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Novo Banco: Auditoria participou ao MP créditos à Prébuild e ao projecto Greenwoods

26 de maio de 2021

O departamento de auditoria do Novo Banco enviou ao Ministério Público (MP) documentação relativa a processos de crédito à Prébuild e ao projecto Greenwoods, envolvendo o grupo Pelicano, disse hoje no parlamento o ex-diretor Nelson Martins.

A nomeação dos casos em causa foi feita pelo antigo diretor de auditoria do Novo Banco em resposta ao deputado Duarte Alves (PCP), depois de o antigo responsável ter admitido que o seu departamento comunicou ao MP por existirem, no seu entender, "factos que consubstanciavam matérias suscetível de participação".

O responsável, actualmente na GNB Gestão de Ativos, do grupo Novo Banco, foi hoje ouvido na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

Nelson Martins clarificou que no projeto Greenwoods, também conhecido como 'Mata de Sesimbra' (distrito de Setúbal), "um activo imobiliário bastante relevante, que chegou a valer mais de 200 milhões de euros" estava envolvido o grupo Pelicano e a Espart, do antigo Grupo Espírito Santo (GES).

Mais tarde na audição, o deputado Alberto Fonseca (PSD) elencou o exemplo da Prébuild, descrevendo que o caso de pré-financiamentos à exportação eram "do conhecimento da hierarquia, que só actuou um ano mais tarde de se perceber que este grupo estava a omitir toda a informação".

O deputado do PSD deu ainda um exemplo de um financiamento concedido à Prébuild "particularmente grave".

"Em Julho de 2011 foi concedido um financiamento de médio e longo prazo de 20 milhões de euros, com uma suposta finalidade de apoiar a consolidação das empresas, crescimento e expansão internacional, e também suprir o grupo Prébuild com meios necessários à reestruturação de empresas adquiridas", começou por descrever o deputado.

Alberto Fonseca disse que o dinheiro foi "creditado na conta da Prébuild, de seguida, por parte do centro de empresas, é transferido para a Prébuild SGPS, e daqui é transferido para a ESI [Espírito Santo International]".

"Portanto, o grupo Prébuild entra no capital da ESI com o financiamento do Banco Espírito Santo, cuja finalidade era para expansão da actividade", concluiu.

Na resposta, Nelson Martins afirmou que "foram esses factos, e outros, que justificaram, numa primeira fase, que a equipa de auditoria, numa primeira fase, recomendasse a realização de um inquérito de inspecção".

"O inquérito efetivamente concluiu por toda uma factualidade complexa", disse o antigo director de auditoria, salientando também "a ausência de informação, nomeadamente sobre os planos de negócio e as operações reais que justificavam o crédito".

Nelson Martins disse ainda não se recordar especificamente se houve uma comunicação acerca do caso do financiamento de 20 milhões de euros ao Banco de Portugal.

"Mas acredito que sim, porque os pedidos normalmente decorrem sobre as auditorias que expõem sobre maiores riscos à atividade, ou questões de responsabilidade, portanto acredito que sim", referiu.

No final da audição, a presidente da comissão em exercício, Isabel Oneto (PS), questionou o diretor sobre "quem é que tinha poder" para aprovar financiamentos de 20 milhões de euros fora do quadro regulamentar normal do banco.

Nelson Martins disse que o processo passava pela administração do BES, no âmbito do conselho de crédito.

Na terça-feira, o antigo director de recuperação de crédito do Novo Banco, Daniel Santos, disse que as Cerâmicas Aleluia, da Prébuild, um dos grandes devedores da instituição, tinham má gestão e 'empolaram' contas no valor de 19 milhões de euros.

"As próprias contas da empresa estavam a ser empoladas para não dar prejuízos, e, portanto, para esconder uma gestão completamente danosa", disse Daniel Santos no parlamento, sobre a gestão que a Prébuild, de João Gama Leão, fez das Cerâmicas Aleluia.

No dia 06 de maio, o empresário disse que as cerâmicas foram perdidas pela Prébuild para um fundo que não nomeou, mas que suspeita estar relacionado com o maior produtor de matéria-prima para aquele segmento industrial.

"Esse grupo de matéria-prima foi adquirido por um fundo, que eu não consigo precisar qual é", disse João Gama Leão, acabando por dizer que o Novo Banco fez uma "manobra" para "servir esse fundo" quando o grupo empresarial ficou fora do seu controlo.

"Acho que o destino do meu grupo se deve a essa vontade de alguém. Porque se as cerâmicas não pertencem ao Novo Banco, se não ganharam dinheiro com as cerâmicas, então serviram o interesse desse fundo e não do Novo Banco", concluiu.

LUSA/DI