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Arquitectura

 

 

O universo fantástico do arquitecto Ventura Terra

11 de julho de 2017

Esboços, plantas, alçados e fotografias de edifícios projectados por Ventura Terra preenchem a exposição “Do util e do bello”, a inaugurar na quinta-feira, no piso térreo do Torreão Poente, em Lisboa, na véspera dos 151 anos de nascimento do arquitecto.

“Mostrar o arquiteto extraordinário e a pessoa fabulosa que foi Miguel Ventura Terra (1866), revelando o homem nas suas várias facetas” é, segundo a arquitecta Hélia Correia, da Câmara Municipal de Lisboa e uma das comissárias da mostra, o principal objectivo da exposição.

Ocupando uma área de quase 400 metros quadrados, a mostra divide-se em cinco núcleos temáticos: "Família e estudante", "A prática da arquitectura", "O vereador", "Sociedade dos Arquitectos Portugueses" e "Comissão dos Monumentos Nacionais", culminando com uma projecção em vídeo dos cinco prédios em Lisboa considerados mais emblemáticos, entre os concebidos pelo arquitecto.

Palácio das Cortes (atual Assembleia da República), Sinagoga Shararé Tikvá, Palacete Mendonça, Liceu Camões e Teatro Politeama são os edifícios exibidos no vídeo que encerra a exposição, comissariada também pelas investigadoras Ana Isabel Ribeiro e Rita Megre, licenciadas em História, e que se integra nas comemorações dos 150 anos de nascimento do arquitecto.

A título de epílogo, a mostra contempla ainda dois mapas, um de Lisboa e outro de Portugal, com a distribuição das obras do arquitecto nascido em Seixas, Caminha, a 14 de Julho de 1866, que morreu em Lisboa, aos 53 anos.

Ao longo da exposição, os visitantes ouvirão as intervenções do arquitecto enquanto foi vereador da Câmara de Lisboa, entre 1908 e 1913, e, por um curto período, em 1917.

 

Um homem que mudou a cidade de Lisboa

 

“Consultámos as actas das intervenções de Miguel Ventura Terra na Câmara e optámos por transpô-las para a palavra falada, de modo a que, quem vier ver a mostra, perceba o homem excepcional que mudou a cidade e que sempre defendeu que a prática da arquitectura devia estar não apenas de acordo com os costumes e hábitos, como também com a ciência moderna”, referiu a arquitecta.

“Ventura Terra, arquitecto – Do util e do bello” contempla ainda o lançamento de um documentário, a estrear provavelmente em Outubro, no Cinema S. Jorge, em Lisboa, elaborado pela Videoteca, também da autarquia de Lisboa, com imagens recolhidas ao longo de um ano sobre "a pessoas extraordinária que foi este arquitecto", acrescentou Hélia Silva.

Do nascimento, em Seixas – localidade que nunca abandonou ao longo da vida assim como não o fez a familiares nem amigos –, até à ida, com 15 anos, para o Porto, onde iniciou, e terminou, o curso de Arquitectura Civil (1884), na Academia Portuense de Belas Artes, ou à ida para Paris, em 1886, quando ficou em primeiro lugar no concurso de pensionista (bolseiro) do Estado da Classe de Arquitectura Civil, tudo é possível ver na exposição.

 

A sua obra em Lisboa e em Portugal

 

À medida que se percorre o núcleo subordinado à prática da arquitectura, é possível ver várias fotografias de obras que projectou, entre as quais as que lhe valeram cinco Prémios Valmor, um dos quais uma menção honrosa.

Enquanto do lado directo do visitante estão afixadas as construções concebidas para Lisboa, do lado esquerdo é possível o confronto com obras que projectou para o resto do país, mostrando um homem que tanto podia trabalhar a gizar um palacete (como o Mendonça, Prémio Valmor em 1909), como num edifício para acolher a Associação Protectora da Primeira Infância ou o edifício de apoio balnear que projectou para Setúbal – entretanto já demolido e que foi o único de traça mourisca que concebeu.

O empenho cívico do arquitecto, republicano convicto, é outra das facetas do criador, mostrada na exposição, patente na importância como membro da Sociedade Portuguesa dos Arquitectos Portugueses – foi, em 1903, o primeiro presidente do Conselho Diretor desta entidade -, como enquanto elemento da Comissão dos Monumentos Nacionais, organismo em que permanece até morrer, em 1919, e no qual se bateu pela conclusão da Igreja de Santa Engrácia e sua transformação num panteão.

A Casa Ventura Terra (1903), o Palácio Valmor (1906), o Palacete Mendonça (1909), a Casa de António Thomaz Quartin (1911) e a Casa de Artur Prat (menção honrosa 1913) perfazem a lista de prémios Valmor obtidos por Ventura Terra.

Organizada pelo pelouro da Cultura da autarquia de Lisboa, a exposição conta, entre outros apoios, com a colaboração da Associação Ventura Terra, que integra familiares do arquitecto.

Esta associação detém, em regime de comodato e por 30 anos, a Casa de Férias que o arquitecto construiu em Seixas, e que a autarquia de Caminha adquiriu em 2002.

A mostra está patente até 21 de Outubro e é visitável de terça-feira a sábado, das 11:00 às 16:00.

 

Para conhecer melhor e vida e obra de Miguel Ventura Terra consultar o blog “Restos de Colecção” AQUI