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Arquitectura

 

Arquitecto Siza Vieira defende "urgência" no direito à habitação para todos

27 de maio de 2019

O arquitecto Álvaro Siza destacou hoje, numa conferência, em Carcavelos, a urgência do direito à habitação para todos, como uma forma de garantir a felicidade colectiva no âmbito da criação em arquitectura.

Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura, ambos vencedores do prémio Pritzker, o maior para a arquitectura, foram convidados a participar nas Conferências do Estoril 2019, no painel "Prémios Pritzker sobre Arquitectura e o direito à felicidade", com moderação da professora de arquitectura Eduarda Lobato de Faria.

Ambos sublinharam a gratidão que sentem quando pensam no contributo dos seus projectos para a felicidade coletiva.

"O mais urgente é o direito à habitação para todos, mas é preciso saber de que maneira se pode conseguir alcançar isso", disse Álvaro Siza, referindo-se aos seus projectos de habitação social, nomeadamente no Porto, e também aos projectos que desenvolveu em Berlim e em Haia, onde a população local era de mais de 50 por cento de imigrantes.

O Prémio Pritzker 1992 disse ainda que, neste "mundo muito vasto e ambicioso, onde há desigualdades, continua a existir uma preocupação em construir habitação social".

Para Eduardo Souto de Moura, outro dos grandes nomes da arquitectura da chamada Escola do Porto, também premiado com o Pritzker e pela Bienal de Veneza de Arquitectura, com o Leão de Ouro, o conceito de felicidade passa igualmente pela vivência do bem-estar colectivo, mas também do próprio arquitecto.

 

 

 

A nossa felicidade e a dos outros...

"O autor tem de estar feliz para promover a felicidade dos outros", sustentou Souto de Moura, que, ao contrário de Siza, tenta imaginar que está a construir sempre para si próprio e não para os outros.

Para o arquiteto portuense, no entanto, "a arquitectura é um acto social, e há a questão da responsabilidade social, se o colectivo adere àquele objeto construído", pelo seu criador.

"Claro que ficamos mais felizes quando o colectivo adere à obra", disse, ressalvando, no entanto, que tudo começa pelo autor.

"Não tenho vergonha em dizer que tudo começa por nós, os autores", disse Souto de Moura, numa intervenção muitas vezes marcada pelo humor.

Quanto às obras que mais satisfação lhe deram criar, o Pritzker 2011 nomeou o Metro do Porto e o Estádio de Braga.

"O Metro do Porto dá-me muita satisfação porque melhorou a vida das pessoas, a sua acessibilidade; e ao Estádio de Braga - o projecto que mais gostei de fazer - o colectivo aderiu", revelou sobre a obra criada a tempo do Euro2004.

Na opinião do arquitecto, também autor, entre outros, da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, o máximo que se pode atingir de felicidade em arquitectura é o Partenon, edifício classificado Património Mundial, localizado em Atenas, na Grécia.

"De grande beleza, inserido na acrópole, domina tudo em seu redor. É uma simbiose única", justificou.

Souto de Moura comentou ainda que os critérios do arquitecto - que procuram uma estética que marque a História da Arquitectura - muitas vezes nada têm a ver com o que os clientes pretendem.

"O arquiteto tende a criar uma arquitectura universal, com critérios estéticos que muitas vezes não alinham com as vontades dos clientes. Nestes casos, a felicidade do arquitecto deve ser enorme, a felicidade do cliente deve ser horrível", disse, provocando o riso numa audiência com algumas centenas de pessoas, e muitos jovens estudantes de arquitectura.