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Construção sustentável é mais teórica do que prática

11 de fevereiro de 2015

Em Portugal foi criado em 2005 o sistema LiderA, que significa Liderar pelo Ambiente para a construção sustentável. Trata-se de um sistema voluntário português que permite apoiar o desenvolvimento de projectos que procurem a sustentabilidade e certificá-los, sejam edifícios, zonas urbanas, empreendimentos, materiais e produtos, desde a fase de projecto, construção até à operação.

Desde a sua criação o sistema LiderA tem em Portugal mais de 1200 de fogos certificados, mais de seis mil de camas turísticas, bem como vários milhares de metros quadrados na área do comércio e outros serviços.

O sistema foi desenvolvido por Manuel Duarte Pinheiro, Doutorado em Engenharia do Ambiente com a tese sobre Sistemas de gestão ambiental para construção sustentável, docente do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior Técnico e fundador da IPA - Inovação e Projectos em Ambiente.

Em entrevista ao Diário Imobiliário, Manuel Duarte Pinheiro, revela que a consciência para a sustentabilidade é na maioria das vezes mais teórica e que na prática nem sempre se concretiza.

Que tipo de projectos são os que mais têm conseguido ser construídos dentro dos parâmetros do sistema LiderA?

Os que tem uma visão integrada e que o sistema é ou é utilizado nos empreendimentos desde a fase inicial (Centro de Educação Ambienta de Torres Vedras), ou que o promotor ou dono da obra tem elevada sensibilidade (por exemplo Belas Clube de Campo) ou que a gestão é proactiva (Vila Galé Albacora em Tavira). No fundo edifícios e empreendimentos de elevado desempenho que estão preparados para o futuro, onde os custos da energia e água por exemplo poderão ser menos elevados, e com maior flexibilidade.

Que requisitos são necessários para que um projecto consiga a classificação?

Conseguir assegurar que tem um bom desempenho ambiental e bons custos no ciclo de vida, satisfazendo de forma equilibrada a sua função social e económica. Para ser certificado precisa de pelo menos em média ter uma melhoria de desempenho de 25 % face à prática usual (classe C do LiderA) por exemplo no desempenho energético, na água, nos materiais. A grande maior parte dos empreendimentos certificados atingiram a classe A (50 % de melhoria), havendo alguns que são A+, isto quatro vezes melhores que a prática. No geral a classe C e B, tem uma boa relação custo desempenho ambiental, sendo que a A já varia.

Como se encontra o país em matéria de construção sustentável?

Existem já bons exemplos, entre os quais se encontram os certificados pelo LiderA importa que seja aplicado de forma mais generalizada em especial na reabilitação e regeneração. Um processo em desenvolvimento. Importa também que a academia e formação profissional dê mais importância até porque este é um aspectos considerado por clientes mais exigentes e esclarecidos.

O que é necessário mudar para que se construa de forma mais sustentável?

Em primeiro lugar é princípio ter uma visão integrada e no foco no desempenho na forma como se integra e potencia o local, reduz os consumos de recursos, aproveita as cargas (por exemplo resíduos) e contribua para um bom serviços e vivências.

Em segundo lugar é preciso saber fazer bem os custos e os custos no ciclo de vida. Por vezes existe a noção que construir de forma sustentável é mais caro. Será que orientar bem um edifício novo é mais caro ou que ter uma área envidraçada adequada ao clima em contraponto com uma área alargada é mais caro? Ou reabilitar os envidraçados selectivamente é mais caro? A resposta é que não.

Em terceiro lugar ter a consciência que para ter a sustentabilidade é fundamental ter boas construções, como bons sistemas mas que a forma de uso e gestão é também decisiva.

Existe a consciência por parte dos promotores, construtores, arquitectos, engenheiros para seguirem e aplicarem uma construção sustentável? Ou ainda é uma minoria?

Em palavras por vezes, na prática nem sempre se concretiza. Embora com dados limitados julgo que é ainda uma minoria (5 a 10%) embora crescente. Só no âmbito do LiderA estão registados mais de 450 assessores que fizeram o curso Lidera, tiveram aprovação no exame. A nível municipal existem vários exemplos que reduzem as taxas urbanísticas como Santarém, Torres Vedras ou Beja. A nível dos promotores, construtores e projectistas tem vindo a surgir abordagens e casos que são exemplo e notícia frequente.

Hoje a reabilitação urbana é uma das prioridades para a construção. Como se reabilita com sustentabilidade?

Reabilitar significar ajustar para um uso que tem hoje mais especificidades e exigências. Reabilita-se aproveitando-se e potenciando as componentes construtivas existentes (desde que seja possível estruturalmente), hoje temos uma variedade de soluções compatíveis, se por exemplo não é eficiente isolar internamente podemos fazer externamente (ETICS ou outros). Complementando com soluções mais eficientes. Um dos grandes desafios é dispor de soluções modulares que permita facilitar e tornar esse processo mais limpo e interessante economicamente.

Duas das áreas que tem vindo a ter mais procura e que perspectivo como mais dinâmicas são a reabilitação sustentável a baixos custos, bem como intervenções que criando dinâmica na zona urbana, que designo por acupunctura urbana. Julgo que essas áreas podem gerar efeitos de escala (reduzindo custos) e potenciar dinâmica e criação de valor e bem-estar que é essencial para o sector.