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Millennials querem mudar o ‘chip’ do imobiliário nacional

1 de abril de 2019

É obrigatório ter nascido depois de 1985, caso contrário não tem entrada no grupo. Para o integrar só é necessário uma condição, ser jovem e trabalhar na área do imobiliário, sobretudo, como advisory, na consultoria, finanças, ou promoção. É o ‘sangue’ novo a fervilhar no mercado, desejoso de ajudar a melhorar e a mudar o ‘chip’ no imobiliário, ou não pertencessem à Geração Y, também designada Millennials.

O FREL – Future Real Estate Leaders nasceu depois de alguns jantares e encontros entre jovens profissionais do imobiliário que trabalham essencialmente na consultoria. António Velho da Palma, consultor na imobiliária JLL, no departamento de Consultoria Estratégica & Research, é o mentor deste grupo. O encontro de amigos e parceiros de profissão, começou a atrair cada vez mais jovens talentosos do imobiliário, que se reúnem em jantares, na primeira-quinta-feira de cada mês no restaurante Jockey, em Lisboa.

Hoje já ultrapassam os 150 e a vontade é sempre a mesma, conseguir debater e abordar o imobiliário de uma forma mais positiva. “Depois de frequentar vários eventos, conferências, jantares e cocktails e conhecer os principais players do setor imobiliário, percebi que o discurso era sempre o mesmo e que carregava algum pessimismo. O mercado português está muito controlado por pessoas que têm mais de 50/60 anos e que viveram outros tempos mas, como têm outra maneira de pensar, acabam por não transmitir muita confiança às novas gerações”, explica.

Outro fator decisivo para a criação deste grupo, foi o facto de os habituais eventos do sector serem para pessoas com poder de decisão, deixando de fora todos os outros que têm um impacto direto nos negócios. Ou seja, pessoas que trabalham no back-office, mas que já começam a ter algum poder de decisão dentro das suas empresas ou em vias disso.

António Palma revela que decidiu  criar um grupo de pessoas do imobiliário para permitir aos jovens partilhar conhecimento e experiências, fazer networking e criar oportunidades de trabalho e de investimento. “O objetivo é obter um grupo diversificado de segmentos dentro do imobiliário corporate e criar uma pool de jovens que criem novos conceitos e novas tendências. E em Janeiro decidi extrapolar o grupo e criar as FREL Talks”. Uma delas, trouxe de Londres, Williams Johnson Mota, criador do B-Hive Living uma das empresas pioneiras no ramo do co-living na Inglaterra e Europa.

Entre os participantes do FREL encontram-se jovens vindos de empresas portuguesas e estrangeiras, entre elas: SAVILLS, JLL, CBRE, Worx, Cushman & Wakefield, Fidelidade Property, Hudson Advisors, JPS Group, Rockbuilding, Louvre Properties, Essentia, Merlin Properties, Santander Real Estate, Norfin,  Alantra, Sonae Sierra, Uría Menéndez-Proença de Carvalho, Vieira de Almeida, ECS, Lince Capital, Grupo Auchan, APPII, Explorer, Finangeste, Fosun Real Estate, Optylon, entre outras.

Millennials vão ser os principais intervenientes do imobiliário

“Os millennials vão ser os principais clientes, investidores e compradores de imobiliário no futuro próximo e por isso é extremamente importante que os players do mercado entendam este novo cliente, que tem uma forma de viver e pensar totalmente diferente das gerações anteriores”, explica António. Acrescentando ainda que “os jovens vão ter um papel fulcral na conceptualização do imobiliário como futuros usuários. Por isso, devem poder ter um papel ativo nos projetos de forma a integrar os novos conceitos de partilha, mobilidade, tecnologia e sustentabilidade”.

António Velho da Palma adianta também que os jovens ambiciosos, informados e viajados trazem novas tendências, e uma mente mais aberta e flexível para se adaptarem à resiliência do mercado e aos ciclos económicos. “Estes jovens serão, potencialmente, os empreendedores das proptech que irão (ou já estão) revolucionar o mercado em diversos segmentos da atividade e do ciclo de vida do imobiliário”.

Salienta que os  jovens gostam de abraçar novos desafios, integrar equipas onde são responsabilizados e podem participar na tomada de decisão, tendo flexibilidade para desenvolver oportunidades e projetos. Têm que ser mais autónomos e proactivos.

Empresas têm de aderir à digitalização

No entanto, a nova geração tem consciência que é necessário que as empresas iniciem um processo de digitalização, incorporando mais ferramentas tecnológicas, inovando nos processos de análise e tomada de decisão. “Ferramentas para trabalhar data science, big data mining and analysis, blockchain, mecanismos de machine learning e inteligência artificial. Estas inovações são essenciais para facilitar a análise da oferta e a procura. Tornar a tomada de decisão mais eficaz e eficiente com o objetivo de servir melhor o cliente através da satisfação das suas necessidades. Para tal, é necessário criar, construir e gerir os melhores produtos e serviços, no menor espaço de tempo, ao melhor preço e da forma mais sustentável”, avança o mentor.

António Palma, acrescenta ainda que os desafios são grandes para a nova geração, sobretudo perante a resiliência dos mais velhos. “Gestores de empresas e equipas que não sabem liderar, baixos salários praticados no segmento corporate quando estamos a viver o melhor ciclo imobiliário de sempre e condições de trabalho pouco motivadoras tendo em consideração o bom momento que se vive no mercado”.

Vícios permanecem

Existem ainda muitos vícios no mercado imobiliário que continua pouco transparente, falta de informação, regulação e supervisão do mercado. Decision makers que se opõem à inovação e transformação dos processos, sistemas e mercado.

Falta de mão-de-obra na construção que pode impactar o mercado imobiliário. Escalada dos preços de construção e habitação. Pouca estabilidade fiscal e legislativa que afasta os investidores. Ineficiência e ineficácia dos serviços camarários que não dão resposta adequada”.

Contudo, valorizam a experiência dos mais velhos, sobretudo o savoir-faire, saber estar, ouvir, escutar. Conhecimento sobre o mercado, perceber a evolução do mercado para saber contar uma estória. Aprender com a experiência de quem viveu diferentes ciclos e crises. Aprender com os erros cometidos no passado para não os voltar a cometer.

Sobre o que esperam para o futuro do mercado, o mentor considera que existe uma crescente procura por espaços mais tecnológicos, sustentáveis, otimizados e inovadores, tais como co-working, co-living, residências de estudantes e seniores, espaços de retalho diferenciadores e novas formas de mobilidade. Um novo dinamismo que vai transformar o imobiliário.  

O imobiliário, a par de outros sectores, também terá que se posicionar não só, mas também como prestador de serviços com o objetivo de proporcionar uma experiência única de vivência.

Tecnologia vai acabar com muitos postos de trabalho

No entanto, têm de se preparar para as alterações inevitáveis. António admite que a tecnologia vai certamente acabar com muitos postos de trabalho mas “teremos que saber adaptar-nos à nova realidade e apostar nos serviços em que podemos acrescentar valor. A mediação imobiliária vai e já está a mudar. Por exemplo, utilizar a realidade virtual para facilitar a venda e arrendamento de imóveis. A realidade aumentada para capacitar os imóveis de uma gestão mais eficiente. O financiamento bancário vai-se transformar totalmente com as plataformas de crowd funding e outras formas de captar investimento através de proptechs e fintechs. A arquitetura vai melhorar e evoluir bastante facilitando todo o processo de estudos e engenharia com novas ferramentas tecnológicas”, conclui.

*Texto publicado na edição em papel  do Diário Imobiliário no Jornal Económico. Escrito com o novo Acordo Ortográfico