo, o crescimento a nível internacional foi de 35%.

António Carlos Rodrigues, CEO da Casais, revelou ao Diário Imobiliário que a empresa não deixou de actuar no mercado nacional mas os projectos internacionais são neste momento a base de negócios do Grupo. Actualmente tem em curso diversas obras, sobretudo na área da reabilitação, nomeadamente dois grandes hotéis na Avenida da Liberdade em Lisboa, o Porto Bay Liberdade e o Bessa Hotel Lisboa da BBon. “As obras de reabilitação são uma forma de continuar a trabalhar em Portugal mas mesmo assim não são suficientes para manter a empresa. Com o mercado nacional passámos a facturar metade do que há uns anos atrás enquanto a nível internacional triplicámos”, revela o CEO. Além destes projectos está também a construir um resort em Mourão, o L’And Reserve.

60% da actividade da Casais é realizada em África

No momento actual, 60% da actividade da Casais é realizada em África, sobretudo em Moçambique, Angola, Argélia e Marrocos. António Rodrigues revela que nestes países são necessárias infra-estruturas básicas como escolas, hospitais, saneamento básico e muitos outros equipamentos fundamentais e só aí, a Casais terá muito trabalho para os próximos 10 anos. “Temos perto de 300 quadros a trabalhar no exterior”, salienta.

Além do continente africano a Casais está presente também na Europa, em países como a Alemanha, Bélgica, Gibraltar e Holanda. Encontra-se ainda no Brasil e Qatar. Também em França tem negócios com empresas do Grupo.

No futuro vamos ter falta de mão-de-obra qualificada

Perante o panorama actual de Portugal António Carlos Rodrigues adianta que o sector da construção tem sido um dos mais afectados com a quebra na economia e isso comprova-se no número de trabalhadores, que era de 600 mil em 2008/2009 para os 300 mil na actualidade. “Só não tivemos mais problemas sociais porque muitos trabalhadores foram para fora. O responsável da Casais mostra no entanto alguma preocupação com esta situação. “No futuro vamos ter falta de mão-de-obra qualificada porque os nossos especialistas estão a sair e os cursos em Portugal começam a perder jovens interessados nestas áreas, sobretudo nas engenharias”, refere.

É nesse sentido que a Casais tem realizado uma forte aposta na formação. Para o empresário é fundamental que os seus quadros estejam bem preparados e precisamente a pensar no futuro tem uma estratégia bem definida para formar os seus trabalhadores, quer portugueses quer os locais que trabalham para a Casais. “Demorámos 20 anos a conseguir uma actividade sólida nos países onde estamos a trabalhar e por isso estamos concentrados nesses mercados”, salienta.

O mercado nacional está irracional e desequilibrado

O responsável da Casais vai ainda mais longe e admite que o mercado nacional está irracional e desequilibrado. “Continua a existir pouco investimento e nos concursos públicos só se privilegia o preço. Em muitos concursos a maioria das empresas apresentam valores 40% abaixo do valor base. Isso destrói qualquer viabilidade de se apresentar um projecto com um valor justo e com qualidade por isso aos concursos públicos nem concorremos. O princípio da sustentabilidade devia constar na Constituição, tal como acontece por exemplo na Colômbia”, reforça.

O responsável alerta mesmo para o facto de a crise vir novamente incentivar à má construção em Portugal. “Estamos a criar empresas mutiladas. O Governo tem de definir um preço justo para a construção”, conclui.