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Primeira fábrica de fiação do país está a ser recuperada

8 de abril de 2019

A primeira fábrica de fiação do país, uma das mais emblemáticas fábricas do Vale do Ave e uma das maiores empresas têxteis da Europa, está a ser recuperada para receber o novo centro de logística e distribuição da Hotelar Têxteis, empresa detentora do edifício e que está reabilitá-lo. A empresa ocupará mais de um terço do espaço da velha fábrica.

Nascida em 1845, a Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela chegou a empregar mais de três mil pessoas. Dos cerca de nove quilómetros quadrados de área que a empresa ocupou, já só restam as paredes e as carcaças de algumas máquinas. Foi uma das mais emblemáticas fábricas do Vale do Ave, coração da Indústria Têxtil e do Vestuário portuguesa e uma das maiores empresas têxteis da Europa, mas não resistiu à chegada do novo século.

O projecto arquitectónico para a nova vida da velha fábrica, é da autoria do gabinete ad quadratum arquitectos, a proposta privilegia a preservação e valorização da relevância histórica e arquitectónica do centenário complexo que integra a Rota do Património Industrial.

O edifício assume-se como um marco emblemático do património industrial e símbolo de uma época áurea da construção associada à dinâmica da indústria têxtil no Vale do Ave. Aqui, será instalado o novo centro de logística e distribuição (escritórios, matéria-prima, produto acabado e produção) daquela empresa portuguesa, numa área total de 37.000 m2 de terreno, 22.000 m2 dos quais são área coberta, distribuídos por dois pisos.

De acordo com a equipa de arquitectura, a proposta do projecto acomoda o organigrama industrial e de armazenagem de uma ‘nova’ têxtil, orientada e sensível à preservação patrimonial, como valor de cultura e como suporte a novas práticas industriais assentes em tecnologias de ponta, sustentáveis e adequadas à preservação e valorização do relevante ‘contendor’ edificado onde se instalará. Localizada na margem esquerda do Rio Ave, e próxima do centro da cidade, a fábrica constitui uma referência incontornável na memória colectiva de Santo Tirso e um espaço fundamental na compreensão do desenvolvimento da região e da indústria: um complexo de grande relevância arquitectónica e histórica no âmbito da arqueologia industrial.

Para Arquitecto José António Lopes do gabinete ad quadratum arquitectos "a intervenção e a investigação em edifícios e conjuntos de interesse patrimonial, não só o classificado, são uma arte que exige um saber muito específico e obrigam a um grande respeito pelos edifícios a intervencionar . Estamos a recuperar as ruínas industriais respeitando a estrutura preexistente. Os edifícios antigos 'devolvem em dobro' o que lhes damos".

A História da Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela:

A Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela foi protagonista, com outras fábricas da região do Vale do Ave, no processo de industrialização local, de carácter marcadamente têxtil. Os primeiros anos de actividade foram marcados pela instabilidade política e económica do país. A Guerra civil de 1846-47 e o início da regeneração em 1851, contribuíram para a situação precária em que se encontrava a indústria nacional. Os primeiros anos pautam-se assim por algumas dificuldades no escoamento dos produtos armazenados e pelas pesadas taxas alfandegárias que incidiam sobre o algodão. A guerra da secessão nos EUA (1861-65), fez aumentar o preço do algodão, permitindo à fábrica transformar em lucro o produto armazenado.

Nas décadas seguintes realizaram-se grandes obras, para a ampliação das instalações e modernização das máquinas. A fábrica estende-se à outra margem do rio Vizela, multiplica o número de trabalhadores e das encomendas. Alarga a sua actividade às colónias africanas estabelecendo feitorias em Angola e contactos em Moçambique. É a responsável pela chegada do comboio a Negrelos, assim como participa nos trabalhos para a recuperação da estrada que a liga à Vila de Santo Tirso.

Em 1911 um grande incêndio destruiu parte do edifício de quatro andares onde se encontrava a fiação, demonstrando a necessidade de construir instalações mais seguras. Durante a década de 30 e 40, a fábrica estendeu-se então para a margem direita, concentrando aí, até hoje, os seus principais edifícios.

No início dos anos 50 a Fábrica contava com 3000 operários, alimentando 31.624 fusos e tendo em funcionamento cerca de 1200 teares. Em 1953, formava-se a Sociedade de Fiação e Tecelagem do Rio Vizela, a qual arrendou a Fábrica e estruturas anexas à sociedade cessante, através dos seus sócios.

De referir que a Hotelar foi fundada em 1995, sendo uma empresa originalmente portuguesa, não deixa de ter uma crescente posição num mercado internacional e uma ambição global. É uma empresa especializada no fornecimento de produtos têxteis para os exigentes sectores hoteleiro e de lavandarias industriais, bem como para ginásios, spas e restauração.